O Brasil definitivamente não é uma potência no ciclismo. Mesmo assim, não há nenhum outro país no mundo com tantos atletas suspensos por doping na modalidade. A lista atualizada da União Ciclística Internacional (UCI) aponta oito brasileiros impedidos de competir, mesmo número de Itália. Além deles, outros seis atletas estão suspensos pela Confederação Brasileira de Ciclismo (CBC) e mais dois aguardam julgamento depois de encerrados os 30 dias da suspensão provisória. Essa sequência de casos pode fazer a Funvic, única equipe de elite do Brasil, receber novo gancho e fechar as portas.
Atualmente, de acordo com a UCI, cumprem suspensão provisória cinco ciclistas brasileiros: Alex Diniz, Isabella Lacerda, João Marcelo Gaspar, Kleber Ramos e Josemberg Pinho. Além deles, já foram julgados e condenados Raphael Mesquita Mendes (quatro anos, até 2019), Fred Mariano (quatro anos, até 2020) e Cleberson Weber (oito anos, até 2023, por ser reincidente).
E talvez fossem ainda mais se houvesse maior colaboração da CBC. “Muitas vezes as competições não são divulgadas, a gente não consegue acesso ao trajeto, à relação aos atletas que são inscritos na competição. Isso tudo dificulta muito o nosso trabalho. A gente quer ter mais acesso a essas informações. Com muitas confederações a gente tem total facilidade, mas no ciclismo a gente precisa ter uma proximidade maior”, reclamou, ao Olhar Olímpico, o secretário nacional da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem, Rogério Sampaio.
De fato, é comum que as principais competições nacionais sejam divulgadas de uma hora para outra. Em setembro do ano passado, por exemplo, a seleção brasileira de ciclismo de pista estava treinando para o Campeonato Pan-Americano quando soube que, ao invés de viajar para o México para a competição, disputaria o Campeonato Brasileiro, marcado para as mesmas datas.
Quando há realização de exames, os casos positivos costumam vir de baciada. No Brasileiro de Estrada de 2014, por exemplo, foram flagradas a campeã do adulto, Márcia Fernandes, e a campeã sub-23, Nayara Gomes – apenas campeões foram testados. No Brasileiro de Pista daquele ano, foram suspensos Juliana Renner e Patrick Oyakua. Todos levaram dois anos de suspensão e já estão liberados para competir.
Antes dos Jogos Mundiais Militares de 2015, em um teste surpresa para a seleção brasileira militar, Alex Arseno e Uênia Fernandes foram flagrados por EPO. Antes de Uênia, as primas delas Márcia e Clemilda também já testaram positivo para o hormônio sintético. Na véspera dos Jogos do Rio, foi a vez de Kleber Ramos, o Bozó, testar positivo em exame surpresa – ele chegou a competir na Olimpíada.
Em novembro, foram anunciadas as suspensões provisórias de João Marcelo Gaspar, o Canibal, que esteve no Pan de Toronto-2015, e do colombiano Wilson Ramiro. Assim como Kleber Ramos, eles testaram positivo para CERA (substância que aumenta a capacidade de resistência) e eram atletas da Funvic, de São José dos Campos, única equipe brasileira com licença da UCI para participar do segundo principal circuito profissional do mundo, o Pro Continental. Com três casos de doping, a Funvic perdeu essa licença por 55 dias.
Em março, porém, a equipe foi novamente atingida por mais dois casos, referentes a 2016, de Otávio Bulgarelli (que se aposentou no fim do ano passado, virou dirigente da Funvic e está sendo investigado pela ABCD) e de Alex Diniz, que já havia deixado a equipe e foi suspenso pela UCI. A entidade internacional também abriu um procedimento disciplinar que pode suspender a Funvic por até 12 meses – uma pena menor que a anterior parece improvável.
Procurada, a Funvic não quis comentar, mas poucos acreditam que a equipe consiga se manter de pé se ficar novamente suspensa. Já a CBC minimizou o problema citando relatório da ABCD que demonstra que 4% dos exames do ciclismo em 2016 apontaram resultado analítico adverso e lembrando que esse número é inferior ao do vôlei, por exemplo (um caso em 14 testes). Só fisiculturismo (cinco) e MMA, (13) porém, tiveram numericamente mais casos de doping verificados pela ABCD do que o ciclismo em 2016.
Fonte: UOL