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Sair do endividamento é saber mudar hábitos e maneira de pensar, diz educador

O educador financeiro e diretor artístico da Rede Globo, Fly Vagner, esteve em Teresina na última semana para ministrar palestras sobre gestão de finanças e como sair do endividamento. Em conversa com O Dia, ele afirmou que o brasileiro não é endividado por culpa própria, mas sim porque é bombardeado o tempo todo com o consumismo, quando não está preparado para consumir. Segundo Fly, sair do vermelho é muito mais que saber investir e fazer o dinheiro render: é uma questão de mudar os hábitos e a maneira de pensar.

“Quando você coloca esse ideal do consumismo em cima de pessoas que não estão preparadas para ele, elas consomem sem limite. O maior problema do brasileiro, quando se fala em dinheiro, é justamente o lado emocional, além da falta de educação financeira. Eu costumo comparar a educação financeira com a prática de exercícios: você não malha só pra ficar bonito, mas para ter saúde. Com as finanças é do mesmo jeito: você não economiza só para poder comprar mais, mas para manter um equilíbrio nas suas finanças”, explicou Fly, acrescentando que as pessoas precisam aprender a identificar os gastos excedentes do orçamento e corta-los.

Foto: ODIA

O educador financeiro considera o empréstimo consignado como “o maior câncer do brasileiro no momento”, isto porque, de acordo com ele, esta modalidade de empréstimo cria uma falsa impressão de vantagens, quando, na verdade, ele vai acabar comprometendo boa parte do orçamento de quem o contrata, quando do pagamento das taxas. “O brasileiro acha que a taxa de juros de 2% do consignado é baixa, mas ela não é. São quase 24% ao ano, se você parar para pensar. O que falta mesmo é planejamento”, afirma.

Com a aproximação do final do ano, as pessoas tendem a consumir mais. No entanto, esse aumento das compras e vendas característico do período natalino e impulsionado, sobretudo, pelo pagamento do 13º Salário, pode significar mais endividamento, caso não haja um controle das finanças. Geralmente o brasileiro dá dois destinos à gratificação recebida: ou usam para pagas as dívidas ou gastam com presentes e lazer.

Economizar é a melhor opção

No entendimento de Fly, estas duas opções podem estar equivocadas e significar mais endividamento. O ideal, segundo o educador financeiro, é guardar o dinheiro do 13º, pensando no trimestre seguinte (janeiro, fevereiro e março), que é quando o brasileiro geralmente paga os primeiros impostos do ano. “Se você consumir tudo em dezembro, você vai ser obrigado a pegar dinheiro caro [empréstimo] para pagar instituições que você é obrigado a pagar”, explica.

O educador financeiro reiterou que o que o brasileiro precisa aprender a fazer é identificar exatamente a quem ele deve e conhecer seu poder de barganha e de negociação, para ter condições chegar a um acordo. Fly cita como exemplo uma dívida com banco, na qual a instituição financeira oferece condições de pagamento que, na maioria das vezes, não se encaixam nas condições do devedor, mas que a pessoa acaba aceitando, guiado pela desinformação e pela ânsia em quitar a dívida.

“Todo mundo sabe o que tem que fazer, mas ninguém faz. O brasileiro, ele se engana e depois reclama que está endividado. Se você sabe que não tem, então não compre, não faça gastos para pagar depois e, se fizer, procure se informar sobre quem você vai dever, porque como que você vai negociar com uma instituição financeira se você não conhece seus direitos e a forma como ela opera? Você tem que ter em mente que quando for entrar em um acordo, não vai ser do jeito que você pode, mas do jeito que o banco quer, então se planeje e se eduque financeiramente para poder usar seu dinheiro com consciência”, finaliza Fly.

Veja o que fazer com o 13º salário

O prazo para pagamento da primeira parcela do 13º salário termina nesta sexta-feira (30). Já a segunda parcela precisa ser depositada até o dia 20 de dezembro. Esse dinheiro extra coincide com o aumento de gastos típicos de final de ano, como troca de presentes, ceia de Natal e viagens. Mas é preciso considerar também as despesas previstas para o início de 2019, além de olhar para a vida financeira e usar essa renda extra de forma consciente, respeitando o padrão de vida da família.

É importante entender que o 13º salário foi criado para ser uma gratificação de fim de ano, algo a ser recebido pela população como um presente. Hoje, muitos contam com ele para pagar as dívidas que já têm ou para começar novas, uma evidência de que gastam mais do que a sua renda permite.

Fazer as compras de fim de ano

Muitas pessoas vão utilizar o 13º salário para fazer as compras de final de ano, o que não é errado, desde que isso já tenha sido programado. Uma maneira de fazer isso é escolher uma época do ano (geralmente o início). Se puder inserir as despesas com a ceia de Natal e os presentes já no orçamento financeiro mensal e poupar o 13º inteiramente para os sonhos, melhor ainda.

Quitar as dívidas

Para aqueles que estão endividados e veem esse dinheiro extra como a solução dos problemas, saiba que ele não é. O ideal é que os compromissos financeiros caibam no orçamento financeiro mensal.

Antes de sair pagando as dívidas, analise todas elas, saiba o total, os juros, os prazos, enfim, reúna todas as informações possíveis. A partir daí, tente renegociar esses valores com o credor e então veja a possibilidade de usar o 13º para quitar uma dívida e resolver o problema.

Poupar e investir

Há pessoas que estão em uma “zona de conforto”, ou seja, não devem, mas também não poupam. A esses, faço um alerta para que ajam com consciência, pois um passo em falso pode levá-los ao endividamento e até à inadimplência, uma vez que não possuem reserva financeira para se apoiar.

É claro que cada pessoa usa o 13º salário como bem entender e julgar coerente, no entanto, já que não possui dívidas, é importante que se guarde boa parte dele, para começar a formar essa reserva e também para realizar mais sonhos, de agora em diante.

Para os investidores, mesmo que iniciantes, a melhor opção para utilizar o 13º é continuar investindo, tendo sempre um objetivo, seja ele qual for. A conclusão que podemos tirar é que dinheiro extra é muito positivo quando utilizado com educação financeira