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Mais de 15 mil alunos não voltaram à escola para cursar fundamental ou médio

Os motivos que levam ao abandono ou à evasão escolar são multifatoriais e vão desde dificuldades de aprendizagem à necessidade de trabalhar

27/04/2019 08:58

Antônio Rogério tinha 16 anos quando teve de tomar uma importante decisão: aceitar um trabalho em outro estado para poder contribuir de forma mais consistente com a renda familiar ou continuar estudando. Mais velho de uma família de cinco irmãos, com os pais sem renda fixa, ele não titubeou a escolher a primeira opção. “As coisas eram muito difíceis”, retoma. 

Sair da escola por motivo de trabalho é uma das grandes causas que continuam a levar pessoas em idade escolar a deixarem as salas de aula no Brasil e também no Piauí. Este ano, cerca de 900 alunos não retomaram à rede municipal de educação e, em todo Piauí, 15 mil se mantêm longe das salas na rede estadual. 


Sair da escola por motivo de trabalho é uma das grandes causas que continuam a levar pessoas em idade escolar a deixarem as salas de aula


Os motivos que levam ao abandono ou à evasão escolar são multifatoriais. Especialistas em Educação destacam aspectos como a vulnerabilidade socioeconômica das famílias, envolvimento com drogas, distorção de idade-série, dificuldades de aprendizagem e até gravidez na adolescência como critérios recorrentes que levam à saída de crianças e jovens das escolas.

Rogério, por exemplo, se antes teve de lidar com a escolha entre escola e trabalho; com os anos, foi confrontado com a distorção da idade e não se sentiu seguro para voltar. “Saí na oitava série, depois, quis voltar, mas já estava velho. Hoje, tenho três filhos para cuidar. Mas um dia penso em retornar”, comenta. Aos 25 anos, ele trabalha como carroceiro no extremo Leste de Teresina.


Foto: Jailson Soares/O Dia

Segundo Madalena Leal, gerente de assistência ao educando da Secretaria Municipal de Educação (Semec), o abandono e evasão escolar são percebidos com mais intensidade, na rede municipal, justamente nas últimas séries.

“O índice de abandono aumenta muito a partir do sétimo ano. Percebemos isso porque, no primeiro ano, por exemplo, temos 88 mil alunos matriculados e esse número, com o passar dos anos, vai diminuindo. Então onde ficam esses alunos? No ensino médio, a situação ainda complica mais. Hoje, temos várias políticas para tentar reverter esse cenário. É de interesse de toda a cadeia de educação que o aluno permaneça na escola”, destaca.

Abandono versus evasão escolar

A evasão escolar corresponde àqueles alunos que saíram da escola e não retomaram mais os estudos. Já o abandono escolar se trata dos alunos que se matriculam e depois de algum tempo, por algum motivo, deixam de frequentar as aulas, mas, no ano seguinte, se matriculam novamente.

Adolescente lembra que uso de drogas lhe afastou da escola

Aos 17 anos, Celine* (nome fictíticio utilizado para preservar a identidade da fonte) retomou os estudos que tinha abandonado há cerca de três anos, mas em um contexto não apenas escolar. 

A jovem assiste aulas no Centro Educacional Feminino (CEF), onde está internada há um ano, em cumprimento de medidas socioeducativas por ter cometido práticas infracionais. Ela abandonou a escola assim que começou a se envolver com uso de drogas, aos 14 anos, no sétimo ano.


Durante cerca de dois anos, Celine alimentou o ciclo de uso e venda de drogas, furtos e assaltos, até ser encaminhada ao sistema socioeducativo


“Eu estudava à noite e comecei a ir quando queria, faltava porque era mais interessante fazer outras coisas. Como comecei a usar drogas, parei de vez. Não sentia mais vontade de estar ali”, explica.

Durante cerca de dois anos, Celine alimentou o ciclo de uso e venda de drogas, furtos e assaltos, até ser encaminhada ao sistema socioeducativo. No local, as políticas de educação continuada estão possibilitando que a jovem retome o gosto pelos estudos. “Eu pretendo fazer um curso, arrumar emprego honesto e tocar minha vida. Não é fácil a sociedade lhe aceitar, eu vou fazer 18 anos agora em maio, mas não quero voltar pro sistema”, comenta.

Por: Glenda Uchôa - Jornal O Dia
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