Noite de 4 de abril de 2019.
Uma data que marcou a vida de centenas de moradores que residem no Parque
Rodoviário, zona Sul de Teresina. O dia em que a enxurrada de lama interrompeu
a vida de duas pessoas e destruiu sonhos e anos de trabalho de mais de 50
famílias. Um ano após a tragédia, muitos tentam se reerguer e voltar à
normalidade, mas as marcas, tanto na memória quanto nas paredes dos imóveis,
ainda assolam a comunidade, que pede providências do poder público.

Foto: Arquivo O Dia.
O comerciante Mayke Martins
estava em casa no dia da tragédia. Do imóvel que ficava localizado na Rua
Piracema, nº 4298, só restaram algumas paredes e entulhos. As marcas da água
também estão lá, vívidas, e não deixam os moradores esquecerem das horas de
terror e desespero.
O local foi desapropriado
por ser considerado área de risco. Mesmo sabendo disso, o morador nunca pensou
em abandonar o terreno. “Essa era minha casa, continua do mesmo jeito [do dia
da tragédia]. O mato tomou conta. Eu não recebi nada; não posso reformar minha
casa porque o prefeito baixou um decreto desapropriando. Mas eu não me dei por
vencido. Quando eu pegar algum recurso, venho aqui e reformo minha casa”,
conta.

Foto: Arquivo O Dia.
Atraso no auxílio aluguel
No mesmo terreno havia outra
casa, mas nesta não sobraram nem os entulhos. Hoje, o local se transformou em
um lixão. O imóvel ficava em frente para outra residência. Era a casa de dona
Valdirene, que morava com o filho, a cunhada e o neto. A residência também foi
atingida pela correnteza de lama. Dessa moradia também não sobrou nada.
Hoje, Valdirene mora de
aluguel, benefício pago pela Prefeitura de Teresina a todos os moradores que
ficaram desabrigados em decorrência da tragédia. Segundo ela, o auxílio do
“aluguel solidário” está atrasado há três meses e as cobranças por parte do
proprietário do imóvel são constantes.
“O dono da casa está pedindo
o imóvel, disse que está atrasado o pagamento e, com esse problema do
coronavírus, o Cras está fechado, então fica difícil da gente resolver. Não
estamos sabendo como resolver e eu queria a solução dos órgãos públicos, que
falaram que iam nos ajudar, mas não deram nenhuma solução. Meu filho também
está morando de aluguel e não sabemos o que fazer”, conta.
A casa da dona Elena, que
desabou com a enxurrada, abrigava 11 pessoas, incluindo ela, suas filhas e
netos. Toda a família está morando em um imóvel alugado, pago pela Prefeitura,
porém, o pagamento também está atrasado.
“É muito sofrimento. Se a
Prefeitura não puder fazer as nossas casas o mais depressa possível, é o jeito
voltar para cá, arrumar um barraco e morar aqui. Para onde que eu vou com
minhas filhas e netos? Temos que nos virar aqui onde era nossa casa. Sabemos da
luta da pandemia que está acontecendo, mas pedimos que nos deem uma resposta”,
cobra Elena.
Casas ainda não foram construídas
As famílias que perderam
suas casas no Parque Rodoviário ou foram atingidas pela enxurrada estão
recebendo auxílio por parte da Prefeitura de Teresina. Algumas recebem cestas
básicas, outras aluguel solidário, e ainda tem que recebeu auxílio para
reformar seus imóveis. Porém, a preocupação é com as famílias que ainda não
receberam suas casas.
Segundo o taxista Agnelo
Frazão, ainda faltam cerca de 20 casas serem construídas e entregues pela
Prefeitura de Teresina aos moradores que perderam tudo. Os imóveis seriam
construídos no terreno do clube da antiga Telemar, local onde justamente
acumulou a água que provocou a tragédia. Porém, após um ano, essas residências
ainda não foram construídas.
“A Prefeitura reconstruiu e
reformou todas as casas que foram danificadas, mas as que caíram com a
enxurrada não serão construídas no mesmo local de antes. Serão construídas 22
casas no terreno do clube. Já conversamos com o secretário da Superintendência
de Desenvolvimento Urbano Sul, que nos mostrou a planta do que será feito no
terreno e as casas, que devem iniciar ainda no mês de maio, então estamos
aguardando”, fala.
O que diz a Prefeitura
De acordo com a SDU/Sul,
desde a data que se deu a tragédia, a Prefeitura de Teresina esteve presente
prestando toda a assistência possível às famílias atingidas. Logo no início,
todas as famílias foram cadastradas e passaram a ser atendidas pelos serviços
sociais do município. Ao mesmo tempo, a Prefeitura, através da
Superintendência, providenciou a retirada de todo o lixo que se espalhou pelo
local, entre outras providências.
A SDU/Sul informou ainda que
as casas que faltam ser construídas são justamente aquelas que estavam próximas
ao canal de escoamento ou em áreas de risco e que não poderão mais voltar para
esses locais. Para essas famílias serão construídas novas moradias em área que
pertencia ao clube da Telemar e que foi desapropriada pela Prefeitura de
Teresina. Essa obra será licitada em breve. Enquanto isso, essas famílias estão
sendo atendidas pelo programa Família Solidária e continuam sendo assistidas
pela Prefeitura.
Sobre as demais famílias, a
Superintendência pontua que, dos 82 imóveis atingidos, 12 já foram
reconstruídos e as famílias já puderam retornar; 48 imóveis necessitaram de pequenas
reformas, sendo que 27 foram concluídas e 21 estão em andamento.
Já a Secretaria Municipal de
Cidadania, Assistência Social e Políticas Públicas (Semcaspi) informou que as
famílias do Parque Rodoviário atendidas pelo Aluguel Social estão recebendo o
valor de R$ 300 mensais. Houve necessidade de verificação dos cadastros junto
ao banco e também reavaliar a situação das pessoas que não estavam indo sacar o
valor. O dinheiro já foi pago e está na conta. Ao todo, são 53 pessoas
cadastradas para receber o benefício.
Relembre o caso
A tragédia do Parque
Rodoviário ocorreu na noite de quinta-feira, 4 de abril de 2019, na zona Sul de
Teresina. A fatalidade foi motivada pelo rompimento do muro do clube da
Telemar, que estava desativado. Devido ao grande volume de chuva em dias
anteriores e na noite da tragédia, o muro de contenção não suportou a pressão e
rompeu, provocando uma onda de lama que arrastou casas e pessoas.
Com a enxurrada, duas
pessoas morreram e dezenas de moradores ficaram feridos. Além disso, cerca de
50 imóveis foram destruídos. A correnteza também arruinou veículos, móveis e
também matou animais de estimação dos moradores.
Por: Isabela Lopes
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