A morte de um menino de 12 anos, vítima de um infarto fulminante dentro de uma escola particular no Centro de Teresina, chocou a cidade nesta quinta-feira (4). O caso não é o primeiro registrado este ano no Piauí. Todavia, o cardiologista pediátrico Marcelo Madeira explica que esse tipo de evento é extremamente raro em crianças. Isto porque os fatores de risco mais comuns para doenças cardiovasculares, como colesterol alto, tabagismo, hipertensão e diabetes, não conseguem comprometer a função cardíaca a tempo de causar um infarto ainda na infância.
Dr. Marcelo Madeira. Foto: Arquivo/Pessoal
“A morte súbita em crianças é um evento extremamente raro, principalmente quando associado à doença do coração. Para deixar claro, o paciente quando enfarta, normalmente, tem um acúmulo de colesterol, de gordura nas artérias, acumulados durante anos. Não é impossível que aconteça em crianças, mas a causa mais comum são doenças genéticas ou doenças estruturais do coração. Outra causa bastante plausível seria a presença de arritmia de causa congênita, que é quando a criança já nasce com o problema”, explica.
“Fora do coração, você teria outras explicações: más formações de vasos celebrais, que pode levar a um AVC e convulsões, por exemplo, que também são causas de mortes súbitas. Embora essa correlação de infarto seja muito comum em pacientes adultos acima dos 40 anos; em crianças, o infarto fulminante é improvável, mas não é impossível”, completou.
Relação com Covid
No caso do menino vítima de infarto na escola, pouco depois da divulgação da morte, circulou nas redes sociais a informação que ele teria contraído Covid-19 no ano passado. No entanto, a escola do garoto não confirmou a informação e nem qualquer ligação da causa da morte com o coronavírus. Madeira comenta a associação entre Covid-19 e infarto.
Foto: Pixabay
“Nós estamos aprendendo sobre a Covid-19. É prematuro afirmar com certeza que foi por causa da doença, mas também não podemos descartar essa possibilidade. A gente sabe que o coronavírus pode provocar uma inflamação no coração, que provoca alteração no órgão e surgimento de arritmia. Contudo, este evento é mais comum na fase adulta”, pondera.
Sintomas não devem ser subestimados
Mesmo sendo raro em crianças, é importante que os sintomas de um infarto não sejam subestimados. Os sinais mais comuns são dor ou pressão sobre o peito; dor ou desconforto nos braços, costas, estômago, mandíbula ou pescoço; sensação de falta de ar; tontura; sudorese; e náusea.
“O que a gente tem orientado é que pacientes que tiveram o coronavírus ou então crianças que depois que tiveram a doença apresentarem manchas vermelhas no corpo, associada à febre, dor no coração, sensação de palpitação, arritmia, cansaço, palidez, devem passar por uma avaliação médica”, indica o cardiologista.
Apesar dos sinais de doenças cardiovasculares, em geral, não se manifestarem precocemente, é importante ficar atento. De acordo com Marcelo Madeira, não se deve subestimar uma dor que seu filho se queixe de sentir. Leve-o sempre ao médico mais próximo, pois quanto antes ele receber atendimento, maiores são as chances de sobrevivência.
Outra orientação é pesquisar o histórico familiar para doenças cardíacas. Se houver casos de parentes que tenham morrido precocemente por conta de um problema no coração, os pais devem prestar ainda mais atenção na saúde do filho.
Outros casos precoces
A morte prematura de Pedro Malta Pachêco, de 12 anos, nesta quinta-feira (4), se soma a outros dois casos registrados este ano. No mês passado, uma criança de apenas 11 anos, identificado como Arthur Valentim , faleceu depois de sofrer um infarto enquanto brincava com os primos no sítio do avô, na zona rural do município de Luís Correia, litoral piauiense. Arthur era neto do ex-vereador e secretário de Administração de Luís Correia, Carlitus Machado. O caso aconteceu no dia 11 de janeiro.
Dois dias depois, a adolescente Camille Vitória Vasconcelos, de 16 anos, morreu após sofrer um infarto fulminante durante uma caminhada na Avenida Beira Rio, no município de Picos, no Sul do Piauí. Ela realizava uma caminhada na companhia da mãe no final da tarde quando apresentou fortes dores no peito. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado e prestou os primeiros socorros. Ela faleceu a caminho do hospital.