Constantemente são noticiados casos de “crimes passionais”, cometidos por paixão, motivados por uma ideia simples e perversa: “Você é meu, e você tem que ser assim e agir assim”. Essa experiência é presente no dia-a-dia de quem vive um relacionamento abusivo.
Ciúme excessivo, controle, comportamento agressivo, desvalorização do que o outro é ou do que faz, desrespeito às pessoas e manipulação, são alguns dos comportamentos presentes em uma relação abusiva. Ela fere a liberdade do outro ou impede que essa pessoa tenha liberdade.
Fotos: Jailson Soares/ODIA
Segundo a psicóloga Milene Martins, esse tipo de experiência pode deixar algumas sequelas. “A vítima tem medo de se relacionar novamente, começa a se perguntar o motivo de ter escolhido uma pessoa com aquelas características e como não percebeu isso antes. As duas pessoas da relação podem sofrer, mas o abusador pode não sofrer tanto, pois usa muito da racionalização”, explica.
Segundo ela, o abusador tem dificuldade em se dar conta de seus problemas, e acaba projetando no outro, colocando responsabilidades no outro, e não assumindo pra si. Argumentos do tipo “você me causa isso”, “você desperta esse comportamento em mim”, faz com que alguns parceiros assumam essa culpa, seja por ser passivo, ou muito dependente do outro.
Relações abusivas podem durar anos. Situações onde o abusado se coloca como submisso, alegando não ter forças suficientes para ir contra o comportamento do parceiro, seja por uma questão emocional ou justificando por questões mais racionais, como a situação financeira, são muito comuns.
Vítima de um relacionamento abusivo, Maria Clara conta que tinha o comportamento controlado. “Meu parceiro queria controlar com quem eu deveria andar, como deveria me comportar, e me colocou em situações que me expuseram ao ridículo”, relata.
Stacy Lemos, militante do movimento Batuque Feminista, conta que também já passou por um relacionamento abusivo, que tentava controlar seu comportamento e chegou ao ponto de agredir. “Ele tentava controlar meu comportamento, usava argumentos do tipo ‘você não pode fazer tal coisa, pois meus amigos vão ver e vai ficar vergonhoso pra mim’, sendo que ele poderia fazer aquilo, mas eu não”, conta.
A militante conta que conhece várias companheiras que passaram por uma série de relacionamentos abusivos, situações com consequências psicológicas e físicas, onde algumas precisaram de acompanhamento médico devido aos traumas sofridos e ao medo de novos relacionamentos.
“É preciso coragem. Primeiramente deve haver amor próprio. Eu sei que é complicado, mas não devemos aceitar essas relações abusivas, pois é nesse aceitar que essas relações vão se perpetuando. Relacionamento abusivo não é algo normal”, finaliza Stacy.
A maioria das vítimas de relacionamentos abusivos são mulheres. Segundo o Mapa da Violência de 2012, os feminicídios geralmente acontecem na esfera doméstica. Verificou-se que em 68,8% dos atendimentos a mulheres vítimas de violência, a agressão aconteceu na residência da vítima.
Pergunte a si mesmo(a) se você está em um relacionamento abusivo.
A Universidade de Virginia elaborou um questionário que ajuda a identificar se você está em um relacionamento abusivo. É necessário que não se procure justificar o comportamento do parceiro(a), e responda apenas sim ou não.
Seu/sua parceiro(a):
• Faz você passar vergonha na frente dos seus amigos ou família?
• Desincentiva suas realizações e objetivos?
• Faz você se sentir incapaz de tomar decisões?
• Usa intimidação ou faz ameaças para conseguir as coisas?
• O(a) trata rudemente – puxa, empurra, belisca ou bate?
• Liga várias vezes ou aparece para se certificar de que você está onde disse que estaria?
• Usa drogas ou álcool como desculpa para dizer coisas que magoam?
• O(a) culpa por como ele(a) se sente ou age?
• O(a) pressiona sexualmente a fazer coisas para as quais você não está pronto(a)?
• O(a) proíbe de fazer coisas das quais você gosta, como passar um tempo com amigos ou família?
Se você responder “sim” para muitas das questões, você provavelmente está em um relacionamento controlador e abusivo.
Fonte: Marcos CunhaEdição: Nayara Felizardo