A média móvel de óbitos decorrentes da covid-19 no Piauí aumentou 102% comparando-se a primeira onda da pandemia com a segunda onda. O pico dessa média de mortes na primeira onda, em 2020, aconteceu no dia 08 de julho, quando o Estado registrou taxa de 25,714 óbitos em média. O pico, até agora, na média móvel de óbitos na segunda onda, em 2021, ocorreu em 25 de março, com 54 mortes em média.
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As informações foram confirmadas pelo professor Emídio Matos, doutor em Ciências Biomédicas pela Universidade de São Paulo e membro do Núcleo de Estudos em Saúde Pública da UFPI. De acordo com ele, esse aumento na média móvel de óbitos no Piauí está intimamente ligado com a alta transmissibilidade da doença.
A pedido do Portalodia.com, o professor Emídio analisou os dados disponibilizados pelo Governo do Estado a respeito da pandemia e constatou que a média móvel de casos no Piauí também subiu expressivamente. Em 2020, o pico da primeira onda na quantidade de casos de covid-19 aconteceu em 23 de julho com média móvel de 1.041,714 casos. O pico, até agora, da segunda onda (em 2021) ocorreu em 31 de março, com uma média móvel de 1.353.143 casos. O aumento é de 30%.
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As variantes do coronavírus, a taxa de ocupação dos hospitais e a lentidão da vacinação são alguns dos fatores que possivelmente expliquem a situação. O vírus não sobrevive só, ele precisa de um hospedeiro e dentro dele, ele tenta fugir do sistema imunológico se modificando e fazendo suas próprias variações genéticas. Quanto mais pessoas infectadas, maior a chance de se ter variações.
A frequência das principais linhagens do SARS-CoV-2 gerada pela Rede Genômica Fiocruz mostra que, no Brasil, a variante P1 é que se dissemina com maior velocidade. A variante P2 aparecia como a segunda com a maior disseminação, tenso atingido seu pico em janeiro de 2021 e, a partir de então, decaído. Além destas, também aparecem no gráfico as linhagens B.1, B.1.1, B.1.1.28, B.1.1.33 e B.1.1.7. No dia 27 de abril, a Sesapi confirmou a circulação de três variantes do coronavírus no Piauí: a P1, P2 e a N9. 13 pessoas no estado já haviam sido contaminadas por estas linhagens de coronavírus.
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“Nós não fizemos medidas restritivas, relaxamos nas poucas que fizemos e que não foram nem perto de um lockdown. Isso deu chance para variações. As variantes possivelmente estão levando à maior letalidade. Os estudos até agora mostram que elas levam a uma maior transmissibilidade, mas os dados indicam que tem maior letalidade também. A gente tem que somar isso à falta de leitos hospitalares para atender às pessoas”, diz.
Foi no dia 02 de março que o Piauí passou a ter uma fila de espera por leitos de UTI. Isso, na prática, significa que as pessoas preenchiam os critérios para ir para a terapia intensiva, mas o sistema de saúde não tinha como comportá-los. Em 10 de março, cerca de uma semana depois, essa lista de espera por leitos no Piauí chegou a ter cerca de 100 pacientes. Os estudiosos dizem que ainda não há como precisar o quanto isso impactou nos óbitos, porque não foram divulgados quantos morreram aguardando por vaga.
Número de óbitos estabilizou em uma taxa muito alta
Do ponto de vista numérico, o pico da segunda onde de covid-19 no Piauí começou a ceder e o estado atingiu a estabilidade nos óbitos. Essa estabilidade foi apresentada como justificativa pelo poder público para começar a flexibilizar as medidas de restrição adotadas ao final de março e durante todo o mês de abril. Só que do ponto de vista numérico, essa estabilização dos óbitos ocorreu em uma taxa muito alta. No momento, o Piauí registra uma média de 25 óbitos por dia. Paralelamente a isso, o número de casos confirmados continua em um patamar elevado e isso pode resultar no aumento da taxa de letalidade mais na frente.
“Isso não ´é normal. Nós não podemos normalizar 25 pessoas morrendo em um dia de uma doença que tem vacina. Cabe a cada um de nós, mas cabe também aos gestores atuarem para que essa situação se reverta. Eu fico pensando qual a função da existência do Estado, que está deixando sua população morrer para uma doença que já tem vacina”, questiona o professor Emídio Matos.