A cabeça da galinha deveria estar na
sopa da Coordenadora do Restaurante
Universitário, que dedicou boa parte da
sua vida ao R.U, que implantou o serviço
de alimentação em todos os campi
do interior da UFPI e ampliou o serviço
de alimentação no Campus de Teresina
e que acreditem, a cada dia luta pela
melhoria da qualidade do serviço de alimentação
dessa instituição.
Não! Ela deveria estar no prato das
demais nutricionistas, que por vezes
acordam no meio da noite, preocupadas
com medo de ter feito algum cálculo
errado e faltar comida no prato do
usuário. Delas, que não podem errar
nunca, tem que prever a quantidade
exata de usuários que irão frequentar
o serviço a cada novo dia. Na maioria
das vezes nem almoçam ou jantam
direito, precisam estar sempre atentas
ao telefone, ao que acontece nos três
restaurantes para mandar fazer mais
comida, caso seja necessário. Elas,
que batem cabeça diariamente com os
fornecedores, não importa, o produto
tem que chegar a mesa do usuário,
e acreditem para isso os alimentos
passam por um rigoroso controle de
qualidade.
Melhor seria se ela estivesse no
prato do chefe de cozinha, que todos
os dias dá o seu melhor, que já não
pode botar peso, pois herdou do serviço
pesado, hérnia de disco, toneladas
de alimentos chegam diariamente
ao restaurante. Chefe este que
faz o seu serviço com amor e zelo, é
incansável, só sossega quando deixa
tudo encaminhado para a refeição
seguinte.
Deveria estar no prato dos funcionários
mais antigos que também pagam
o preço por anos de dedicação ao serviço,
que herdaram bucite, dores na
coluna e nos pés, por passarem horas
em pé e realizarem esforços repetitivos
inúmeras vezes, afinal a fila não
pode parar e eles tem que servir aos
mais de 5 mil usuários que passam
todos os dias pelo serviço. Não basta
ser de ferro, também precisam ser
surdos e mudos, para não reagirem
ao desaforo de alguns usuários.
Pensando melhor, caberia bem no
prato dos funcionários terceirizados do
restaurante, que trabalham parte do
dia e da noite e mesmo tendo que usar
botas, toucas, luvas e máscaras, numa
cozinha cujo calor é insuportável, não
tiram o sorriso do rosto diante das
suas próprias dificuldades e executam
seu trabalho com destreza. São quase
super-heróis, conseguem cortar mil
quilos de frango em um único dia!
Ou quem sabe no prato das estagiárias,
que estão sempre atentas e
supervisionam como ninguém todas as
etapas de processamento da alimentação
que é servida.
Na verdade, ninguém gostaria de ter
a cabeça de uma galinha em seu prato,
mas qualquer um dos mais de 80 funcionários
desse restaurante brigariam
com qualquer usuário, por esse inusitado
pedaço, pois entenderiam esse
episódio como uma infeliz fatalidade,
e assim não teriam que ser desrespeitados
como pessoas e como os bons profissionais
que são.
Cara galinha, infelizmente a sua
cabeça foi parar no lugar errado,
melhor seria se você não tivesse cabeça,
assim não teria sua vida tão exposta,
mas já que tem, muito obrigada por ser
comestível e ter um corpo que nos serve
de alimento, mas não, não queremos a
sua cabeça, ninguém é digno dela. Justamente
você, foi logo parar no prato
de alguém que só conhece a realidade
do RU do refeitório pra fora, que acha
que uma fatalidade lhe dá o direito de
desqualificar e ridicularizar o serviço
de toda uma equipe. Eu não queria
estar na sua pele pobre galinha e por
ironia do destino tenho pena de você
porque as pessoas sabem como ninguém
ser cruéis, mas ainda bem que
você já está morta mesmo e não tem
nenhuma noção do que estão falando
ao seu respeito. Foi parar no prato de
um usuário que tem a oportunidade de
ser acolhido por essa universidade, com
moradia e alimentação, que ele acreditando
ou não é sim de qualidade, ainda
assim não hesita em manchar o nome
da sua própria instituição.
Hoje entendo perfeitamente o sentido
da expressão popular, esse daí “cospe
no prato que come.” Eu só espero que de
alguma maneira, isso tenha lhe trazido
satisfação e alimentado a sua alma.
Mas nada disso que acabo de falar tem
algum valor ou será lembrado, minha
cara galinha, alguém vai ter que pagar
o preço, você está sozinha, será apenas a sua cabeça dentro daquela sopa.
Por: Ana Claudia Carvalho
Nutricionista do RU
Fonte: Jornal O DIA