Pelo nome, Francisco Gomes Sobrinho pode ser reconhecido
como um piauiense como outro qualquer. A diferença é que ele faz parte de uma
parcela minoritária da população do Piauí, os indígenas. Ele é pajé da tribo
Tabajara no município de Piripiri, região Norte do Estado, e cobra melhores
condições de vida para ele e todos os indígenas que habitam o território
piauiense.
“Precisamos de um reconhecimento melhor, pois somos todos
humanos. Temos mais de três mil antecedentes dentro de Piripiri, mas existe
ainda um preconceito grande e muita discriminação. Existe uma preocupação para
mantermos a cultura e a tradição indígena no Piauí, temos lutado e se
organizado”, disse o pajé.

Segundo o Censo 2010,
o Piauí possuía cerca
de 2.944 pessoas que
se autodeclararam
indígenas (Foto: Assis Fenandes/O Dia)
De acordo com o último censo demográfico do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizado em 2010, o Piauí
possuía cerca de 2.944 pessoas que se autodeclararam indígenas, 1.333 somente
em Teresina. Segundo Charles Oliveira, estudante de arqueologia da Universidade
Federal do Piauí (Ufpi), o número poderia ser maior, mas ainda há um receio
dessa população, historicamente perseguida e massacrada.
“Houve muita morte, genocídio e etnocídio, e alguns grupos,
para não morrerem, fugiram para estados como Ceará, Maranhão, Bahia e
Pernambuco, mas uma pequena porcentagem permaneceu no Estado”, explica o
estudante.
Francisco Gomes confirma as informações e atesta que é
necessária uma maior valorização da cultura indígena em todo o país, mas principalmente
no Piauí, exatamente pelo violento processo de colonização. “Aqui no Piauí,
tivemos uma desonra muito grande aos antepassados e ficamos isolados. A cultura
indígena tem que ser resgatada, pois está sendo esquecida”, disse o pajé.
Segundo o estudante de arqueologia, a Fundação Nacional do
Índio (FUNAI) já identificou e reconheceu três populações indígenas diferentes
no Piauí. “Em Piripiri, encontramos os Tabajaras; no povoado Nazaré em São
Francisco do Piauí, encontramos os Tabajaras e os Tapuio, e, em Queimada Nova,
no extremo Sul do Estado, na fronteira com a Bahia e Pernambuco, encontramos os
Cariri de Serra Grande”, informa.

Estado tem
representantes das tribos
Tabajaras, Tapuio e os
Cariri de Serra Grande (Foto: Assis Fernandes/O Dia)
Invisibilidade
Historicamente, os povos indígenas foram massacrados e
invisibilizados, é o que afirma o escritor Daniel Mundukuru, que também é
professor com formação em filosofia, história e psicologia, com mestrado em
antropologia social pela USP.
Segundo ele, é necessário um novo olhar para as populações
tradicionais em todo o país, mas em especial no Piauí. “A história brasileira
negou a presença indígena aqui no Estado e é preciso ter um resgate dessa
cultura e ancestralidade do povo do Piauí, para construir inclusive a própria
identidade do Estado, mostrando que é um lugar que tem história, origem,
tradição e uma cultura que não nasceu do nada, mas que foi se constituindo a
partir daquilo que é da origem do lugar, que são os povos tradicionais que aqui
habitavam”, comenta Mundukuru.
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Por: Breno Cavalcante - Jornal O Dia