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Diretor da Santa Fé responde a processo por homicídio culposo de paciente

O processo diz respeito à morte de uma paciente no oitavo mês de gestação atendida na urgência da maternidade Santa Fé pelo obstetra Valdir de Brito.

14/05/2017 08:04

O ginecologista e obstetra Valdir Pessoa de Brito, atual diretor da Clínica e Maternidade Santa Fé, está respondendo a um processo criminal por homicídio culposo e falsidade ideológica. Além disso, ele também foi denunciado ao Conselho Regional de Medicina, bem como na esfera civil por danos morais e materiais.

Todas as ações foram movidas por Evando Carvalho de Vasconcelos, que perdeu a esposa Francisnice Carvalho de Vasconcelos há dois anos, logo após o parto. Ele quer a condenação criminal do médico e ainda pede uma indenização de mais de R$ 5 milhões em desfavor de Valdir de Brito e da Clínica Santa Fé.

Todo o drama da família começou no dia 25 de outubro de 2014 e ainda está longe de um desfecho. Naquela data, no oitavo mês de gestação, Francisnice teve um sangramento e precisou recorrer à urgência da maternidade Santa Fé, onde foi atendida pelo obstetra Valdir de Brito.

Evando conta que a esposa tinha uma gravidez de risco. “Foi diagnosticada ainda no pré-natal com placenta prévia (posicionada em um local que provoca obstrução total ou parcial do colo do útero). Ela teve sangramento em outras ocasiões, mas o problema foi tratado corretamente e não houve complicações”, relata o marido.

O primeiro erro do médico, de acordo com Evando, foi a realização do exame de toque. “Devido à localização da placenta, ele não deveria ter feito o procedimento. Isso agravou o quadro de hemorragia”, afirma.

Inquérito

De acordo com o inquérito policial do delegado Mauro André Miranda, Francisnice deu entrada na maternidade às 21h e somente às 23h30 foi submetida à cesariana, que terminou por volta das 00h30. Somente três horas após a primeira cirurgia, quando a paciente continuava sangrando, é que foi realizada a histerectomia (retirada do útero).

Para questionar o procedimento, o delegado acrescenta um trecho do laudo pericial realizado no IML. “Caso medidas clínicas não fossem suficientes para cessar o sangramento, a histerectomia, conforme a doutrina e protocolos, tem que ser imediata, o que não vislumbramos nas anotações do prontuário”.

Outro erro médico é apresentado pelo laudo histopatológico, realizado no útero depois que o órgão foi retirado da paciente. “Havia restos placentários na cavidade uterina, sendo que a permanência desses restos impede a contração do útero, levando à hemorragia intensa”.

Para o delegado, essa foi a causa da morte, que justifica o indiciamento por homicídio culposo. A presença de placenta no útero foi confirmada pelo laudo de exumação do corpo, realizada no dia 28 de maio de 2015.

Já o crime de falsidade ideológica teria sido praticado pelo médico quando ele tentou esconder os erros cometidos. A estratégia de Valdir de Brito, segundo aponta o inquérito, foi atestar que a paciente tinha placenta percreta, um problema mais grave do que o que Francisnice realmente teria. “O investigado tentou camuflar sua responsabilidade”, diz o delegado Mauro André.

O inquérito foi concluído há mais de um ano e o Ministério Público ofereceu a denúncia, que foi acatada pela justiça. O caso está na 4ª Vara Criminal de Teresina e a família de Francisnice aguarda a primeira audiência.

Processo Civil

Na última terça-feira (09) aconteceu a audiência de conciliação na 10º Vara Cível, mas não houve acordo entre as partes.

Evando exige do médico Valdir de Brito e da Clínica Santa Fé uma indenização de R$ 5 milhões e 360 mil. “Houve negligência do profissional e da maternidade. Minha esposa foi transferida da clínica para a UTI de outro hospital em uma ambulância comum. Mas ela já estava em choque, precisava de uma UTI móvel”, destaca o marido.

Assim que chegou ao hospital onde ficaria internada na UTI, por volta das 6h, Francisnice teve uma parada cardíaca. Ela ainda foi reanimada, mas às 12h30 morreu.

CRM

A denúncia oferecida ao Conselho Regional de Medicina segue em sigilo. Evando já foi ouvido, mas a audiência para o depoimento do médico não aconteceu. A defesa teria alegado que o obstetra já havia sido absolvido em outro procedimento administrativo sobre o mesmo caso, mas Evando contesta a afirmação.

Contraponto

Em nota, a advogada do médico Valdir de Brito, Priscila Nascimento, afirma que a paciente procurou o atendimento de urgência na Maternidade Santa Fé por ser uma referência no Estado, e que foi prontamente foi atendida.

A advogada acrescenta que, logo após a avaliação, a paciente foi encaminhada ao centro cirúrgico para a realização de um parto cesárea de urgência. “A criança nasceu saudável e a mãe, por já possuir sérios problemas patológicos, foi conduzida a um hospital particular de Teresina, saindo com vida do local e hemodinamicamente estável”, diz o texto.

Em defesa do médico, a maternidade destaca que o atual diretor atende desde a fundação da clínica, sem nenhuma reclamação. “Todos os fatos serão apurados no decorrer do processo, onde será comprovada sua inocência”, conclui a nota.

Por: Nayara Felizardo
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