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Ciclistas reinventam o uso da bicicleta no período da pandemia

Nesta quarta-feira (19), é comemorado o Dia Nacional do Ciclista. Em Teresina, a bicicleta é usada não apenas como meio de transporte ou lazer, mas também passou a ser usada como meio para o sustento de diversas famílias. Devido ao aumento na demanda por entregas via delivery, vários trabalhadores precisaram optar pelo uso da bicicleta para gerar renda e conseguirem se manter.


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É o caso de Raimundo Costa. O entregador relata que, após ficar desempregado, optou pelo uso da bicicleta para trabalhar de forma autônoma, por meio do serviço de entregas por aplicativo. “Infelizmente essa pandemia fez com que muita gente perdesse o emprego. Minha esposa me sugeriu trabalhar com delivery para continuar ganhando dinheiro, mas como eu não tinha moto, a única saída foi usar a bicicleta, que além de econômica, não me gera custos extras”, relata.

Bicicleta virou meio de renda para muitos teresinenses. Foto: Assis Fernandes/O Dia

Já o administrador Wallysson Leite, utiliza a bicicleta quatro vezes por semana para a prática de esportes. Segundo o ciclista, nem mesmo o período de isolamento social conseguiu diminuir a paixão pelo esporte. Wallysson Leite relata que a redução do número de veículos nas ruas trouxe mais segurança para os praticantes do ciclismo, e, apesar disso, foi preciso se reinventar para conseguir pedalar sem correr risco de contaminação pelo novo coronavírus.

Wallysson Leite optou pelo ciclismo para continuar praticando esportes durante a pandemia. (Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal)

“Nesse período, o ciclismo me proporcionou conhecer lugares de Teresina com toda a segurança. Sempre que saio uso máscara e respeito o distanciamento entre cada ciclista. Isso me fez sair da monotonia de ficar todos os dias dentro de casa”, explica.

Assim como Wallysson Leite, o também administrador Lima Neto é praticante do ciclismo há dois anos. Segundo ele, a prática iniciou após sofrer uma lesão no joelho e precisar passar por cirurgia. "Depois da cirurgia, a recuperação do joelho passava por fortalecimento, inclusive de bicicleta. Foi quando comprei uma bike nova e voltei a pedalar com mais gosto. De 2018 para cá, nunca mais parei", conta.

O administrador revela que pedala cerca de duas horas por dia, de segunda às sextas-feiras. Segundo ele, a prática do esporte se intensificou no período da pandemia, porque é um esporte que não precisa de aglomeração, não requer contato e o ciclista consegue permanecer em movimento.  "Acho que o ciclismo é um dos esporte mais seguros nessa época de isolamento, porque é um esporte que muitas vezes te conecta bastante com a natureza e com locais que você não costuma conhecer", afirma.

Lima Neto pratica ciclismo duas horas por dia, das segundas às sextas-feiras. (Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal)

Bicicleta é a alternativa para evitar aglomerações

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), é recomendado o uso da bicicleta durante o período de pandemia do novo coronavírus, uma vez que a utilização desse meio de transporte evita aglomerações como as que acontecem no transporte público.

Segundo a Prefeitura de Teresina, a Capital possui cerca de 60 km de malha cicloviária, entre ciclovias e ciclofaixas, destinada para esse tipo de transporte.

O número mostra um aumento expressivo na extensão da estrutura urbana destinada aos ciclistas, já que em 2018, devido à instalação dos terminais de passageiros do novo sistema de transporte coletivo de Teresina, o Inthegra, houve uma redução de em média 10 km da estrutura cicloviária, que na época era de 40 km no total.

Apesar disso, Wallysson Leite destaca que a quantidade de ciclovias e ciclofaixas ainda não é suficiente para garantir a segurança dos ciclistas. “Falta muita estrutura e as que temos não dão 100% de segurança. Já tive amigos que sofreram acidentes por conta de veículos adentrarem às ciclovias”, relata.

