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Vítimas de estupro coletivo também sofrem violência social

A dor provocada por um estupro coletivo nunca acaba logo depois que o crime é praticado. Não bastassem os traumas físicos e psicológicos, as vítimas geralmente precisam enfrentar mais um tipo de violência, dessa vez praticado pela comunidade. A análise é da delegada do Núcleo de Feminicídio, Anamelka Cadena, que acompanhou as vítimas nos três casos de estupro coletivo mais recentes, ocorridos no Piauí.

Foto: Cícero Portela/ODIA

Segundo ela, os julgamentos sociais contribuem para a revitimização e para gerar novas sequelas na mulher. “A gente vê que a preocupação delas é de voltar para a cidade. Elas pensam no que as pessoas estão falando, o que elas estão pensando”, disse Anamelka.

Para a delegada, a forma como a comunidade trata a vítima, não deixa de ser um novo estupro coletivo. “É lamentável ver isso. Enquanto a gente não conseguir destruir essa mentalidade de responsabilização da mulher, esses preconceitos, a gente vai continuar sequelando a vítima”, lamenta.

O acesso às redes sociais e aos comentários indiscretos ou machistas, tornam a vida das vítimas de estupro coletivo ainda pior. “Ao invés de focar no agressor, se destaca a mulher. Com quem ela estava, onde estava, se bebeu, a roupa que vestia... Coisa que, pelo amor de Deus, não é mais cabível na nossa realidade”, enfatiza Anamelka.

Compartilhamentos

O compartilhamento de vídeos ou fotos que expõem vítimas de estupro é crime e a polícia pretende monitorar as pessoas que divulgarem as imagens. Segundo a delegada Anamelka Cadena, a tecnologia já permite rastrear os números de telefone que compartilharem as imagens. “Não repassem! Apaguem se receberem”, orienta a delegada.

Audiência

Membros da Comissão Externa de Estupro Coletivo, formada por deputados federais, vão participar de audiência para discutir o histórico de estupros coletivos no Piauí. O evento acontece amanhã, às 14 horas, no Cine Teatro da Assemblaia Legislativa e contará com a presença dos parlamentares e ainda de autoridades da justiça, segurança e órgãos de proteção aos direitos das mulheres.

O objetivo é propor ao governo federal e aos governos estaduais políticas preventivas e extensivas contra o estupro. O deputado federal Silas Freire (PR-PI), proponente da audiência, explica ainda que a Comissão Externa tem o poder de propor leis em caráter de urgência, com isso, a proposta de lei estabelecida por este grupo terá maior celeridade.