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Resenha: "No coração da noite estrelada", de Rogério Newton

O primeiro romance de Rogério Newton traz uma bela história sobre juventude, sobre questionamento, sobre amor, sobre identidade e sobre amadurecimento

14/04/2016 12:50

Um romance com um conto pelo meio de uma história que se passa em meados da década de 70, mas que pode, tranquilamente, representar, em muitos momentos, situações vivenciadas por jovens de cidades pequenas, sustentadas por sociedades tradicionais, ainda nos tempos de hoje.  É assim que o primeiro romance do escritor Rogério Newton pode ser resumidamente definido. O enredo se passa na cidade de Oeiras, primeira capital do estado do Piauí, envolvendo duas gerações, jovens que estudam fora da cidade e personagens de gerações anteriores que se contrapõem exatamente por passarem por situações diferentes e realidades ainda mais complexas. O período em que a história se passa é em plena ditadura, após o golpe militar de 64, em que os jovens estudantes, três moças e três rapazes, que fazem cursos de graduação longe de suas famílias e do conforto dos lares, se mostram inquietos com os limites a que estão sendo impostos e com a apatia na qual todos vivem pelo temor de questionarem o contexto politico de então.

“Os três moços conheciam aqueles lugares. Eram de uma geração que vivera parte da infância e adolescência passeando pelos morros, banhando nos riachos, comendo frutas das margens, caçando passarinhos, caminhando pelas matas úmidas. Mas agora estavam crescidos. Os pais os mandaram estudar em bons colégios, longe de Oeiras.” 

Os jovens vivem uma pausa nos estudos em decorrência de uma greve e se reencontram e alimentam o desejo da feitura de um jornal profundo que mergulhe as pessoas numa reflexão sobre a cidade, sobre a sociedade e sobre as próprias vidas. Distantes da vida na cidade natal, os jovens se veem mudados, apesar de extremamente ligados ao local. A narrativa de Rogério Newton nos leva a momentos em que os jovens, abastecendo-se de outras fontes, outras culturas, outras histórias, se deparam com a Oeiras de então, mas que agora os causa estranheza.

“Ao ouvir o sino da matriz, João parou de mastigar. Sensação estranha. Desde que saíra de Oeiras, afastara-se dos costumes religiosos incutidos pela família, passando a alimentar atitudes críticas. No cursinho, percebeu que a visão religiosa não era tão exacerbada quanto em sua terra.”

Os passeios pelas ruas e pelas histórias de uma Oeiras mágica e encantadora, muito bem descrita e interpretada por Rogério Newton, mostram as características de uma cidade no meio do sertão, mas que se diferencia das demais, fugindo ao padrão do que se encontra pela região. Os fatos inusitados quebram, inclusive, a nossa expectativa durante a leitura do texto.

“De repente, parou, afastou-se e, num gesto rápido, tirou a blusa. A lua, que dominava tudo, iluminou os seios pequenos, firmes e belos. Por um instante, tudo ficou suspenso. Ouviram um ronco surdo, vindo não se sabe de onde, e uma porca enorme quase os atropela, seguida por um bando de bacurins.”

No livros não há prefácio, nem orelha, mas ilustrações e projeto gráfico do artista Antonio Amaral fazem com que cada leitor seja guiado por si mesmo dentro dessa história muito bem escrita, de fácil compreensão, mas rica em estilo e em texto.

O primeiro romance de Rogério Newton traz uma bela história sobre juventude, sobre questionamento, sobre amor, sobre identidade, sobre amadurecimento, sobre pessoas. 

Resenha por: Eulália Teixeira

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