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Os 40 anos de Niède no Piauí mostrados no cinema

Nesta semana foi exibido pela primeira vez no Piauí o documentário NIÈDE . A produção audiovisual, resultado de uma coprodução entre as produtoras B&T Audiovisual, do Piauí, e Lente Viva Filmes, de São Paulo, conta a história da arqueóloga brasileira Niède Guidon.

A arqueóloga Niède Guidon 

O filme foi apresentado durante a programação do aniversário de 40 anos do Parque Nacional da Serra da Capivara. Niéde Guidon, em 1970, deixou Paris, onde lecionava na École des Hautes Études em Sciences Sociales, para imergir na caatinga do sudeste do Piauí.

O objetivo era revelar ao mundo as milhares de pinturas rupestres espalhadas pela região e lutar pela criação do Parque Nacional da Serra da Capivara, Patrimônio Cultural da Humanidade (Unesco) e um verdadeiro museu a céu aberto. 


Foto: Assis Fernandes/O Dia

Ao longo de 135 minutos, o espectador mergulha na vida de Niède. Referência local, a presença dela, hoje com 86 anos, impactou, e ainda impacta, a vida das pessoas região. 

Como pontuam historiadores locais, Niède inaugurou um novo ciclo na Serra da Capivara, até então esquecida por muitos, que já dura mais de 40 anos. 

O filme tem a direção assinada por Tiago Tambelli, que esteve em Teresina e conversou com O DIA para a entrevista a seguir. 

Ele estudou cinematografia na Escola Internacional de Cinema e TV, de Cuba e, em 2013, recebeu o prêmio de “Melhor Autor em Cinema” pelo filme “das Almas”, no Baikal International Film Festival, Rússia. Nesse mesmo ano, ganhou o prêmio “Coup de Couer” no Festival Sunny Side of The Doc com o projeto “Muito Além do Nosso Eu – A História do Projeto Walk Again”. 

Como você chegou até a história da Niède? Já conhecia sua relação com o Parque da Serra da Capivara?

 Eu devo isso ao meu pai que 1999 veio de carro de São Paulo para cá e voltou cheio de histórias para contar. Em 2002 eu repeti essa viagem, vindo de carro de São Paulo, e conheci essa história e também o parque. Desde então sempre mantive esse desejo, esse sonho de fazer esse filme. Mas demorou porque nesse período eu realizei outros filmes, tenho uma carreira também como diretor de fotografia e atuei em outros filmes como fotógrafo. A oportunidade apareceu quando eu voltei no Piauí, em 2017, quando conhecia a B&T, uma produtora audiovisual daqui de Teresina, e apresentei para eles a história e o meu desejo de fazer um filme sobre a Niède e o parque. Isso reverberou no estado a gente conseguiu o apoio do Governo e o apoio da Secretaria de Cultura, naquele momento dirigida pelo deputado Fábio Novo.

Então o processo de produção foi todo feito em conjunto com a produtora local? 

O filme é uma produção da B&T audiovisual e a minha produtora, que tem uma sede em São Paulo. É um filme feito em coprodução, com uma produção regional, entre uma produtora de São Paulo e a produtora do Piauí. Eu tinha como objetivo, naquele momento que idealizei, que esse filme fosse produzido por uma empresa audiovisual do Estado do Piauí, justamente para promover o intercambio cultural relacionado ao cinema. Então eu trouxe a minha experiência e juntei com a experiência local e montamos uma produção cinematográfica mostrando que é possível sim fazer cinema no Piauí, cinema com qualidade, cinema que pode alcançar todos os territórios. 

Como foi dividido o processo de produção? Quanto tempo vocês precisaram passar na região para realizar as filmagens? 

A gente fez uma primeira viagem de pesquisa de uma semana para poder escrever o projeto e a proposta. Depois de financiada, a gente fez uma pesquisa mais profunda de três meses, já conectados a um processo de pré-produção, onde foi feita a preparação das filmagens. As filmagens foram divididas em três etapas. A primeira de três semanas com uma equipe mais completa, depois uma segunda etapa como equipe reduzida, para filmar a época das chuvas, e por fim terminando com uma outra etapa de três semanas para finalizar as imagens. Foram um total de oito semanas de filmagens e uma dedicação profunda. Esse filme não poderia ser gravado de maneira superficial, sem a dedicação de um tempo considerável para as filmagens, juntamente por precisava abarcar esses 40 anos de trabalho da Niède e conseguir absorver as belezas naturais, podendo filmar isso com o cuidado que se exige o cinema. 

Quais os frutos dessa imersão? 

Eu acho que o ponto principal de descoberta é de que esse filme precisaria unir o conhecimento popular, que Niède sabe muito bem valorizar, que é o conhecimento dos mateiros, das mulheres, o conhecimento dos jovens locais, dos trabalhadores que ajudaram a construir a sua história, juntamente com o conhecimento científico. Essa não é uma descoberta específica, mas é uma descoberta estética onde você tem que saber valorizar os saberes tanto aqueles valores dados e construídos na academia com aqueles que são envolvidos na própria vida popular entre os habitantes da região da Serra da capivara. E acho que como descoberta específica a gente teve os materiais que expressam e documentam as primeiras expedições da Niède, que é de um valor imensurável para o filme porque a gente consegue ilustrar com imagens de época o que foram as primeiras expedições e quais os os desafios que Niède enfrentou. 


A íntegra da entrevista você confere na edição deste fim de semana do Jornal O DIA.