Somente nos últimos
10 anos, a quantidade de
carros em Teresina quase
que triplicou, com 140%
de aumento. Como consequência,
o setor de lavagem
de veículos também cresce
na Capital, enquanto o
meio ambiente sofre os
impactos na disposição dos
recursos hídricos, principalmente
no Nordeste.
Com quase metade da
frota de veículos de todo
o Piauí (44%), segundo o
Departamento Estadual
de Trânsito (Detran/PI),
Teresina possui, atualmente,
mais de 360 mil
veículos, somando os
carros mais de 160 mil
unidades. A lavagem
desses veículos com o uso
de água tratada pode levar
a sérios impactos ambientais.
Segundo a Organização
das Nações Unidas
(ONU), cada ser humano
consome, em média, 110
litros de água por dia
para, além de beber, suprir
necessidades básicas como
higiene pessoal e limpeza
de roupas. Já a lavagem
de um carro gasta, em
média, 300 litros.
José de Oliveira é
gerente de um posto de
lavagem na zona Sul de
Teresina. Ele conta que
faz uso da água distribuída
pela Agespisa para
dispor os serviços no seu
recinto e que, mesmo com
o crescimento da frota de
carros, não é um ramo
muito lucrativo. “Quem
trabalha com isso precisa
ficar atento ao desperdício,
até porque as
contas de água e luz estão
caras. A partir do próximo
ano, quero investir mais
na parte de polimento e
cristalização de veículos
porque é mais lucrativa,
demanda menos funcionários,
máquinas e recursos
hídricos”, afirma.
Já Francisco das Chagas
Filho abriu recentemente
um negócio de lavagem
de carros. Ele conta que
teve o cuidado de investir
em equipamentos que
fazem o uso responsável
da água. “A máquina que
usamos para a lavagem
dos carros ejeta mais
vapor que água no estado
líquido, isso contribui
para o não desperdício.
Além disso, usamos um
balde com água e sabão
para limpar o veículo e
não uma mangueira. Os
clientes reparam nisso,
a empresa que não cuida
do meio ambiente não
passa confiança”, argumenta.
Ainda segundo
Francisco, a lavagem ecológica
reduz o gasto de
água em até 60%.
Órgãos municipais e estaduais
não fiscalizam atividade
A utilização sustentável
da água depende
unicamente da conscientização
de cada empresário
de lava-jato para
o uso responsável da
água, pois, no Piauí, não
existem instrumentos
que possam fiscalizar
esse desperdício.
Na capital de São
Paulo, por exemplo, uma
lei municipal foi sancionada
em abril desse ano,
em meio à crise de abastecimento
hídrico que os
estados do Sul e Sudeste
viveram. A legislação
obriga que os lava-jatos
tenham um sistema de
reutilização da água
usada na lavagem dos
carros.
O órgão responsável
pela distribuição da
água tratada no Piauí
é a Agespisa (Águas e
Esgotos do Piauí S.A.);
porém, segundo o órgão,
não cabe a ele esse tipo
de fiscalização. A Agespisa
informa que não
pode, por exemplo,
cortar o fornecimento de
água, nem interromper,
apenas orientar os proprietários
de postos e
lava-jatos, bem como
toda a população, na
questão da economia
e uso responsável da
água.
Quanto à utilização
da água por meio de
poços tubulares, o fiscal
da Secretaria Estadual
de Meio Ambiente
e Recursos Hídricos
(Semar), Daniel Marçal,
afirma que a captação
de águas subterrâneas
no Piauí depende da
autorização da Semar e
os interessados devem
apresentar uma documentação
para solicitá-
la. “Muitos donos de
lava-rápido usam poços
tubulares nas suas
empresas. O que existe
na verdade é esse tipo
de fiscalização. Quem
pretende perfurar um
poço, por exemplo, precisa
dessa licença junto
à Semar e uma outorga.
O órgão estuda e analisa
a região antes de perfurar”,
explica.
Daniel ainda esclarece
que, além da outorga
concedida, a Semar fiscaliza
a quantidade de
água retirada do aquífero.
“Só é permitida a
utilização de até 50%
da água que o aquífero
pode oferecer, porque
pode reduzir a recarga
e esgotar a fonte futuramente.
Já aplicamos
multas de até R$ 30 mil
em casos como esse. A
rede de abastecimento
da Agespisa já consegue
alcançar quase todo o
perímetro urbano da
cidade, portanto não se
indica a perfuração de
poços, essa deve ser uma
medida complementar”,
reitera.
Foto: Elias Fontenele/ODIA