Dados divulgados recentemente pelo
Anuário Brasileiro de Segurança Pública apontam que, em mesmo à pandemia da
Covd-19, o Piauí teve quarto maior aumento no número de Mortes Violentas Intencionais
(MVI), onde estão incluídos homicídios, latrocínios, lesão corporal seguida de
morte, mortes decorrentes de intervenção policial e homicídios de policiais em
serviço ou fora.
Segundo os dados, foram 707 mortes, contra 587 em 2019, um aumento de 20,1%. O Estado só fica atrás de Ceará (75,1%), Maranhão (30,2%) e Paraíba com (23,1%). O Anuário registrou aumento dos homicídios em 16 unidades federativas.
Os números fazem alusão ao ano de 2020 e se baseiam em informações fornecidas pelas secretarias de segurança pública estaduais, pelas polícias civis, militares e federal dos casos que foram registrados pelas autoridades policiais.
Foto: Jailson Soares/ODIA
A maioria das vítimas são negras
O perfil das vítimas de homicídio no país segue o mesmo: 76,2% das vítimas são negras, 54,3% jovens e 91,3% do sexo masculino. Mais uma vez, a arma de fogo foi o principal instrumento em todos os tipos de crime, com exceção da lesão corporal seguida de morte. E o Anuário aponta que o crescimento expressivo do número de armas em circulação no país, indicando a presença de 2.077.126 armas de fogo em arsenais particulares ativos.
Para se ter uma ideia, somente no Sistema Nacional de Armas (SINARM) o registro de posse de armas cresceu 100,6% desde 2017, enquanto os dados do Exército mostram crescimento do número de registros de CAC (caçadores, atiradores e colecionadores) da ordem de 29,6, entre 2019 e 2020. Entre 2019 e 2020, os registros de armas cresceram 97,1%, com 186.071 novas armas apenas no sistema da Polícia Federal, e duplicaram as autorizações para importação de armas longas oriundas de outros países, num total de 7.625 novas armas apenas no ano passado.
Foto: Jailson Soares/ODIA
Um dos fatores apontados para o crescimento dos homicídios no Piauí é a soltura de presos – que coincide com o período de liberdade de parte deles durante a pandemia.
"O crescimento a violência letal em meio à pandemia é apenas mais uma demonstração de que estamos enxugando gelo na área de Segurança Pública, repetindo as mesmas fórmulas desgastadas que já demonstraram sua ineficiência ao longo das últimas décadas. Se nada for feito para mudar os rumos do setor, continuaremos a registrar, ano após ano, índices escandalosos de violência letal, que cada vez mais são aceitos como normais pela nossa sociedade", avalia o diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o sociólogo Renato Sérgio de Lima. "Precisamos entender que isso não é normal e que precisamos adotar novas maneiras de combater a violência urbana e o crime organizado".
Pela primeira vez, o Anuário trouxe dados sobre os municípios mais violentos do país, indicando que 138 cidades com população superior a 100 mil habitantes apresentam taxas de MVI acima da média nacional e respondem por 37,3% de todas as Mortes Violentas Intencionais do país. O Rio de Janeiro é o estado com o maior número de municípios de 100 mil habitantes com taxas de MVI superiores à média nacional (23,6), com um total de 24 municípios. Em seguida vem a Bahia, com 17 cidades acima da média nacional.