Uso de bicicleta evita aglomerações em transportes públicos. (Foto: Jailson Soares/O Dia)

De acordo com a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo), o momento agora é de intensificar ações e encorajar as pessoas a optarem por esse meio de locomoção.

Entre as sugestões da Associação estão a destinação das faixas à direita das vias públicas para a circulação prioritária de bicicletas em relação aos demais veículos e o estímulo à instalação e ao funcionamento de bicicletários em estabelecimentos comerciais, de ensino e serviços públicos em geral.

 Mais fiscalização e menor velocidade

“Não basta só fazer ciclovias, precisamos de uma série de ações para incrementar a ciclomobilidade e mostrar os benefícios proporcionados pelo uso da bicicleta”. O alerta é da presidente da União dos Ciclistas do Brasil – UCB, Ana Luiza Carboni.  Recentemente, a entidade lançou a campanha “Bicicleta para Futuros Possíveis” para buscar e sugerir, junto às gestões públicas, melhorias nas condições de uso da bicicleta como modo de mobilidade e transporte durante e após a pandemia.

Ana Luiza defende a ampliação da fiscalização e sinalização nas vias públicas, além da redução da velocidade para garantir a segurança do ciclista. “Já foi comprovado que, com o limite de velocidade menor, o trânsito flui mais facilmente”, justifica. Outra medida necessária é a realização de campanhas educativas e de sensibilização para falar sobre os benefícios de pedalar, tanto no que se refere à saúde como na melhor qualidade do ar.

A presidente da UCB destaca ainda que é preciso planejar e executar obras de mobilidade fora dos grandes centros e planejar a integração com outros modais de transporte. “O uso da bicicleta é muito grande na periferia e no interior. Quem mora em locais afastados dos grandes centros não conta com ciclofaixas, ciclovias nem vias compartilhadas e estacionamento”, esclarece.

Perfil do ciclista

Mas, afinal, quem é o ciclista brasileiro? De acordo com o estudo “Perfil do Ciclista”, publicado pela ONG Transporte Ativo e cuja edição mais recente é de 2018, ele pedala cinco ou mais dias por semana (82,5%), usa a bicicleta como meio de transporte há mais de cinco anos (59%), está na faixa etária entre 25 e 34 anos (25,7%) e tem renda mensal entre um a dois salários mínimos (40,3%). A pesquisa ouviu cerca de 7,6 mil ciclistas de 25 cidades das diferentes regiões brasileiras, além da Argentina e Colômbia.

Ainda segundo esse estudo, 18,2% das pessoas entrevistadas utilizam a bicicleta com outro modal de transporte e para 55% dos pesquisados o tempo de viagem (pedal) varia de 10 a 30 minutos. As três principais motivações para os brasileiros adotarem a bicicleta como meio de transporte são estas: rapidez e praticidade (38,4%), saúde (25,8%) e custo (22,1%). Já os principais problemas enfrentados no dia a dia pelos ciclistas nacionais são as faltas de segurança no trânsito (40,8%) e de infraestrutura (37,9%).

Pandemia impulsiona novos negócios

É certo que o aumento de ciclistas nas ruas tem gerado um crescimento constante do mercado de bicicletas, peças e acessórios em praticamente todas as regiões do Brasil. O fato novo, no entanto, é que a pandemia da covid-19 deu uma enorme alavancada nesse mercado. Entre as associadas da Abraciclo, que atendem a mais de 40% do mercado nacional, há empresas que estimam crescimento da receita na ordem de 15% a 20% em função da elevação da demanda durante a pandemia. 

Segundo levantamento preliminar da entidade, foi verificado, por exemplo, crescimento de até 40% nos negócios realizados com bike shops (empresas de pequeno porte especializadas em venda, manutenção e reparos de bicicletas) no acumulado de janeiro a julho do presente ano, em comparação com igual período de 2019. Este segmento mercadológico reúne cerca de dois mil estabelecimentos espalhados pelo País.