Enfrentar tratamentos fortes e lidar
com uma mudança repentina no estilo de vida é um processo doloroso para quem é
diagnosticado com algum tipo de câncer. A situação é ainda mais delicada quando
atinge crianças e adolescentes, em uma etapa onde as brincadeiras e diversão
tem prioridade; exames, internações, radioterapia e outros procedimentos tomam
o tempo dos pequenos.
Fotos: Marcela Pachêco/ODIA
Em Teresina, cerca de duas mil crianças chegam de outros municípios para iniciar o tratamento contra o câncer anualmente, segundo dados da Rede Feminina de Combate ao Câncer, uma instituição filantrópica que fornece ajuda para familiares e pacientes
Segundo o Instituto Nacional do Câncer, estima-se que, até o ano de 2014, cerca de 11 mil novos caso de câncer em crianças e adolescentes até os 19 anos estavam diagnosticados. A região Nordeste é uma das que tem mais incidência de casos, a média é de 2.790 diagnósticos, sendo 30% de leucemia.
O diagnóstico precoce é um dos principais desafios para vencer o câncer, mas muitas vezes os sintomas são confundidos com doenças comuns na infância. Dores e desconforto são as principais queixas de crianças.
Állefe, de apenas dois anos, foi diagnosticado com leucemia em fevereiro. Desde então, a mãe procurou auxilio médico na capital para começar um tratamento. “Foi horrível na hora do diagnóstico, parece que o mundo desaba e a vida começa a mudar por completo. O que podemos fazer é entregar para Deus e conviver com o câncer, aceitar é muito difícil”, conta Lionete Alves (foto acima), que mora no município de Regeneração.
Josefina Sousa (foto abaixo) acompanha a neta há seis meses e conta das dificuldades. “É muita preocupação e muitas coisas passam pela nossa cabeça nesse momento, mas estamos lutando por ela. Ela teve que parar de estudar para fazer o tratamento e ainda está muito debilitada”, relata a avó de Gerlandia, de 10 anos.
Ela ainda conta que acredita na recuperação total da neta. “Ela já passou por vários médicos até diagnosticar o câncer na coluna. Algumas cirurgias já foram feitas e agora ela já está voltando a caminhar e falar e eu tenho fé que isso vai passar”, comenta Josefina.
Lar da Criança acolhe pacientes e familiares em Teresina
Durante o período de tratamento, contar com auxílio de instituições é essencial. Em Teresina, familiares e pacientes têm a ajuda do Lar da Criança, mantido pela Rede Feminina de Combate ao Câncer.
Além do apoio e da hospedagem, o local possui uma sala de recreação para a diversão de crianças e adolescentes. Silvana Silva, recreadora da Rede Feminina, diz que trabalhar no Lar da Criança é um desafio sofrido. “Há 16 anos estou na Rede e eu não posso dizer que já me habituei. Tem dias que o sofrimento é enorme e você não tem vontade de voltar, mas ao mesmo tempo é muito compensador porque muitas crianças chegam todos os dias e a gente vai acompanhado junto com a família”, conta Silvana (foto abaixo).
Acompanhar pacientes em um momento tão delicado gera muitos sentimentos e medo, mas a esperança de ver os filhos e netos recuperados e com a vida normal é maior. Para aceitar e entender o diagnóstico é um processo muito doloroso para as crianças, os questionamentos sobre o porquê da situação começam a aparecer. Explicar todo o problema se torna um desafio para os pais.
Wagner Sousa Lima, de 10 anos, foi diagnosticado com um tumor no estômago e as oscilações do quadro de saúde geram preocupação. “Hoje ele não está muito bem, há alguns dias ele vem apresentando febre e isso preocupa a gente. No começo ele não entendia a situação, mas agora já entende e isso o deixa triste, devido às restrições e também estar longe dos três irmãos. Antes ele podia brincar e ir à escola, mas hoje as condições não permitem e ele fica sempre perguntando se vai ficar bom e temos que ser sempre positivos”, conta a mãe Ercília Sousa, que é natural de União. .
Projetos voluntários levam alegria aos hospitais de Teresina
O Projeto Mundo Colorido existe há dois anos e tem como objetivo promover a alegria aos pacientes com câncer, através de atividades lúdicas, passeios, visitas e festas. Os locais de ação são hospitais, abrigos e comunidades carentes.
Rafaela Moraes é voluntária há três meses e conheceu o projeto através do Facebook. “Eu entrei como uma forma de superação porque existem vários casos de câncer na minha família. Minha mãe faleceu com a doença e diante disso, eu vivi boa parte da minha vida em hospitais e depois não conseguia nem passar por perto, era um pânico”, relata a voluntária.
As experiências de quem acompanha projetos desse tipo são marcantes e cheias de emoção, devido à fragilidade das crianças e o estado de saúde instável. Rafaela não ia há 22 anos em um hospital devido aos traumas, mas a vontade de ajudar superou os medos e lembranças. “A primeira visita que fui eu fiquei pensando sobre tantas coisas que eles tinham para viver. A primeira criança que acompanhei estava muito debilitada e ela tinha um olhar diferente que fez com que eu me aproximasse”, finaliza.