O Governo do Estado do Piauí, por meio da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Rural (SDR), promoveu, entre os dias 06 e 08 deste mês, um intercâmbio técnico em Petrolina (PE) para conhecer experiências exitosas na área da fruticultura desenvolvidas no Vale do São Francisco. O objetivo é trazer para o Piauí novidades no cultivo e tecnologias aplicadas nesse setor. A ação fez parte do programa Piauí Produtivo, executado pela SDR, que visa fortalecer ações para o desenvolvimento do meio rural no estado.
A equipe do intercâmbio foi composta por 20 pessoas, dentre profissionais da SDR, representantes da Ceapi, Codevasf, Emater, Senar-PI, Embrapa e ainda produtores de frutas e associação de irrigantes dos Platôs de Guadalupe e dos jovens produtores do Piauí. Foram visitadas fazendas produtoras de banana, goiaba, manga, uva e frutas orgânicas.
Como resultado do intercâmbio, a SDR vai realizar oficinas com a Câmara Setorial da Fruticultura elaborando um diagnóstico desta atividade em alguns territórios, onde este setor tem tido maiores avanços. Ao final dessas oficinas, será realizado um seminário para finalizar a elaboração do plano de fortalecimento da fruticultura.
A viagem foi conduzida pela diretora de Articulação Comunitária da SDR, Liz Elizabeth Meireles, que enfatizou a importância de visitar empreendimentos semelhantes aos existentes no Piauí. “Os técnicos da SDR tiveram cuidado em perguntar aos empresários como o Governo do Estado pode contribuir para alavancar essa atividade e como atrair investidores. Na ocasião, podemos ver o interesse dos empresários de Petrolina em vir ao Piauí para contribuir com o desenvolvimento do estado”, enfatizou Liz Elizabeth.
A primeira visita foi à fazenda Madre Terra, produtora de bananas e localizada no perímetro Nilo Coelho. Foi um momento de troca de informações entre a equipe do Piauí e a administração da empresa. A propriedade conta com 35 hectares de cultivo de bananas das espécies prata rio e prata catarina. A fazenda produz 56 toneladas de banana por ano. A Madre Terra utiliza cabos aéreos para transportar os cachos de banana após o corte, reduzindo mão de obra para transporte e ainda evitando danos às frutas. O local utiliza a fértil irrigação com sistema de microaspersão, puxando água do canal Nilo Coelho, construído em 1984 e que possui 976 quilômetros de extensão, com capacidade de abastecer 18.563 hectares.
No Piauí, existem alguns perímetros irrigados voltados para a produção de frutos, com destaque para os Platôs de Guadalupe, em Guadalupe; Tabuleiros Litorâneos, em Parnaíba, e no Vale do Gurguéia, implantados pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs). Outro importante perímetro irrigado é o projeto de irrigação Marrecas-Jenipapo, executado pela Codevasf e localizado no Assentamento Marrecas, na zona rural do município de São João do Piauí, a 500 quilômetros de Teresina.
Na cidade de Valença, localizada no território do Vale do Sambito, a produção de banana está em evidência. José Wagner Linhares, juiz de direito e empresário, participou do intercâmbio técnico. Ele possui uma propriedade de 75 hectares, em Valença, onde cultiva abacaxi, mamão, coco e maracujá, mas o foco é na produção de banana.
“Comercializamos nossos produtos na região de Valença, Elesbão Veloso, Aroazes, Inhuma, Ipiranga, Novo Oriente; na Ceapi, em Teresina, e nos estados do Maranhão e Belém. O intercâmbio foi muito proveitoso. Visitamos uma fazenda produtora de bananas que é modelo de organização e gerenciamento. Essa visita serviu de inspiração para que cheguemos a este padrão de excelência, enfatizando que a agricultura empresarial só é possível com a utilização de novas tecnologias e isto foi visto na fazenda Madre Terra. O Governo do Piauí apoia com subsídio de energia, mas temos o desafio de melhorar a prestação deste serviço”, afirmou Wagner Linhares.
