A Polícia Civil concluiu o inquérito que investigou as circunstâncias do assassinato da estudante de arquitetura Iarla Lima Barbosa, que foi morta pelo namorado na madrugada de 19 de junho, após deixarem uma festa num bar na Avenida Nossa Senhora de Fátima.
A delegada Anamelka Cadena (Foto: Elias Fontinele / O DIA)
Segundo a delegada Anamelka Cadena, titular do Núcleo de Feminicídio da Polícia Civil do Piauí, o acusado José Ricardo da Silva Neto, que é tenente do Exército, teve claramente a intenção de "dizimar" as três jovens que o acompanhavam.
Além de efetuar o disparos fatais contra Iarla, o tenente também atirou contra a cunhada, Ilana Lima Barbosa, e contra uma amiga das jovens, que também estavam na festa.
Conforme foi apurado no inquérito policial, que tem mais de duzentas páginas, José Ricardo da Silva Neto só teria demonstrado sua ira contra a namorada no momento em que o casal entrou no carro do militar, onde estava guardada a arma usada no crime.
"Pelos discursos das pessoas que foram ouvidas e pelos elementos que a gente carreou ao inquérito, ele teria se sentido desconfortável com uma situação no estabelecimento, porque foi isso que ele verbalizou antes de efetuar os disparos. Mas ele só demonstrou esse desconforto quando conseguiu, finalmente, levar essas meninas para dentro do veículo. Antes disso, nada tinha sido demonstrado. Ficou caracterizada a possessividade, a dominação e o sentimento de rejeição, que são elementos que consignam as razões de gênero, e permitem que a gente identifique a modulação. Ele também reprisou esses elementos para o colega de apartamento. Então, isso ficou perfeitamente delineado no cenário da dinâmica dos fatos", afirmou a delegada.
Iarla Lima Barbosa e o tenente do Exército José Ricardo da Silva Neto (Fotos: Reprodução / Arquivos pessoais)
Segundo Anamelka, José Ricardo tentou justificar o ataque à namorada citando um suposto comportamento da jovem durante a festa, que ele considerou inadequado. "Lamentavelmente, mais um cenário de misoginia, de desprezo e de violência no âmbito dessa relação intersubjetiva. E o que fez a gente identificar isso foi exatamente o discurso desse agressor, que tenta legitimar a sua prática pelo machismo e pela possessividade", afirmou a delegada.
Durante o depoimento na delegacia especializada em feminicídio, o acusado exerceu seu direito constitucional de permanecer calado. Além disso, de acordo com Anamelka, ele se recusou a fazer o exame toxicológico que foi requisitado pela Polícia.
"A gente solicitou vários exames - traumatológico, cadavérico, toxicológico... O toxicológico, em especial, não foi realizado porque não houve a anuência por parte dele, o que é imprescindível para que o perito faça as coletas necessárias. Então, tudo o que foi pertinente ao inquérito policial foi requisitado. Não é à toa que gerou essa quantidade de páginas no procedimento", conclui Anamelka.
O tenente continua custodiado pelo Exército. Ele deve ser alvo de um procedimento administrativo disciplinar (PAD) por meio do qual poderá ser expulso da carreira militar.
Agora, a Polícia encaminhará o inquérito à Justiça, e caberá ao Ministério Público apresentar a denúncia que resultará na ação penal.
No dia do assassinato, o casal Iarla Lima Barbosa e José Ricardo da Silva Neto estava completando a primeira semana de namoro.
O Código Penal brasileiro prevê uma pena de doze a trinta anos de reclusão para o crime de feminicídio, que consiste num assassinato motivado estritamente por razões relacionadas à condição de gênero.