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Camila se sentia presa e vivia ameaçada, relata amiga de estudante

Familiares de jovem desaparecida relatam a agonia da busca pela estudante e comentam histórico violento do namorado.

31/10/2017 13:00

A casa da jovem Camila Abreu está apinhada de gente desde o último sábado (28). O terraço humilde da residência, localizada no bairro Dirceu, tornou-se um ponto de concentração para notícias sobre a universitária, desaparecida desde a última quarta-feira (25). Nos rostos dos familiares de Camila se vê a dor e o cansaço acumulados em dias de buscas em hospitais, lagoas e matagais. 

O cabeleireiro Jean Carlos de Abreu, pai da jovem, desabafa. “Passei a noite sem conseguir dormir, só batendo de um lado para outro, tendo pesadelos, e nessa agonia. A gente fica sem saber o que fazer, doido para que achem logo o corpo, ou achem ela viva... a gente quer uma solução”, diz.

Presa e ameaçada

Valéria Gomes, amiga da universitária, conta que as duas já conheciam o histórico violento do policial.  Logo quando os dois começaram o relacionamento, Valéria disse que começou a aconselhar que a amiga terminasse.  “Ela já não me convidava para sair com os dois, porque eu cortei relações com ele. Eu disse, muitas vezes: ‘Camila, o que eu posso fazer para te ajudar a sair desse relacionamento? Por que eu sinto que não vai terminar bem’”, relata a amiga. 


Valéria Gomes, amiga de Camila, tentava ajudar a jovem a sair do relacionamento abusivo (Foto: Moura Alves/ODIA)

Segundo Valéria, Camila se sentia presa e vivia ameaçada. “E de uma certa forma, pela convivência, ela foi criando um certo carinho por ele. Ela tentava ajudar ele, falava para ele buscar ajuda. Porque uma pessoa dessas tem problema psicológico. Ela tentava muito ajudar ele no intuito deles terem um relacionamento saudável”, conta.

O relacionamento foi ficando mais conturbado. Durante os dez meses de namoro, Camila começou a perder o contato com a maioria dos amigos. “Nesses últimos dias, ela estava uma pessoa nervosa, apreensiva”, lembra Valéria. “Ela chegou a me mandar fotos chorando, dizendo que não queria mais viver. Às vezes me ligava na madrugada dizendo que ele tinha batido nela”.

Os relatos sobre o relacionamento conturbado do casal só chegaram ao conhecimento da família agora, após a morte de Camila. A jovem contava o que passava para as amigas mais próximas, e pedia que mantivessem em segredo. Olhando para trás, o pai de Camila, Jean Carlos, lembra casos em que a jovem tentou esconder o que vivia com o namorado. “Depois de falar com as amigas dela, me veio na cabeça. Eu acho que foi ele quem quebrou o braço da minha filha”, conta Jean. A menina havia dito a ele, na ocasião, que se machucara numa queda. O pai acredita que a filha era coagida, e tinha medo que o namorado fizesse algum mal a ela ou à família.


Jean Carlos Abreu, pai de Camila (Foto: Moura Alves/ODIA)

Ainda sentados na varanda de casa, onde se reuniram para procurar por Camila, a família agora espera por justiça. O corpo da menina está sendo procurado pela Polícia. Na Delegacia de Homicídios, o delegado Francisco Baretta afirma que há fortes indícios de homicídio e da ocultação de cadáver. “As provas são fortes e harmônicas. No momento oportuno, vamos apresentar o autor do crime”, disse Baretta. 

O policial Allisson Wattson se apresenta na tarde desta terça-feira (31) na Delegacia de Homicídios.

Buscas

O sumiço de universitária começou a preocupar a família na sexta-feira (27). Valéria Gomes, amiga de infância de Camila, conta que ligou para o celular dela e quem atendeu foi um homem. “Ele disse que tinha encontrado o meu celular. Eu disse para ela que não era meu, e pedi que ele me dissesse onde estava o telefone, com exatidão. Ele disse que tinha encontrado há 200 metros do Studio 3 Motel, perto de uma lixeira”, conta Valéria, bastante abalada e sob efeito de calmantes. A jovem vive próximo a Camila desde os quatro anos de idade, e é considerada parte da família.

Valéria avisou aos pais da jovem e ao cabo da Polícia Militar Jadeílton Rodrigues, tio de Camila, que foi até o local buscar o celular. “A preocupação aumentou quando apareceu o celular. Eu passei a investigar por conta própria, mas no sábado eu já tinha certeza que minha sobrinha não estava viva. Não estávamos procurando por Camila, mas pelo corpo dela”, declarou o policial. Apesar de se esforçar para manter a postura e a força na voz, Jadeílton tinha lágrimas nos olhos.


Pessoas se reúne na casa da família de Camila, em busca de informações sobre a jovem (Foto: Moura Alves/ODIA)

Durante o final de semana a família se reuniu na casa onde Camila morava, e passaram a fazer buscas pela menina em matagais e próximo a lagoas. Jadeilton conta que as buscas se encerraram hoje com a confirmação, por parte da Delegacia de Homicídios, de que Camila estaria morta. “Esses dias todos, interruptamente, entrando pela noite, sem hora para comer, nem lembrando de comer”, relata Jadeilton.

As suspeitas da família recaíram sobre o namorado de Camila, um capitão da Polícia Militar de 39 anos, que foi o último a estar com ela. O pai da universitária conta que, no sábado conseguiu falar com o namorado da filha. "Ele disse que havia deixado a menina em casa ainda na quarta-feira. Como uma pessoa diz que viu outra entrar em casa, quando na verdade essa pessoa nunca entrou? É muito estranho né?”, questiona Jean Carlos.

Por conta própria, a família descobriu que o policial militar havia tentado lavar os bancos do carro dele na avenida Maranhão. O lavador, segundo Jean Carlos, se recusou a fazer o trabalho por que os bancos estavam cobertos de sangue. O namorado teria então comprado bancos novos para o veículo, em uma loja do Centro de Teresina.


Edição: Nayara Felizardo
Por: Andrê Nascimento
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