A votação do impeachment acontecerá neste domingo (17), mas o empresariado não esperou para virar a página. As lideranças dos principais setores produtivos já trabalham nas propostas para entregar ao vice Michel Temer (PMDB), se ele realmente assumir a Presidência do país.
Representantes da indústria, da agricultura e do comércio querem emplacar medidas que vão contra o receituário adotado pela presidente Dilma Rousseff.
Estão na agenda: enterrar a ideia de recriar a CPMF e aumentar outros impostos, a flexibilização das leis trabalhistas e deixar de controlar o retorno das empresas que vencerem leilões de concessões de serviços públicos, entre outros pedidos.
Foto: José Cruz/Agência Brasil
A indústria quer que as negociações trabalhistas sejam feitas diretamente entre empresas e seus funcionários, e os empresários do agronegócio querem juntar o Ministério da Agricultura com o do Desenvolvimento Agrário.
Em um cenário mais abrangente, querem medidas de austeridade fiscal, que eles identificam como uma das principais falhas do governo da presidente Dilma.
Pedem redução do número de ministérios e dos gastos públicos com funcionalismo e racionalização no uso dos recursos destinados a programas sociais e de estímulo à economia.
As propostas ainda não estão prontas, mas vêm sendo discutidas informalmente com emissários de Temer. Entre eles estão os ex-ministros Moreira Franco e Eliseu Padilha. Também participa o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR).
Por enquanto, eles procuram entidades como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a Confederação Nacional do Comércio (CNC) e a Confederação Nacional dos Transportes (CNT), as federações da indústria de São Paulo (Fiesp) e do Rio (Firjan).
Nessa fase, a preocupação da equipe que rodeia Temer é evitar a vinculação direta com grandes empresários para não dar margem à interpretação de que seu governo trocaria a agenda social –marca do governo petista– pela do capital.
Publicamente, Temer já disse que não cortará programas sociais, como o Bolsa Família, mas vai revê-los.
"Com um cenário político estável, acreditamos que haverá uma retomada rápida da economia", disse Paulo Skaf, presidente da Fiesp.
"Temos de fazer um novo pacto social para reconstruir a economia", disse João Martins, presidente da CNA.
Pedidos
Agricultura
- Garantia de crédito para produção com taxas mais baixas
- Liberação de pelo menos R$ 750 milhões em recursos para o seguro agrícola
- Flexibilização da legislação trabalhista
- Fim de loteamento político na pasta
Indústria
- Evitar a valorização excessiva do real (queda do dólar)
- Aumento da terceirização
- Negociações trabalhistas serem feitas diretamente entre empresas e seus funcionários
- Enterrar a CPMF e qualquer outra medida que aumente impostos
Transportes
- Acelerar programa de concessões, começando pelas rodovias
- Revisão do modelo de privatização, acabando com o controle das taxas de retorno, e permitindo sistemas mistos de investimento público e privado no caso das ferrovias