Os protestos que impedem o policiamento no Espírito Santo chegam ao 5º dia, e o estado já registrou 87 mortes violentas, segundo Sindicato dos Policiais Civis do Espírito Santo. A Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) ainda não tem um balanço.
Nesta quarta-feira (8), os ônibus não circulam na Grande Vitória. Escolas e faculdades estão fechadas, postos de saúde e prefeituras não terão atendimento. Alguns bancos e shoppings também não estão funcionando.
Famílias de PMs fazem manifestações bloqueando as portas de batalhões. Elas pedem reajuste salarial para a categoria, que é proibida de fazer greve. Sem todo o efetivo da PM nas ruas, o estado vive uma onda de violência com mortes, saques e assaltos.
Reunião
A reunião entre mulheres de PMs, associações dos militares e deputados estaduais e a senadora Rose de Freitas (PMDB), na Assembleia Legislativa do Espírito Santo, nesta terça-feira (7), terminou sem acordo. As manifestantes querem um encontro com o governo estadual nesta quarta, mas não há nada marcado.
Esposa de policial, a manifestante Thamires da Silva disse que espera o diálogo com o governo. "Queremos antecipar o diálogo o quanto antes. Nossa pauta pede o reajuste de 43% referentes aos últimos três anos em que isso não aconteceu, além da anistia dos PMs para que eles não sofram retaliações. Só após essas duas exigências serem aceitas, poderemos negociar a saída dos policiais", disse. Entenda as reivindicações dos PMs.
Aquartelamento
No final da noite desta terça-feira (7), segundo a Associação de Cabos e Soldados, a crise foi agravada com o aquartelamento voluntário de militares no 2º Batalhão, em Nova Venécia; no 4º Batalhão, em Vila Velha; no Batalhão de Missões Especiais (BME), em Vitória; e na Ronda Ostensiva Tática Motorizada (Rotam), em Cariacica.
A Sesp foi questionada pelo G1 sobre a informação do aquartelamento dos militares, mas não se posicionou. Nesta terça, a Secretaria chegou a anunciar a volta às ruas de alguns PMs da Rotam; do 4° Batalhão; do 9° Batalhão e do 13° Batalhão. Mas a Associação não confirmou.
Sem ônibus nesta quarta-feira
Sem todo o efetivo da Polícia Militar nas ruas, o presidente do Sindicato dos Rodoviários do Espírito Santo, Edson Bastos, publicou uma nota informando que os ônibus não vão circular nesta quarta por causa da insegurança. Nenhum coletivo saiu das garagens.
Segundo Bastos, os motoristas circularam em horário especial acreditando que estariam seguros, mas correram riscos nesta terça.
“Tivemos vários fatos desfavoráveis à nossa categoria, como assaltos, armas na cabeça de motorista obrigando o mesmo a invadir uma loja para os meliantes poderem assaltar, tivemos também um motorista indo pro trabalho que foi fechado por bandidos e tendo sua moto roubada sofrendo várias escoriações pelo corpo”, diz o texto.
População exige segurança
Nesta terça, moradores protestaram diante de batalhões do Espírito Santo exigindo que os PMs voltem para o trabalho. Atos desse tipo aconteceram em Vitória, Guarapari e Cachoeiro de Itapemirim.
Em Vitória, o Exército precisou ir ao local para controlar a manifestação e restabelecer o trânsito. Manifestantes colocaram fogo em pneus e chegaram a interditar os dois sentidos da Avenida Maruípe nesta tarde. Houve confronto entre manifestantes e o Exército usou gás de pimenta para acabar com o tumulto.
Crimes
Mesmo com a segurança nas ruas sendo feita pelas Forças Armadas e Forças Nacionais e parte dos efetivos da PM, os crimes continuam acontecendo no estado.
Dois homens foram detidos pela população após cometerem vários assaltos no bairro Itaparica, em Vila Velha, na manhã desta terça-feira.
Um vídeo gravado por um morador mostra quando os dois homens fogem pela rua depois de cometerem um assalto. Um carro vermelho para próximo a eles e o motorista começa a persegui-los a pé. Ele atira pelo menos uma vez. Depois disso, mais pessoas se reúnem no local e conseguem deter a dupla.
