O ex-policial militar Ronnie Lessa, acusado de assassinar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes em março de 2018, delatou o ex-deputado estadual e conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro, Domingos Brazão, como mandante do crime.
A informação foi divulgada pelo site Intercept Brasil, que a confirmou com fontes envolvidas na investigação. Em nota, a Polícia Federal negou a existência de um acordo de delação com Lessa, o qual precisaria ser homologado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) devido ao foro privilegiado de Brazão.
Segundo o Intercept, o conselheiro do Tribunal de Contas do Rio, à época filiado ao MDB, teria encomendado a morte de Marielle como forma de “vingança” contra o ex-deputado estadual e presidente da Embratur, Marcelo Freixo, antes nos quadros do PSOL e atualmente no PT.
A vereadora trabalhou como assessora de Freixo durante dez anos na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) e presenciou diversos embates entre o ex-deputado e o colega parlamentar Brazão. Em 2016, Marielle concorreu à Câmara Municipal do Rio pelo PSOL e foi eleita com mais de 46 mil votos.
Possível motivação do crime
Os conflitos entre Freixo e Brazão começaram quando, em 2008, o relatório final da CPI das Milícias, presidida pelo hoje presidente da Embratur, apontou o nome do delatado por Ronnie Lessa como um dos candidatos liberados para realizar campanha em Rio das Pedras, bairro carioca dominado pela milícia.
Em 2019, Brazão chegou a ser acusado formalmente pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de obstruir investigações do caso. O ex-deputado também foi investigado pelo Ministério Público estadual, pela Polícia Federal e pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), que não encontraram provas contra ele.
Ao Intercept Brasil, o advogado do conselheiro, Márcio Palma, declarou não estar ciente da delação de Lessa e acompanhar o caso pela imprensa, já que o pedido de acesso aos autos do inquérito foi negado. Brazão também negou qualquer envolvimento com o crime.
Na rede social X, antigo Twitter, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, escreveu que desvendar a resposta do crime configura um “dever do Estado Brasileiro”. A titular da pasta federal é irmã de Marielle.
“Recebi as últimas notícias relacionadas ao caso Marielle e Anderson e reafirmo o que dizemos desde que a tiraram de nós: não descansaremos enquanto não houver justiça. A nossa família aguarda os comunicados e resultados oficiais das investigações e está ciente do comprometimento das autoridades para a resolução do caso”, afirmou.
Relembre o caso
Marielle Franco e Anderson Gomes foram assassinados a tiros em 14 de março de 2018, no Rio de Janeiro. A vereadora do PSOL e o motorista foram vítimas de uma emboscada enquanto voltavam de um evento na Lapa, zona central da capital fluminense.
Ativista pelos direitos humanos e da população negra, Marielle criticava a violência policial, a atuação das milícias e o governo do então presidente Michel Temer (MDB). Anderson Gomes era motorista de aplicativo e trabalhava para a vereadora.
A investigação do crime, conduzida inicialmente pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, foi federalizada em 2023. Até o momento, além de Ronnie Lessa, acusado de assassinar a dupla, o também ex-PM Élcio de Queiroz é acusado de dirigir o veículo utilizado na execução.