Momentos de tomar decisões são sempre delicados. O medo e a insegurança muitas vezes fazem com que as pessoas sigam os caminhos mais confortáveis, mesmo eles não sendo exatamente o que elas queriam para a vida. Quando se trata de carreiras profissionais, o processo de escolha é mais delicado ainda. Isso porque decidir entre uma carreira ou outra envolve não só autoconhecimento, mas também aspectos práticos.
Um dos pontos cruciais na hora de escolher uma profissão é considerar as próprias habilidades. A influência de outras pessoas, sejam elas pais ou amigos, por exemplo, acabam repercutindo mais na frente. É para evitar situações de arrependimento e frustração que a escolha profissional deve ser um processo pessoal e individual. É isso o que explica a psicóloga Tatiane Alves.
“Escolher uma carreira é uma decisão de vida e por ser assim, ela precisa partir do interior. A profissão não é só uma escolha profissional, ela é aquilo que vou fazer por todos os dias por um longo tempo. A questão emocional pesa em como eu vou realizar minha profissão e até a própria realização profissional tem a ver com essa primeira escolha. Os dois fatores cruciais são o autoconhecimento e a inteligência emocional”, diz Tatiane.
Em um mundo digital onde tudo parece se desenrolar com pressa, as pessoas escolhem cada vez mais cedo suas profissões. No entendimento da psicóloga, essa imaturidade das escolas atrapalha a consolidação de carreiras. Nesses casos, é importante haver orientação por parte da família, apoio, mas nunca a influência. “Nossas escolhas pessoais não devem ser influenciadas pelas escolhas dos outros. Nossos filhos devem escolher o que eles sentem vontade de fazer. Ninguém melhor do que eles mesmos para saberem o que querem fazer para a vida”, pontua Tatiane Alves.
Toda tomada de decisão, no entanto, exige um ponto de partida. Segundo a especialista em carreiras, Karol Rufino, quando o indivíduo é muito novo e não conhece as próprias habilidades, é interessante que ele comece a se observar em determinadas situações.
“Por sermos novos, queremos tudo para ontem, queremos nos formar e ter aquela carreira. Não funciona assim. Temos que passar pelas etapas. Começar a observar o que as pessoas veem em mim como potencial, com quais situações mais me identifico, em quais ocasiões me sinto mais confortável. A palavra-chave é vivenciar, porque a teoria é diferente da prática. Não é bom querer um cargo por status, mas sim porque nos vemos fazendo aquilo”, explica.
E quando a carreira escolhida não traz felicidade?
Mudanças de carreira também são um processo de tomada de decisões. É sair da zona de conforto e experimentar o que a Psicologia chama de vulnerabilidade. É importante mencionar que todo cargo que se exerce vale como experiência, ajuda a impulsionar habilidades e a entender potenciais. Uma vez identificados esses potenciais, o indivíduo pode começar a persegui-los.
A especialista em carreiras, Karol Rufino, lembra que começou sua vida profissional como degustadora de café. Quando entendeu que o que ela mais gostava era de treinar as outras degustadoras de sua equipe, conseguiu perceber em si um potencial para planejar uma carreira em torno dele.
“Foi quando comecei a fazer meu planejamento estratégico. Só podemos fazer esse planejamento de carreira quando sabemos o que queremos. Temos que estar atento ao feedback das pessoas. Tudo tem seu tempo, mas é preciso ter um olhar mais macro da nossa vida, o que tenho de referência, o que me faz feliz, Sem felicidade na profissão, você não consegue inovar”, explica a especialista.
A psicóloga Tatiane Alves diz que mudar de carreira quando há frustração é um ato de ousadia e de coragem. Trata-se de se reinventar e estar aberto às possibilidades. No entanto, é necessário lembrar que há uma preparação para a troca: o olhar para si é o primeiro passo. Mudar de carreira, segundo a psicóloga, é uma construção emocional e a percepção de si mesmo.
“A gente trabalha nossas questões individuais para que elas sejam bem estabelecidas e, assim, possamos receber o que o outro tem a oferecer. Trabalho é conexão e troca, mas nós precisamos também perceber nossas emoções e saber expressá-las de forma correta. A habilidade da resiliência está atrelada ao processo de mudança, à adaptação de mudar e, também à coragem. Acho que ela faz parte dessa transição que a gente precisa fazer em vários aspectos da vida”, pontua Tatiane.
Ela acrescenta que saber o tempo de mudar também é importante e finaliza: “muitas vezes ficamos presos ao julgamento, mas só nós sabemos o que queremos fazer da nossa vida, onde vamos estar felizes, qual incômodo sentimos e o que faz com que nos movimentemos para a mudança. É o interior que vai refletir nesse exterior. Além de sermos felizes, fazemos outras pessoas felizes”.