Em Jacaraípe, na Serra, criminosos arrombaram uma loja de roupas usando uma caminhonete. Eles deram ré e quebraram a porta de vidro e ferro. Todos os produtos furtados foram colocados dentro do veículo em questão de minutos.
Depois do crime, os mesmos homens passaram na frente da Delegacia de Jacaraípe e atiraram na direção de um policial civil, mas as balas acabaram acertando a frente da delegacia. Ninguém ficou ferido. Eles conseguiram fugir.
Com armas em punho, os polícias civis ficaram em alerta em frente à delegacia durante a tarde. O Exército passou por Jacaraípe e parou em alguns pontos da Serra. Mesmo assim, para alguns moradores o clima de insegurança é muito grande.
"A situação está precária, estamos reféns da bandidagem. Está tudo fechado, saí rápido para comprar pão e não consegui achar lugares abertos. Falta atitude do nosso governo", falou a dona de casa Gelde Gomes.
Na avenida principal do bairro Laranjeiras, todas as lojas ficaram fechadas. Soldados do Exército também passaram pelo local para garantir a segurança.
O analista de sistemas Alex Rodrigues disse que aproveitou que o supermercado estava aberto para fazer compras, mas que queria voltar logo pra casa. "O clima de insegurança é total, hoje mesmo não deixei minha esposa sair porque ela está grávida. Não estou tendo serviço porque as empresas não estão funcionando", disse.
Comércio fechado no Norte e Noroeste
Em Colatina, no Noroeste do Espírito Santo, o comércio amanheceu fechado na manhã desta terça após ter sido saqueado nesta segunda-feira (6). Lojas foram arrombadas e tiveram grande parte das mercadorias furtadas. O dia foi de contabilização dos prejuízos.
Assaltos na rua também ocorreram. O campus do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) e faculdades particulares mantiveram as aulas canceladas. Os ônibus circularam normalmente.
Em Linhares, no Norte do estado, lojas também foram saqueadas durante a madrugada. Algumas abriram na manhã desta terça, mas fecharam poucas horas depois. "Não há motivos para ficarmos abertos, melhor ficar em casa", disse o comerciante Agenor Carlos Freitas.
Em São Mateus, poucos comerciantes decidiram se arriscar e trabalhar, mas também não demoraram a ceder e fechar as portas. "Na hora que passava um carro mais suspeito, a gente já ficava com medo. Então foi melhor fechar, ir para casa. Agora ficam as contas para pagar, que não sabemos como vamos fazer", afirmou a comerciante Helena Coelho.
Os ônibus não circularam em Linhares e São Mateus. Escolas e unidades de saúde também ficaram fechadas nos dois municípios.
Reunião do comércio no Sul
Em Cachoeiro de Itapemirim, no Sul do Espírito Santo, os comerciantes se reuniram para tentar encontrar uma saída para o problema. Na cidade, mais de 50 lojas foram saqueadas e o prejuízo estimado chega a R$ 25 milhões.
A Federação do Comércio informou que vai disponibilizar fundo de R$ 1 milhão em empréstimos sem juros a empresários afetados pelos saques de mercadorias.
Entenda a crise na segurança no ES
– Os PMs reivindicam aumento nos salários, pagamento de benefícios e adicionais e criticam as más condições de trabalho.
– Como os PMs não podem fazer greve, as famílias foram para a frente dos batalhões para impedir a saída das viaturas policiais.
– O bloqueio começou no sábado (4) e atinge a Grande Vitória e cidades como Linhares, Aracruz, Colatina, Cachoeiro de Itapemirim e Piúma.
– Desde então, o Espírito Santo registrou 87 mortes violentas, segundo o sindicato da Polícia Civil.
– Escolas, postos de saúde e parte do comércio estão fechados desde segunda-feira (6), quando ônibus também pararam de circular. Os coletivos voltaram a rodar na manhã desta terça (7), mas foram recolhidos novamente às 19h. Na quarta-feira (8), o Sindicato informou que não haverá circulação.
– 1.000 homens das Forças Armadas fazem policiamento na Grande Vitória desde segunda; 200 integrantes da Força Nacional começam a atuar nesta terça.