O WhatsApp armou uma estratégia em três frentes para se contrapor às notícias falsas no ano eleitoral, no Brasil. O aplicativo de mensagens, que pertence ao Facebook e se assemelha a uma rede social pela propagação de informações por meio de grupos, passou dos 120 milhões de usuários no Brasil e agora é visto como a maior ameaça na geração de desinformação política.
Pelo que a reportagem apurou, a plataforma vai buscar um primeiro grupo de ações voltadas aos usuários, estimulando-os a reportar casos de conteúdo indesejado e a bloqueá-los. Prevê também modificar sua própria ferramenta para evidenciar quando a mensagem é uma retransmissão, como acontece com e-mails.
Na segunda frente, o WhatsApp recorrerá a mecanismos que já tem para detectar spam via metadados, sinais como a transmissão de número inusitadamente alto de mensagens, que servirão de base para identificar eventuais fontes de conteúdo malicioso.
Na terceira, a plataforma -sediada nos EUA e sem representação formal no Brasil- busca maior proximidade com a Justiça Eleitoral e outros órgãos públicos, visando responder mais prontamente a ordens "válidas" que apontem tentativas de manipulação eleitoral e disseminação de notícias falsas.
A integração das frentes permitirá ao WhatsApp, sobretudo nos momentos críticos do processo eleitoral, bloquear usuários mal-intencionados.
Diferentemente de Facebook e outras redes, as mensagens no aplicativo são criptografadas, codificadas, impedindo o acesso ao conteúdo por terceiros, inclusive a própria plataforma. Ações indiretas foram a saída do WhatsApp para responder aos questionamentos crescentes de que estimula "fake news".
Ouvido sobre o projeto da plataforma para as eleições brasileiras, o jornalista Edgard Matsuki, cujo site de checagem Boatos.org se dedica desde 2016 às notícias propagadas no WhatsApp, avalia que ele "tende a minimizar um problema que está tendo atenção muito grande", mas o foco deve ser no usuário.
"É importante pensar para além das plataformas", diz. "Se as próprias pessoas não tiverem consciência de que compartilhar notícia falsa é nocivo, que boatos têm uma gravidade na internet, não adianta WhatsApp, Facebook, YouTube tomarem essas medidas."
Ele vê na primeira frente de ação, com o estímulo às denúncias pelos usuários, o caminho mais promissor.
Pablo Ortellado, professor da USP e colunista da Folha de S.Paulo, é ainda menos otimista, avaliando que muito do que o WhatsApp pretende "é para dizer que está fazendo alguma coisa, é enxugar gelo".
Ele acredita que as ações da plataforma vão se concentrar em combater "aquela coisa de comprar uma base [de usuários] na Santa Ifigênia [centro comercial de eletrônicos em SP] e jogar spam para todo mundo. Vão tentar ver quando um cara está mandando para centenas e interrompê-lo".
Mas isso é só parte do problema. "Os boatos políticos têm a maneira mais insidiosa, do ator malicioso que está semeando em diversos grupos, numa dinâmica muito lenta, de deixar a coisa correr sozinha", diz. Contra isso, a estratégia do WhatsApp teria pouco ou nenhum efeito.