A Superintendência da Polícia Federal do Pernambuco concedeu entrevista coletiva em Recife e explicou como funcionava o esquema que tem ramificações em mais oito Estados, incluindo o Piauí. De acordo com a PF, a empresa Pernambuco dá Sorte é suspeita de comandar o esquema, que funcionava de modo que o dinheiro arrecadado com a compra dos títulos de capitalização deveria ser destinado a instituições filantrópicas, mas grande parte ia para uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) em Belo Horizonte, o Instituto Ativa Brasil. A entidade seria de fachada para fazer o dinheiro retornar à empresa.
Segundo o G1 Pernambuco, o superintendente da Polícia Federal de Pernambuco, Marcelo Diniz disse que na contabilidade aparecia que 50% da arrecadação com a venda de títulos era destinada para a instituição, mas apenas 1,67% do valor era, de fato, enviado. "Com isso, eles faziam uma manobra financeira�€, explica.
No Piauí, o advogado Igor Cavalcante alega que a investigação quer descobrir se o valor do título de capitalização é de fato repassado às instituições filantrópicas. "O Piauí Cap tem todas as provas de que o dinheiro é entregue. Todos os documentos mostram isso", afirma Cavalcante.
Atualizada às 12h40
Os agentes da Polícia Federal saíram por volta das 9h30 com 15 caixas lacradas e identificadas com etiquetas escritas Promobem 2014 e Ativa 2014. Em seguida, alguns agentes levaram um cofre, colocaram dentro da viatura e saíram com todo o material apreendido. Outra viatura da PF e o carro do advogado do Piauí Cap permaneceram na sede da empresa.
Fotos: Assis Fernandes/ODIA
O site do Piauí Cap está fora do ar. A empresa oferece um Título de Capitalização produzido pela Sul América Capitalização S.A, na modalidade popular, que visa propiciar a participação do comprador em sorteios, sem que haja devolução integral dos valores pagos. Normalmente, esta modalidade é utilizada quando há cessão de resgate a alguma instituição.
No caso, a instituição supostamente beneficiada com o resgate do título é o Instituto Ativa Brasil, que no Piauí apoiaria as entidades Casa Frederico Ozanam, Fundação Ivan Assunção Santiago, Las da Esperança, Lar de Maria e Sociedade de Apoio ao Deficiente Físico.
Segundo o delegado Alex Chagas, que coordena a ação no Piauí, a Superintendência da Polícia Federal do Estado recebeu a ordem na noite de ontem (11) para cumprir apenas um mandado de busca e apreensão. "Todos os documentos apreendidos serão encaminhados para a sede da PF no Recife", disse o delegado, que não tem detalhes sobre a investigação.
O advogado do Piauí Cap, Igor Cavalcante, declarou que ainda não recebeu informações a respeito do sorteio deste final de semana e não sabe dizer se a venda será cancelada. "A empresa não tem sede aqui, mas deve emitir uma nota informando como funcionará os próximos sorteios", disse o advogado.
Atualizada às 10h
A Polícia Federal deflagrou na madrugada desta quarta-feira (12) a Operação Trevo, que investiga as ações do Piauí Cap - Título de Capitalização que sorteia prêmios. A investigação por lavagem de dinheiro e corrupção ativa acontece em 13 estados, onde, segundo a PF, a quadrilha tinha atividades que se estendiam desde a prática do jogo do bicho e máquinas caça-níqueis até a emissão de bilhetes de loteria, travestidos como títulos de capitalização.
Cerca de 300 policiais participam das investigações, que estão sendo executadas, simultaneamente, nos estados de Pernambuco, Alagoas, Amazonas, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Piauí, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul. Ao todo, estão sendo cumpridos 12 Mandados de Prisão Temporária, 24 Mandados de Prisão Preventiva, 57 Mandados de Busca e Apreensão, 47 Mandados de Sequestro de Valores, sequestros de bens imóveis e de veículos de luxo.
No Piauí, duas viaturas da PF estão do lado de fora da sede do Piauí Cap, na avenida Frei Serafim, enquanto uma equipe de policiais recolhe documentos, computadores, HDs e imagens. Os trabalhos contam com apoio da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco, da Superintendência de Seguros Privados e da Receita Federal do Brasil.
O advogado do Piauí Cap, Igor Cavalcante, chegou à sede da empresa e afirmou que não tem muitas informações a respeito da investigação. Ele negou que a venda das cartelas tenha sido suspensas em todo o Estado e acredita que a Polícia Federal esteja realizando procedimentos de rotina.
Foco da operação acontece em Pernambuco
De acordo com a Superintendência da Polícia Federal do Pernambuco, a organização criminosa operava por meio de loterias estaduais cujos valores arrecadados eram repassados a entidades filantrópicas de fachada, fazendo com que o dinheiro ilícito retornasse ao grupo, em um procedimento suspeito, com fortes indícios de lavagem de dinheiro.
Outro segmento do grupo, com sede no Estado de São Paulo, era responsável pelo fornecimento de máquinas eletrônicas programáveis (caça-níqueis) tanto para Pernambuco como para outros Estados e até para o Exterior. Outro ramo, ainda, figurava como instituição financeira seguradora de incontáveis bancas de jogo do bicho do Nordeste, garantindo o pagamento dos prêmios e promovendo lavagem de dinheiro.
O tronco principal da Organização, registrou uma movimentação financeira ilegal estimada em bilhões de reais e atuava, tanto no jogo do bicho, como na comercialização de bilhetes lotéricos travestidos de títulos de capitalização em sua modalidade popular, apropriando-se dos valores que deveriam ser destinados a instituições beneficentes ou revertidos em capitalização, obtendo vantagem ilícita em detrimento do povo.
Os investigados podem responder pela prática dos crimes de contrabando, Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, Jogo de Azar e Lavagem de Dinheiro. Somadas, as penas ultrapassam o limite de 30 anos.
Por: Maria Clara Estrêla (estagiária) e Nayara Felizardo