Desde o último dia 05 de março, a
macrorregião de Picos, a 309 quilômetros de Teresina, tem registrado um dado
doloroso e, ao mesmo preocupante: o aumento nos casos de suicídio entre jovens.
Em 15 dias, teriam sido cinco casos, três deles teriam acontecido nas últimas
24 horas. Em pelo menos três casos, os jovens deixaram mensagens aos familiares
e amigos por meio de carta e publicações nas redes sociais, relatando questões
como a frustração com a vida.
Para o psicólogo Carlos Aragão, especialista em prevenção ao suicídio, os jovens desta geração não estão sendo preparados para os momentos de decepção e dificuldade na vida e isso contribui diretamente para levá-los ao extremo de atentar contra a própria vida. “Muitos jovens não têm uma capacidade de enfrentamento das adversidades e o escape acaba se tornando o suicídio. É preciso que pais e escolas, que são os mais influentes na vida destas pessoas ainda em formação de identidade, trabalhem o desenvolvimento de habilidades emocionais e sociais para que elas consigam suportar as frustrações. Tem que se desenvolver um repertório interno para lidar com isso”, pontua o psicólogo.
Um dos fatores que deve ser trabalhado nessa relação entre pais e estes jovens, segundo o especialista, é a superproteção. Para o doutor Carlos Aragão, esse sentimento superprotetor acaba por se tornar um desserviço, a partir do momento em que cria uma falsa ilusão de que se está poupando o filho do sofrimento do mundo. De acordo com psicólogo, esse é o tipo de atitude que vai refletir negativamente na vida adulta da criança ou do adolescente. Aragão explica que é preciso ensinar os meninos e meninas desta geração a tomarem decisões e se prepararem para as consequências delas.
Questionado a respeito de como a sociedade e o poder público têm tratado a questão do suicídio, o psicólogo destaca que, não só Teresina, mas o Piauí e o Brasil como um todo ainda não conseguem mostrar capacidade de lidar com o assunto. Aragão pontua que é preciso entender o tamanho do fenômeno e colocar em ações políticas públicas que cheguem a toda a sociedade. “No Brasil ainda não temos políticas sendo realizadas de modo que possamos dizer que daqui a um tempo elas terão efeito. Temos projetos de prevenção ao suicídio que, na maioria das vezes, são engavetados, porque as ações ainda são muito lentas”, destaca.
Ele cita como uma ação positiva neste sentido o Provida, desenvolvido em Teresina e que se trata de um serviço ambulatorial para pessoas com comportamento suicida no Hospital Lineu Araújo. Aragão acredita que o Provida é uma ação que pode trazer resultados positivos na prevenção ao suicídio na Capital e que pode servir como exemplo para que outras regiões do Piauí e do Brasil enxerguem o problema com a devida importância.
“Eu não vou dizer que essas atividades e campanhas vão trazer um efeito imediato, até porque isso é um trabalho que deve ser construído em conjunto com a sociedade e de forma gradativa, não de uma hora para a outra. Mas já é um grande passo. O ideal mesmo seria termos um Provida em cada zona de Teresina no sentido de trabalhar com os profissionais mais diretamente na sociedade”, afirma.