A epidemia de microcefalia, que atemorizou principalmente a região Nordeste entre os anos de 2015 e 2016, já não é mais considerada como situação de emergência nacional desde o último mês de maio, mas ainda desafia pesquisadores e profissionais de saúde no Brasil.
Sobre esse assunto, o Portal O DIA entrevistou a médica e cientista Celina Turchi, que atua como pesquisadora convidada na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de Pernambuco. Ela liderou a equipe que associou, pela primeira vez, a infecção pelo zika vírus em gestantes a casos de microcefalia.
Por causa desse grande feito científico, Celina foi eleita pela revista norte-america Time uma das 100 pessoas mais influentes do mundo no ano de 2017. mundial, incluiu a pesquisadora na lista dos dez nomes de maior destaque da ciência em 2016.
Neste mês, a cientista foi homenageada durante o XXIII Fórum Banco do Nordeste de Desenvolvimento na Categoria Acadêmica. A honraria é destinada a reconhecer pessoas ou instituições que tenham prestado relevantes contribuições para o desenvolvimento do Nordeste.
De acordo com Celina, ainda existem muitas questões a serem respondidas com relação à epidemia. “Os principais desdobramentos das pesquisas realizadas atualmente são o acompanhamento das mulheres grávidas e das crianças que nasceram com microcefalia”, afirma.
Celina Turchi liderou a equipe que associou, pela primeira vez, a infecção pelo zika vírus em gestantes a casos de microcefalia (Foto: Divulgação/BNB)
Com relação às mulheres, ainda não está claro que os primeiros meses de gestação representam o maior risco de infecção pelo vírus zika. “O que nós temos são evidências de que, nos primeiros meses, essa alteração ou infecção poderia causar maiores anormalidades ao feto, mas não se tem com muita precisão se ele seria afetado em qualquer período da gestação. Então, gestantes que foram infectadas estão sendo comparadas. Vários grupos de pesquisa no Brasil estão envolvidos em responder essas e outras perguntas”, afirma Celina.
A pesquisadora destaca outra linha de pesquisa que está em andamento e que acompanha as crianças nascidas com microcefalia. O objetivo é observar as alterações ocorridas para além do tamanho reduzido do crânio. “Ficou bem claro que microcefalia é apenas a ponte do iceberg. Existe um espectro de crianças que foram infectadas intra-útero, que podem inclusive ter perímetro encefálico normal, mas que poderiam apresentar alterações oftalmológicas, auditivas. O que aparecia no início era a manifestação mais grave da síndrome congênita do vírus zika, mas existe uma gama variável de alterações”, comenta.
Celina Turchi acredita que já diminuíram a primeira onda epidêmica de zika e o consequente aparecimento da síndrome congênita no Nordeste, mas alerta para a necessidade de prevenção. “Esse já é um evento esperado nas epidemias. Há uma grande infecção na população, que uma vez infectada fica imune. O que é importante é o que nós sabemos hoje de prevenção, que é reduzir os focos e os criadores de vetores. Fica o alerta para as mulheres grávidas se protegerem, enquanto não se tem uma forma de prevenção via vacina”, orienta a cientista.
De acordo com Celina, existe um grande esforço dos profissionais de saúde e dos pesquisadores de fornecer o atendimento mais especializado possível. “Os casos de microcefalia grave vêm acompanhados de alterações neurológicas muito sérias. Algumas crianças têm dificuldade até de deglutição de comida sólida. Já os casos mais leves não se sabe ainda como as crianças vão ser afetadas do ponto de vista do desenvolvimento cognitivo. É preciso fazer o monitoramento dessas crianças”, afirma.
O Piauí notificou 208 casos de crianças com microcefalia no período de 2015 a maio de 2017. O Centro de Referência em Microcefalia, na Maternidade Dona Evangelina Rosa, já realizou mais de 1300 atendimentos, entre consultas e exames. Após essa assistência, a criança é encaminhada ao CEIR, onde é acompanhada por fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e nutricionistas.
Por: Nayara Felizardo