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Piauí possui apenas 50 médicos intensivistas certificados, revela CRM-PI

A baixa quantidade de especialistas habilitados dificulta a expansão da rede hospitalar de enfrentamento a pandemia. "Esse número não é suficiente para você dobrar o número de leitos de UTI", diz conselheiro.

17/06/2020 11:32

Além da escassez de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTIs) para atender a demanda de pacientes em quadros críticos do novo coronavírus (Covid-19), o Piauí conta com poucos profissionais aptos para trabalhar nestas unidades. Segundo dados do Conselho Regional de Medicina (CRM-PI), são cerca de 50 médicos intensivistas ativos em todo o estado.

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A baixa quantidade de especialistas habilitados dificulta a expansão da rede hospitalar de enfrentamento a pandemia. "Esse número não é suficiente para você dobrar o número de leitos de UTI que tem no Piauí. Quando Se cria uma nova unidade, são necessários dois profissionais certificados nessa área”, explica o médico intensivista Bruno Ribeiro, membro do CRM-PI.

Pela legislação que regulamenta esta atividade, cada UTI deve contar com dois profissionais certificados Associação de Médicos Intensivistas Brasileira (AMIB). "É importante ter um número de profissionais adequados com esse título, porque são eles que serão os chefes do setor, legalmente falando", reforça o representante da entidade de classe.

O reflexo dessa escassez é constatado em Teresina, que tem encontrado dificuldade para preencher os postos em suas novas unidades. “A prefeitura fez um seletivo onde os médicos intensivistas foram todos convocados mas nem todos se apresentaram”, pontuou Rodrigo Martins, diretor do Hospital de Urgência (HUT), que aguarda condições para colocar em funcionamento os leitos recém criados.


Foto: Reprodução/Ccom

Pela legislação do setor, cada médico intensivista pode se responsabilizar por até duas unidades de terapia, o que não apenas compromete a criação de novos leitos dada a baixa oferta de mão de obra qualificada para este serviço, exercido em sua grande maioria por médicos plantonistas, não necessariamente certificados pela AMIB. 

“Para ser plantonista não é obrigado a ter esse título, se fosse muitas UTIs iriam fechar, pois não há pessoas suficientes com esse certificado. Se distribuirmos esses 50 médicos para dar plantão em Teresina, teríamos no máximo três UTIs, pois quando se procura um intensivista titular, ele já está cuidando de uma outra unidade ou até mesmo de duas”, ressalta Ribeiro.

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Para tentar contornar essa situação, a Prefeitura de Teresina (PMT) vem estudando medidas paliativas, como a convocação de médicos de outras especialidades, classificados no último seletivo em outras especialidades que estejam dispostos a trabalhar nas UTIs, desde que estes comprovem experiência nesta área.

"Essa semana estamos inclusive aumentando o valor da remuneração do plantão para que possamos atrair outros profissionais, mas também estamos trabalhando com a possibilidade de trazer profissionais de fora do Piauí, pois existe de fato uma escassez muito grande na cidade de Teresina”, afirmou o prefeito Firmino Filho (PSDB).


Foto: O Dia

"Insegurança, medo de contaminação e a sobrecarga de trabalho”

Somado a insuficiência de intensivistas em todo o estado, a vulnerabilidade à doença também é um outro empecilho para atrair cada vez mais profissionais, habilitados ou não para este serviço, para ocupar postos de trabalho nestas UTIs com pacientes infectados pelo vírus.

“É um ambiente onde acontece, por exemplo, acontece a intubação, um momento onde o médico fica mais exposto à contaminação pelo coronavírus, pois está em contato direto com a traqueia do paciente. Um dos motivos que dificultam é esse medo da contaminação”, argumenta Bruno Ribeiro.

O especialista lembra ainda que os procedimentos realizados em um plantão médico nas unidades de terapia são diferentes dos demais em situações hospitalares comuns, e que nem sempre estes trabalhadores estão aptos ou capacitados para esta função.

“É necessário habilidades que, se não tiver treinando e praticando no dia a dia, você fica inseguro de fazer e medicações que não fazem parte da rotina da maioria dos médicos. O que leva essa dificuldade de profissionais é a insegurança, medo de contaminação e a sobrecarga de trabalho em outros lugares", finaliza o conselheiro.

Por: Breno Cavalcante
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