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De acordo com relatório apresentado pelo técnico da Central de Abastecimento do Piauí (Ceapi), João Lima, a banana se mantém na lista dos produtos mais comercializados na central. No mês de julho deste ano, foram vendidas cerca de quatro toneladas de banana. Neste mesmo mês, as vendas em geral aumentaram 7%.
Produção de uva
O grupo conheceu também uma experiência exitosa de produção de uvas sem semente na fazenda Barro Branco, onde são produzidas as espécies midnight beauty, crimson, thompson e scarlotta. Atualmente, a empresa produz, a cada ano, 60 toneladas por hectare. A produção é comercializada para todas as regiões do Brasil e também na Inglaterra. A fazenda apresentou um projeto inovador com irrigação suspensa por gotejamento e o cultivo da uva consorciada com o criatório de ovinos, alimentados com capim aruana, de alto teor nutritivo, plantado nas covas onde são plantadas as uvas. Outra vantagem desse projeto é a economia hídrica, uma vez que a água que irriga o parreiral também molha o capim.
Getúlio Araújo Dias, assessor do Estado do Piauí, é piauiense e morou durante 35 anos no Vale do São Francisco, como grande conhecedor do setor de fruticultura de Petrolina e do Piauí, fez um comparativo entre a área visitada e os municípios de São João do Piauí, Conceição do Canindé e Canto do Buriti, que fazem parte do Semiárido piauiense.
“O Semiárido piauiense é tão capaz de produzir tanto quanto o Vale do São Francisco. O que falta para alavancar esta produção são pessoas com conhecimento e que tenham disposição de investir. Ser pioneiro nunca é fácil. Entretanto, não tenho dúvida de que vamos alcançar um resultado tão satisfatório quanto o conquistado em Petrolina”, enfatizou Getúlio Araújo, que também participou do intercâmbio.
O assentamento Marrecas, localizado em São João do Piauí, produz uva há sete anos. Tomás Raimundo Ribeiro é agricultor desse assentamento e teve oportunidade de conhecer novas técnicas de cultivo por meio do intercâmbio em Petrolina. “Estamos com uma boa safra que poderá ser vista no Festival da Uva, entre os dias 11 e 13 de novembro, em São João do Piauí. Esta atividade é promissora e já está atraindo novos investidores. A cidade tem condições favoráveis para o plantio dessa fruta como clima quente, solo profundo, abundância de água e ainda muita terra inexplorada. Esse intercâmbio foi muito importante, porque nos deu a oportunidade de conhecer novidades no cultivo da uva, que serão repassadas aos nossos produtores visando melhorar cada vez mais nossa produtividade”, ressaltou o agricultor do assentamento Marrecas.
Fruticultura orgânica
A última visita do intercâmbio foi realizada na Adega Bianchetti, a única da região a cultivar frutas orgânicas. A empresa é produtora de vinhos, espumantes, sucos elaborados com uva orgânica e caldo de cana engarrafado. “Eu não saio do orgânico. É mais fácil eu desistir da agricultura do que voltar a produzir usando agrotóxicos. Sei que estou desenvolvendo uma atividade saudável tanto para quem está trabalhando no plantio, como para quem está consumindo”, disse Izanete Bianchetti, proprietária da empresa de produtos orgânicos de Petrolina.
No Piauí, o perímetro irrigado Tabuleiros Litorâneos se destaca na produção de orgânicos, tendo 70% da produção livre de agrotóxicos, segundo dados de 2015 levantados pela Embrapa. Ainda de acordo com o documento, a área cultivada é de 400 hectares e tem como principal produto o cultivo de acerola. Vale ressaltar que, na zona rural de Teresina, 30 comunidades estão passando por um processo de transição do cultivo convencional para o orgânico onde cultivam frutas e hortaliças com assessoria de órgãos municipais, estaduais e federais.