Um bicho em formato triangular, com "chifre", "patas" e coloração que lembra uma pedra coberta por lodo. Esse é o aspecto do animal que o pescador François da Silva, o Didu, fisgou no domingo, dia 13, durante pescaria no mar de Atalaia, cidade de LuÃs Correia, litoral piauiense.
A primeira reação foi de medo. "O bicho é muito estranho e eu imaginei que tivesse algum veneno", conta. Em mais de 10 anos pescando pelo litoral piauiense, Didu diz nunca ter se deparado com espécie semelhante.
Desconhecendo o animal, o pescador chegou a afirmar que retirara do mar uma "espécie rara, da idade da pré-história".
O biólogo Alfredo Carvalho Filho, autor do livro "Peixes, Costa Brasileira", conhece há décadas a estranha criatura fisgada no litoral do PiauÃ. O peixe-morcego, como é vulgarmente conhecido, pertence à famÃlia Ogcocephalidae que agrega cerca de 70 espécies - sete das quais já foram registradas no Brasil.
Didu pescou o mais comum de todos. Segundo Carvalho Filho, a Ogcocephalus vespertilio ocorre dos Estados Unidos ao sul do Brasil. O peixe-morcego também não tem nada de veneno, é manso e tem hábitos noturnos. Vive sempre no fundo, seja na areia, lodo ou entre rochas e corais, entre 1 e 150 m de profundidade. O pescador Didu pescava nas obras do Porto de LuÃs Correia, região repleta de pedras e, por isso, propÃcia à ocorrência do animal.
As "patas", na verdade, são nadadeiras adaptadas à vida no fundo do mar. Elas são longas e articuladas, inseridas no final da cabeça e modificadas como se fossem pernas, para que o peixe possa realmente "andar" e caçar.
Outra particularidade do peixe-morcego é a esca, estrutura pontuda percebida na cabeça do animal. Trata-se de um espinho móvel com a ponta carnuda e que o "morcego" agita na sua frente para atrair presas. "AÃ, o peixinho, molusco, verme ou camarão que vem investigar vira jantar, sugado pelo tubo que a boca forma repentinamente. Isso é o que se chama de ‘caça' passiva, porque o morcego também pode ser muito ativo, usando seu chifre para fuçar o fundo e ‘aspirando' pela boca o que achar de comida", descreve Alfredo Carvalho.
Acostumado com a vida marinha e suas curiosidades, o especialista não vê nada demais no peixe-morcego. "É um peixe que não tem nada de diferente, mas o povo acha muito feio e tem medo por isso", especula o biólogo.
Por sorte Didu fotografou o animal antes de devolvê-lo ao mar. "Iam bem pensar que era história de pescador", brinca. Bendita tecnologia.
Veja as fotos tiradas pelo pescador em LuÃs Correia: