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“Enquanto eu existir, meus filhos não estarão sozinhos”, diz mãe presa em Teresina

Na Penitenciária de Teresina, duas mães contam suas histórias de vida

07/05/2022 13:21

Acompanhar de perto a vida e o crescimento dos filhos é o desejo de qualquer mãe e, em uma data tão significativa como o Dia das Mães, estar longe das crias se torna um desafio ainda maior. É o que relata Vanda Lúcia Alves, de 42 anos, mãe de três filhos, presa na Penitenciária de Teresina há dois anos. 

“Este já é o segundo ano em que passo longe dos meus filhos e é muito doloroso. Apesar disso, sou muito forte, ninguém me vê lamentando. Sinto muita falta deles e os amo muito. Quero pedir perdão por estar aqui e dizer que, enquanto eu existir, eles não estarão só”, diz.

Vanda Lúcia conta que viveu cerca de 22 anos em São Paulo, quando resolveu retornar à Teresina. A mesma trabalhava com vendas e, ainda hoje, possui um estabelecimento comercial na capital. Presa desde agosto de 2020, Vanda comenta que a situação é fruto de um relacionamento. “Quem me conhece lá fora sabe que o que ocorreu foi uma fatalidade, foi um momento errado com as pessoas erradas, mas estou pagando por este erro”, afirma. 

Vanda Lúcia, mãe de três filhos, presa há dois anos em Teresina (Foto: Pedro Cardoso/ODIA)

Hoje, Vanda relembra dos momentos com sua família e, para ela, o que mais dói é pensar nas tardes em que todos se reuniam na sala de estar para falarem sobre seus dias. “A gente se reunia no sofá e falávamos sobre o dia, cada um contava o que aconteceu. Isso faz muita falta. O coração fica apertado e a gente chora sem ninguém ver. É preciso ser forte”, pontua. 

Vanda destaca que uma de suas filhas é professora, já a outra possui uma lanchonete e o terceiro faz curso de medicina. E, para eles, sua mãe é motivo de orgulho e não de vergonha. “Quando fazemos videochamada, eles sempre dizem que sou um orgulho para eles. Eu acredito que aquilo que não nos destrói, nos fortalece. E isso tem nos fortalecido, tenho aprendido cada vez mais a dar valor a pequenas coisas que lá fora não valorizei”, acrescenta.


“Não estou presente fisicamente, mas estou de alma e coração”, afirma Francineide Lima, presa em Teresina desde 2021 

Aos 43 anos e com seis filhos, Francineide Lima conta que é muito triste estar longe da família durante essa época. Apesar da situação, a mesma afirma que o importante é todos estarem bem e com saúde. Casada e com uma bebê de sete meses, Francineide sonha com o momento em que poderá desfrutar da sua liberdade ao lado daqueles que ama. “Eu e minha esposa temos uma bebezinha de sete meses, nós a registramos e, como mãe, me sinto realizada. Faço parte da vida dos meus filhos e eles são tudo na minha vida. Sem eles eu não sou nada. É muito triste passar essa data longe, mas ao mesmo tempo estou feliz por ter saúde, meus filhos estão bem e apesar do local que eu me encontro, levo a vida para frente, não é porque estou aqui nesse lugar que vou me entregar”, relata. 

Francineide Lima tem seis filhos e um deles é um bebê de sete meses (Foto: Pedro Cardoso/ODIA)

Francineide trabalha desde cedo com vendas, segundo ela, o comércio sempre a inspirou. Durante a pandemia, a mesma fabricava quentinhas para vender e, atualmente, trabalha na cozinha da Penitenciária de Teresina. “Minha mãe era vendedora ambulante, durante muitos anos ela trabalhou no mercado do Parque Piauí e eu sempre a acompanhei. Então continuei nesse ramo das vendas”, explica.

Segundo ela, estar ali não é um processo fácil, pois a partir do momento em que se entra na Penitenciária, toda sua vida é transformada. “Eu confio em Deus e a partir do momento que a gente entra daquele portão para dentro, só ele nos dá força. A luta é grande”. Para os filhos, Francineide manda uma mensagem: ela pode não estar presente fisicamente no momento, mas está de coração. 

“Eu os amo muito e eles são tudo na minha vida. Estou com muita saudade e quero dizer que logo tudo dará certo e eu estarei mais presente. Não estou presente fisicamente, mas de coração. Estou sempre orando por eles e pedindo que Deus me dê força para vencer essa luta e ficar ao lado dos meus filhos”, finaliza. 


Mães presas: direitos e ressocialização 

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) garante a mães presas o direito de cuidar dos filhos, apesar de algumas ressalvas em casos excepcionais. Com o vigor do Estatuto da Primeira Infância (Lei 13.257), surgiu, por exemplo, a possibilidade de cumprimento da prisão preventiva em regime domiciliar para mulheres gestantes ou com filhos de até 12 anos incompletos.

Dentro da própria Penitenciária de Teresina, as mães têm direito de receber a visita dos filhos e também há espaço para amamentação e brinquedoteca. De acordo com a policial penal Luanda Santiago, o apoio é realizado pelo Serviço Social, que acompanha as visitas e mantém as mães informadas de seus filhos. “Existe todo um protocolo para vir realizar a visita presencial, parentes de primeiro grau, como os filhos, podem se cadastrar para realizar a visita. Quem não puder ter a visita presencial, tem direito a vídeochamadas,  acompanhado pela assistente social e a policial penal. Em relação às mães, o serviço social sempre as mantém informada sobre os filhos ou mandam recados das mães para seus filhos”, informa.

A policial Luanda Santiago explica que o apoio é realizado pelo Serviço Social, que acompanha as visitas e mantém as mães informadas de seus filhos.

A fim de trazer oportunidades de ressocialização às detentas, existem cursos profissionalizantes oferecidos pelo PRONATEC, onde as mulheres recebem certificados e também ajuda de custo. Além disso, dentro da penitenciária, as oportunidades de empregos envolvem a manutenção da unidade, como serviços de limpeza, costura, capina e alimentação diária. “Elas podem trabalhar também na costura, nós estamos prospectando um curso de corte e costura. A secretaria já está providenciando para que mais internas possam se habilitar. Damos também esses cursos que o Pronatec envia para cá, o último foi de maquiagem, mas já tivemos outros”, afirma a policial Santiago. 

Na  Penitenciária de Teresina, mulheres trabalham na costura e na cozinha, além de realizem cursos profissionalizantes (Foto: Thanandro Fabrício/Sejus)

Segundo as detentas, essas oportunidades as ajudam a passar por este momento difícil e a ter uma garantia de aprendizado depois de saírem dali. “Aqui temos recursos, tem leitura livre, estudo, faço cursos profissionalizantes e isso ajuda na remissão”, diz Vanda Lúcia. 

Edição: Adriana Magalhães
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