O ex-tenente do Exército
Brasileiro, José Ricardo Silva Neto, apontado como autor do feminicídio de Iarla
Lima Barbosa, foi ouvido como testemunha na audiência de instrução e julgamento do caso, no início da noite de hoje (22). Em seu depoimento, Silva Neto contou em detalhes como ocorreu o
feminicídio de Iarla Lima. No seu relato,
o acusado confessou ser o autor do disparo que matou a estudante, mas negou ter
apontado a arma, um revólver calibre 38, e disparado contra a irmã de Iarla, Ilana
Lima Barbosa, e a amiga, Joseane Mesquita da Silva.
Em depoimento ao juiz Antônio Nolleto, Silva Neto contou que, após buscar a namorada, a irmã dela e a amiga na casa de Iarla, os quatro se dirigiram a um bar na zona Leste de Teresina. No local, o grupo encontrou-se com dois amigos do ex-tenente, identificados apenas como Matheus e Torres. "No decorrer da noite eu me senti mal, e também porque eu ia trabalhar na segunda-feira, então eu resolvi ir embora para casa”, disse.
Familiares de Iarla acompanharam a audiência. (Foto: Assis Fernandes/O Dia)
O ex-tenente conta que no trajeto para o carro, que estava estacionado nas proximidades do bar, ele teria discutido com dois flanelinhas que teriam lhe pedido dinheiro. Segundo ele, a discussão o teria deixado “exaltado e bastante nervoso”. Ao chegar ao veículo, Silva Neto relatou que teve uma briga com a estudante. “Eu tinha deixado a minha arma escondida no bolso atrás do banco do passageiro, e fui tirar a arma do bolso e colocar junto à minha perna. Nesse momento, quando eu estava tirando a arma, eu tive uma pequena briga com ela, e ela chegou a colocar a mão na minha arma”, contou.
De acordo com o ex-tenente, a estudante teria segurado a arma e só então os disparos teriam sido efetuados. Quando questionado pelo juiz Antônio Nolleto sobre o que teria motivado a discussão e se o motivo teria sido ciúmes, Silva Neto diz não se lembrar. “Não sei explicar, eu nunca passei por uma situação como essa. Ela colocou a mão na minha arma, tivemos uma briga, vários disparos aconteceram. Eu não lembro direito, foi tudo muito rápido, em momento nenhum eu apontei a minha arma tanto para a Ilana como para a Joseane”, afirmou.
No depoimento, o acusado alegou ainda que fugiu do local do crime porque estaria com medo de represálias. Segundo ele, ao ver que não havia possibilidade de socorrer a namorada, decidiu ir para casa. “Nesse momento que eu vi que não tinha mais possibilidade de socorrer, eu fui para casa, porque a todo momento pensava que tinha alguém me seguindo e que ia tentar fazer alguma coisa comigo. Eu não sabia para onde ir, o que veio na minha mente foi ir para casa e ficar escondido”, relatou.
Sobre a arma, o acusado argumentou que estaria armado na noite do crime porque teria que se deslocar até o bairro onde morava a estudante que, segundo ele, ficava localizado em uma região perigosa.
Após ser questionado pelo juiz, o
acusado se recusou a responder as perguntas da acusação e permaneceu calado até
o final da audiência. Devido à demora das oitivas, as alegações orais foram
substituídas por memoriais escritos que deverão ser entregues pela acusação e
pela defesa em 10 dias. Somente após esse prazo, o juiz Antônio Nolleto irá
decidir se o acusado irá ou não a júri popular. Caso o magistrado decida levar
o caso à júri popular, a previsão é de que o julgamento seja realizado ainda no
primeiro semestre de 2018.
Defesa tenta ressaltar bom comportamento do ex-tenente
No decorrer da tarde de hoje, foram ouvidas as testemunhas de defesa do ex-tenente do Exército José Ricardo Silva Neto. A maioria das testemunhas é composta por colegas do Exército e amigos do ex-tenente. Silva Neto era chefe de almoxarifado do 2º BEC e coordenava quatro depósitos da unidade.
Segundo Luíza Maria Gomes, funcionária do 2º BEC, José Ricardo tinha uma relação muito boa com os colegas de farda, superiores ou subalternos. “Ele é uma pessoa completamente diferente do que eu ouvi falar na mídia. Eu não acreditei que era ele. Nunca o vi tratar nenhuma mulher com desrespeito. Ele é uma pessoa maravilhosa", disse.
Testemunhas são ouvidas em audiência de instrução no Tribunal de Justiça. (Foto: Assis Fernandes/ODIA)
Luizete Rodrigues da Silva, militar do 2 ° BEC, e um dos superiores do acusado, ressaltou o bom comportamento do ex-tenente e relatou que teriam se encontrado duas vezes quando o José Ricardo estava detido no presídio militar. Nas ocasiões, o militar informou que o acusado não falou sobre o crime e nem mostrou arrependimento. "Na primeira vez ele apenas chorou, na segunda vez nós não falamos sobre o fato. Eu fui apenas para lhe prestar minha solidariedade", afirmou.
O militar destacou ainda que ficou sabendo do ocorrido na madrugada do crime, quando um dos seus superiores ligou pedindo os dados do ex-tenente e o informou sobre o feminicídio.
Já o subtenente Severiano Marques Reis Júnior informou que, quando soube do fato, imaginou que o acusado havia reagido a um assalto. "Quando me falaram que ele tinha atirado em uma mulher, achei que tivesse reagido ao assalto. Só depois, pela imprensa, fiquei sabendo que tinha sido a namorada dele", declarou.
De acordo com o promotor Ubiraci Rocha, representante do Ministério Público, todas as testemunhas que foram ouvidas nas oitivas comprovam as razões da denúncia e reiteram a possibilidade de o acusado ir à júri popular. “Ele naturalmente tenta se furtar da motivação, tanto que o quadro, do ponto de vista psicológico, que a defesa tenta fazer é de que ele é uma pessoa tranquila, mas pessoas tranquilas também cometem crimes”, destaca.