O Piauí registra cerca de 48 casos de violência nas escolas públicas por mês. É o que aponta o levantamento realizado pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação Básica do Piauí (Sinte/PI).
Somente em 2016, foram quase 600 casos em pouco mais de sete meses, número quatro vezes maior do que o registrado no ano de 2013, quando houve 136 ocorrências. Dentre os registros, os mais comuns são agressão física, furtos, ameaças, arrombamento, uso de drogas, apedrejamento, assaltos, entre outros. Somente nos últimos 15 dias, três casos de violências nas escolas, com agressão fí-sica a professores, foram registrados.
Um deles ocorreu semana passada, quando uma aluna agrediu fisicamente a diretora da Unidade Escolar Firmina Sobreira, na zona Norte de Teresina. O estudante teria se irritado diante das advertências acerca do fardamento inadequado. Já no começo do mês, um professor foi esfaqueado um dia depois de ter impedido uma aluna de colar em uma prova, na Escola Municipal Professora Cristina Evangelista, no bairro Três Andares, zona Sul de Teresina.
Escolas públicas
e particulares
estão sendo palco
de agressões a
professores (Foto: Arquivo O Dia)
Segundo Paulina Almeida, presidente do Sinte-PI, essas situações acabam desestimulando os professores de realizarem seu trabalho e podem ocasionar a evasão escolar dos alunos, devido ao medo e a constante sensação de insegurança. Para Paulina, o poder público deve criar políticas públicas com o intuito de minimizar ou acabar com os casos de violência nas escolas.
“A nossa luta é por escola de qualidade, socialmente referenciada, e não um ambiente desse. Profissionais procuram segurança pública. Temos buscado conversar com esses profissionais e reafirmamos que repudiamos esse tipo de violência”, afirma a presidente do Sindicato.
Outro lado
Para Washington Ferreira, secretário executivo e conselheiro do 1º Conselho Tutelar de Teresina, um dos principais fatores que levam jovens a agredirem os professores são problemas familiares. Além disso, ele aponta que, dentro das escolas, deveria existir uma equipe multidisciplinar com psicólogos e psicopedagogos para atender o corpo estudantil.
“O que temos aqui é que a instituição família está quase falida. Os princípios morais estão fugindo do controle dos pais e os pais querem jogar a situação para o Estado. Em relação às escolas, existe a política inclusiva, que deveria ser aplicada; deveria ter um cuidador específico para cada aluno com deficiência, por exemplo”, fala.
O conselheiro sugere ainda que as escolas convidem a entidade para dar palestras juntamente com os pais e alunos, a fim de fortalecer a parceria entre as instituições de ensino, a família e o Conselho Tutelar.
“Geralmente, o Conselho só faz o acompanhamento tanto da escola como do adolescente, dos pais ou da famí- lia. Tem delegacia especializada que trata especificamente dessas situações e compete à ela fazer a audiência e aplicar penalidade que achar necessá- ria [nos casos da violência cometida]”, explica Washington Ferreira.
“Não cabe à Polícia realizar o trabalho que deveria ser feito pelos pais” Em relação ao policiamento feito em casos de violência escolar, a responsabilidade é da Companhia Independente de Policiamento Escolar (Cipe). De acordo com o capitão Antônio Carmo Bezerra, subcomandante da Companhia, a Cipe não atua somente com policiamento ostensivo no perímetro das escolas, mas também no caráter pedagógico, realizando atividades preventivas. No entanto, não cabe à Polícia Militar realizar o trabalho que deveria ser feito pelos pais dos alunos, que é o da educação dentro de casa, é o que fala o subcomandante. Ele comenta que o crescimento dos casos de violência está relacionado à falta de regras impostas pelos pais dos estudantes e ao não acompanhamento familiar nas atividades escolares.
“Durante essas palestras, percebemos que a grande ausência dos pais. Os diretores relatam isso também. Em casa, muitos alunos adotam uma postura e na ausência dos pais é outra. Isso acaba gerando vários atos infracionais na escola e termina no chamamento das nossas viaturas”, acrescenta.
Além disso, o capitão Antônio Carmo opina que seria necessária uma sala do Conselho Tutelar nas unidades escolares. “Não seria possível a permanência de ronda policial dentro das escolas porque a PM faz manutenção de segurança pública”, explica.
Professor relata ameaças
O problema da violência escolar não é restrito às escolas públicas. O professor Danilo Bastos relata que já sofreu ameaças de um aluno, em uma escola particular de Teresina. Ele conta que chamou a atenção do aluno três vezes e, na quarta, pediu para ele mudar o local onde estava sentado. O professor chamou a coordenação da escola, mas também não resolveu.
“O aluno disse pra eu tomar cuidado que ele ia me surpreender com uma facada. O dono da escola me chamou e falou que era para ter um pouco de paciência porque, possivelmente, era um aluno envolvido com drogas e, por isso, ficava agressivo”, fala.
Além disso, Danilo comenta que o professor anterior teria deixado o colégio por problemas envolvendo o mesmo aluno. Ele não chegou a denunciá-lo, mas a partir do episódio, Danilo passou a ter mais atenção ao passar pelos corredores da escola.
Assim como professores da rede pública de ensino, o professor da rede particular afirma que se sente desprivilegiado com ameaças e agressões físicas no ambiente escolar. “Eu trabalho e estudo para ter conhecimento e tentar repassar esse conhecimento e, além da pouca valorização financeira, não há respeito, e a agressão não é somente física, é verbal também. Todo professor sabe que temos agressão diariamente, hoje o aluno não tem respeito”, conclui.
Por: LetÃcia Santos - Jornal O Dia