Com uma frota de 495.594 carros e motos, Teresina tem um veículo para cada dois habitantes. Os dados, do Departamento Estadual de Trânsito do Piauí (Detran-PI), revelam um cenário de comprometimento da mobilidade urbana da cidade e reforça a avaliação de Flávia Maia, que é assessora de Sustentabilidade e Resiliência Urbana da Prefeitura Municipal de Teresina (PMT).
“Aqui em Teresina, como em muitas cidades do Brasil e da América Latina, existe uma enorme dependência em relação ao carro particular. Segundo dados do Denatran, nossa frota de veículos aumentou 216% nos últimos nove anos. Isso tem um impacto direto em nossas emissões de gases que causam o efeito estufa, além de ser um modelo de mobilidade que já se mostrou insustentável”, disse Flávia Maia em entrevista ao site Criptomoedas Fácil.
Segundo a assessora, o processo de urbanização da cidade é outro problema na questão da mobilidade. Ela explica que esse crescimento se deu de forma dispersa (o chamado crescimento espraiado), o que repercute diretamente no tempo de deslocamento das pessoas pela cidade.
“Isso aumenta consideravelmente o tempo das viagens, traz grandes dificuldades de fluidez no trânsito, compromete a segurança e a eficácia do transporte público como um todo, pois compromete os custos de implantação e a qualidade do transporte. Isso se reflete na qualidade do mesmo e na demanda da população pelos ônibus, que caiu 14% nos últimos anos. Isso também traz impactos financeiros, pois afeta a saúde financeira das empresas [de transporte]. O governo, por sua vez, precisa entrar com aportes para evitar que o preço da tarifa suba demais”, afirmou Flávia na ocasião.
A frota composta por 495.594 veículos está comprometendo a fluidez do trânsito. Foto: Jailson Soares/ODIA
Usuários reclamam de infraestrutura e atrasos dos ônibus
Apesar de ser o principal meio de transporte coletivo em Teresina, o papel do ônibus na mobilidade urbana é visto com desconfiança e alvo constante de reclamações da população. Lentidão no trajeto, mudança de rotas, atrasos, poucos ônibus por linha: a lista é extensa.
A diarista Maria do Socorro Silva avalia a mudança para os terminais de integração como algo que acabou gerando um desgaste e sendo mais trabalhoso, já que o trajeto era feito com apenas um ônibus e agora ela precisa ir até o terminal.
“Pra onde eu vou, só um ônibus bastaria. Ter que parar no terminal, ir pra outro terminal, isso pra mim é um desgaste; por isso, optei pelo metrô, que vai direto. Utilizo bastante o metrô, principalmente pela integração que não serviu de nada. Só serviu pra atrapalhar mais ainda a vida do pobre”, avalia.
Um ponto que também entra na discussão a respeito da mobilidade urbana é a estrutura da frota de ônibus e o valor da tarifa. A auxiliar de serviços gerais Francisca Derlane descreve como é utilizar apenas o ônibus como meio de transporte.
“Eu acho que não é eficiente, porque sempre tem os atrasos, eles andam devagar, sem falar nessa passagem que aumentou agora. Tenho que acordar bastante cedo, porque trabalho em um hospital, tenho que ir cedo. Moro no bairro Santa Maria, fica distante. Acho que poderia melhorar nos horários, passar na hora, e também a estrutura, porque tem ônibus que vivem quebrados”, relata.
Metrô atende apenas os moradores da região Sudeste da Capital
Passageiros precisam lidar com as particularidades do novos VLTs, cujas manutenções são mais frequentes. Foto: Poliana Oliveira/ODIA
Outro meio de locomoção disponível em Teresina é o metrô. O vendedor Manoel Marques, que mora no bairro Dirceu, zona Sudeste da Capital, confessa que utiliza o meio de transporte frequentemente, de sua casa até o Centro da cidade. No entanto, quando ele precisa ir para outros locais, utiliza o ônibus, já que o metrô não chega a outras regiões da cidade.
“Sou vendedor e uso o metrô frequentemente pela manhã, para vir trabalhar e para ir embora. Eu observo que o metrô está muito bom, essa linha que ele está fazendo está ótima. Para outros locais, eu enxergo que não tem como. Existe um transtorno enorme para fazer a linha em outros lugares”, defende. Sobre a mobilidade urbana, Manoel analisa que ainda falta educação no trânsito para que tudo ocorra com mais fluidez.
Apesar da troca recente do antigo metrô, substituído pelo Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), por vezes, os passageiros ainda precisam lidar com as particularidades do serviço, cujas manutenções são mais frequentes. A diarista Maria do Socorro Silva foi à estação do metrô duas vezes e, por fim, teve que recorrer ao ônibus, pois o VLT não passou no horário que ela havia consultado.
“Eu tinha vindo aqui às 8h22 e o rapaz me disse que ele [o metrô] estaria voltando às 8h52 para o Centro e 9h16 para a localidade que eu ia, que era a região do Dirceu. Resumindo: fui fazer um lanche, achando que estaria no ponto, [não estava] e agora vou ter que recorrer ao ônibus”, disse.