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CPI do Transporte: com 140 ônibus a menos, motoristas veem falência do sistema

Durante a CPI do Transporte Público, que acontece na manhã desta terça-feira (18), na Câmara Municipal de Teresina, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transportes Rodoviários no Estado do Piauí (Sintetro), Ajuri Dias, lamentou a situação atual do sistema de transporte público na capital. Ele destacou que dos 320 coletivos que integram a frota, apenas 180 estão circulando. Com 140 veículos a menos, além da concorrência, ele acredita na falência desse segmento. 


(Foto: Câmara Municipal de Teresina/Ascom)

“Hoje, o sentimento é de sair do sistema. A maioria [dos motoristas e cobradores] estão pedindo para os empresários demiti-los com todos os seus direitos, mas infelizmente alguns não demitem porque não existe mais nenhuma confiabilidade no sistema, tanto por parte dos trabalhadores como dos usuários. Não existe uma fidelidade à prestação de serviço. Em relação à concorrência no sistema, isso faz com que possa levar, daqui uns dias, esse modelo a falência”, disse.

O presidente do Sindicados dos Motoristas destacou ainda que os empresários do transporte coletivo de Teresina estão visando apenas o lucro e não oferecem condições dignas de transporte para os usuários. 

“Empresário pensa que quanto menos ônibus, carrega mais gente, e ganha mais dinheiro. O empresário não pensa na qualidade da prestação de serviço, só pensa na questão financeira. Diminuindo ônibus não vai enricar o empresário. Essa não é a noção de prestação de serviço. Se tiver qualidade, o usuário deixa seu carro em casa e vai pegar ônibus. Mas ele tem que investir para ter lucro, e a gente não tem visto isso na visão dos empresários e do Setut”.


(Foto: ODIA)

Ajuri confirmou que empresas faziam com que trabalhadores assinassem recibos de horas trabalhadas e não os contracheques dos valores referentes ao mês trabalhado, para não caracterizar que estavam recebendo um valor indevido, menor que o salário. “A partir de 2020 eles não pagaram mais os valores dos salários que deveriam ser pago. Muitos assinavam o recibo e na hora de receber, eles davam o contracheque com o valor de R$ 1.941, mas recebiam o do recibo”.

O presidente do Sintetro acrescentou ainda que, ainda no ano passado, o Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos de Passageiros de Teresina (Setut) recebeu reajuste na tarifa de 4,48%, bem como recebia da Prefeitura o valor reajustado. Entretanto, o pagamento dos salários dos trabalhadores era inferior ao que foi acordado, ou seja, eles deveriam receber R$2.039,00.

Ajuri Dias também falou das demissões dos trabalhadores. Segundo ele, mais de 60% dos motoristas e trabalhadores fizeram acordos individuais com as empresas. Contudo, apesar da proposta de retorno, muitos deles não retornaram aos seus postos e chegaram a perder até 40% de seus direitos. 

Esmerindo Costa, representante do Sintetro, enfatizou que as empresas estão descumprindo os acordos, não estão pagando os salários dos trabalhadores, nem os demais direitos, como férias e ticket alimentação. Ainda segundo Costa, motoristas e cobradores estão recebendo apenas pelas horas trabalhadas.

“Em alguns casos o trabalhador assina as férias e não recebe. O sindicato faz de tudo, mas não tem jeito, eles [empresários] não estão mais ligando para o transporte público de Teresina”, disse.

A advogada do Setut, Naiara Moraes, esteve na Câmara de Teresina acompanhando a audiência representando o Sindicato e todos os consórcios que fazem parte do sistema de transporte coletivo de Teresina. 

“Estamos nos colocando à disposição para sermos ouvidos, para acompanhar aqueles que foram convocados e requerendo nesse momento o acesso ao cronograma, exatamente para que possamos ter condições de compreender qual é o andamento das atividades, sugerir quais procedimentos devem ser tomadas, bem como convocar a empresa que elaborou o edital do processo licitatório” falou.

O vereador Dudu (PT), presidente da CPI do Transporte Coletivo de Teresina, reforçou a gravidade das denúncias feitas pelo Sintetro, no que se refere à falsificação de documentos, no qual os trabalhadores eram obrigados a alegar que recebiam um valor superior ao que, de fato, estavam recebendo.

“A forma como está se dando a relação patrão e empregado, onde empregados estão sendo obrigados a cometerem crime de falsidade ideológica, na minha opinião, isso é gravíssimo. Estamos falando de um transporte público que está cobrando dívidas com o poder público. O que foi dito pelo sindicato certamente terá desdobramento em outras esferas. Isso é crime de falsidade ideológica, quando você obriga um trabalhador a assinar um recibo que ele recebe um valor, mas está recebendo menos”, completou Dudu, destacando que "isso é forçar os trabalhadores a um estelionato“.