A cada ano, cerca de 100 crianças morrem em decorrência de câncer no Piauí sem sequer iniciar o tratamento contra a doença. A informação é resultado de um levantamento feito pela Sociedade Brasileira de Pediatria considerando registros hospitalares de todos os estados brasileiros. Para a Rede Feminina Estadual de Combate ao Câncer, os dados revelam um cenário alarmante da doença no estado.
“Essa é uma estatística pelo conjunto populacional, talvez o número seja ainda maior, porque a pesquisa é feita pelos registros hospitalares, mas será que todos os hospitais estão fazendo o registro hospitalar correto? Será que todos os casos estão sendo registrados como câncer? A possibilidade é para mais e não para menos. O cenário é alarmante”, destaca Carmem Campelo, presidente da Rede Feminina no Piauí.
Foto: Assis Fernandes/O Dia
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), são estimados mais de oito mil casos de câncer infanto-juvenil no Brasil, no triênio de 2020-2022. Se diagnosticados precocemente e submetidos a tratamentos em centros especializados, cerca de 80% das crianças e adolescentes com câncer podem ser curados. De acordo com a SBP, entre os tipos de câncer mais comuns nessa população estão as leucemias, os tumores do sistema nervoso central e os linfomas.
“A nossa preocupação com o câncer infanto-juvenil é porque é um câncer agressivo. Vamos supor que, em uma pessoa adulta, o câncer vai ter uma maturação em 60 dias. Em uma criança, vai ser em 30 dias. Se essa criança não iniciar o tratamento, o câncer vai ficar agressivo e às vezes não tem chance de cura. Os pais devem ficar atentos aos sinais, como por exemplo, manchas brancas nos olhos ao tirar uma fotografia, manchas roxas persistentes, febre persistente, entre outros sintomas”, diz a presidente da Rede Feminina.
Foto: Assis Fernandes/O Dia
Já na população adulta, o câncer de mama e o câncer de colo de útero continuam sendo os tipos mais comuns entre mulheres no Piauí. Entre homens, os mais comuns são os de próstata, estômago e intestino. Entre os fatores de risco estão: obesidade, sedentarismo e a alimentação desbalanceada com consumo de produtos industrializados e artificias.
“O paciente deve fazer sempre os exames de rotina, porque, às vezes, um exame de sangue já mostra uma alteração que requer mais aprofundamento, uma investigação maior. Também é importante fazer o exame de próstata em homens com idade acima de 40 anos. Já as mulheres devem procurar o ginecologista para fazer mamografia e exames clínicos”, destaca a presidente da Rede Feminina.
Os caminhos do paciente oncológico e a importância do diagnóstico precoce
Para chamar a atenção para a importância do diagnóstico precoce, a Rede Feminina realiza hoje, 08 de abril, a campanha “Preciso Viver”, em alusão ao Dia Mundial de Combate ao Câncer. Segundo a presidente da Rede Feminina no Piauí, Carmem Campelo, a campanha tem como objetivo debater os caminhos percorridos pelos pacientes oncológicos, desde os primeiros sintomas até o tratamento da doença.
Atualmente, um paciente oncológico precisa passar por, em média, 12 especialistas até conseguir ser diagnosticado com câncer. Para a Rede, a demora acontece por falta de conhecimento médico especializado ou de experiência necessária em detectar ou suspeitar de um possível câncer. O resultado disso é um diagnóstico tardio, com a doença em estágio avançado e sem possibilidade de cura.
“Nas cidades do interior, o paciente procura o médico e, às vezes, esse médico não tem o conhecimento apropriado. O paciente apresenta uma inflamação na garganta e o médico passa um anti-inflamatório, e mesmo com o paciente voltando outras vezes com o mesmo sintoma, só na terceira ou quarta vez que esse médico resolve fazer um exame mais apurado”, revela Carmem Campelo.
A informação é o principal aliado dos profissionais da saúde para possibilitar um diagnóstico precoce. Pensando nisso, a Rede Feminina, em parcerias com órgãos de Saúde a nível estadual e municipal, irá realizar um curso de diagnóstico precoce de câncer voltado para médicos pediatras. Além disso, ainda neste semestre, será realizado treinamento com profissionais das Unidades Básicas de Saúde (UBS) sobre os principais sintomas do câncer infanto-juvenil.
Foto: Assis Fernandes/O Dia
“Pretendemos replicar esse mesmo modelo para o Piauí inteiro, porque os caminhos percorridos por esse paciente até o diagnóstico são afetados pela falta de informação, já que a disciplina de oncologia passou a ser obrigatória nas faculdades de medicina há pouco tempo”, afirma.
Mesmo após o diagnóstico, os pacientes também enfrentam problemas para conseguir fazer o tratamento pelo SUS. A espera, segundo a Rede Feminina, é de cerca de cinco a seis meses. Além disso, muitos pacientes, ao serem diagnosticados com câncer, não possuem as ferramentas adequadas para acompanhar o processo de tratamento.
“O próprio paciente não sabe quantos pacientes tem na frente dele. A nossa função é intermediar os direitos do paciente, ser um instrumento para que o poder público consiga, nessas pequenas coisas, melhorar o atendimento. São coisas que não tem um grande impacto financeiro, é uma questão de vontade e organização”, acrescenta.
Com doações em baixa, Rede Feminina de Combate ao Câncer enfrenta problemas para continuar ações
A Rede Feminina Estadual de Combate ao Câncer do Piauí é uma entidade filantrópica que tem como objetivo a luta social no combate ao câncer. Ao todo, 4.803 pacientes são assistidos diariamente pela entidade. Entre as ações desenvolvidas pela Rede estão as doações de leite, cestas básicas, remédios e exames não são subsidiados pelo SUS, além de transporte e da Casa de Maria, uma casa de apoio para crianças e jovens adultos, com idades de 0 a 23 anos, que estão fazendo tratamento contra o câncer.
Desde o início da pandemia, a Rede Feminina está tendo dificuldades na arrecadação de doações para manter os trabalhos filantrópicos e continuar atendendo os pacientes com câncer. “Só não podemos cortar exames e remédios, mas estamos cortando outros custos, porque não estamos conseguindo arrecadar suficiente para cobrir todos os nossos custos”, lamenta a presidente Carmem Campelo.
Para contribuir, os interessados podem acessar o site da Rede ou o instagram @redefeminina.pi, ou doar diretamente pelas contas:
Caixa Econômica Federal
Conta Poupança: 7935-6 - Agência: 0641 - Operação: 013
CNPJ: 12.175.857/0001-21
Banco do Brasil
Conta Corrente: 42396-3 - Agência: 4249-8
CNPJ: 12.175.857/0001-21