Nesta quinta-feira (21) é celebrado o Dia Internacional Contra a Discriminação Racial, cujo intuito é reconhecer a batalha e as conquistas de direitos sociais para todas as raças. A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em memória ao Massacre de Sharpeville, que ocorreu na África do Sul em 1966. O dia também tem sua relevância por trazer temas significativos para discussão, como o racismo estrutural e o letramento racial.
Antes disso, é preciso compreender melhor esses termos. O racismo estrutural é o racismo presente na própria estrutura de uma sociedade, devido à negligência do Estado. Halda Regina, presidente do Instituto da Mulher Negra do Piauí - Ayabás, a estrutura do racismo afeta, especial e diretamente, o modo como as pessoas negras vivem, a partir do momento que o poder público não investe em políticas públicas, como escolas, saneamento básico, entre outros serviços, que ofereçam uma qualidade de vida para essa população.
Segundo a presidente do Instituto da Mulher Negra do Piauí, as pessoas que não tem a pele escura acreditam ser privilegiadas devido a essa condição, considerando-se superiores por terem acesso a mais políticas públicas e por não sofrerem racismo em locais públicos. Ainda de acordo com Halda Regina, o racismo estrutural exclui a população negra desses espaços.
“Ouvimos essas pessoas dizendo que não recebem alimentos de pessoa negra ou que não podemos estar no mesmo espaço no elevador que elas, mas a sociedade não percebe isso, que a pessoa negra não tem oportunidade pela cor dela. O racismo divide as pessoas, fazendo com que um grupo racial sofra consequências da pobreza, da desigualdade e negligências estatais em detrimento de uma população que ascende nesse país”, enfatiza.
O letramento racial é um processo de reeducação
O letramento racial é um processo de reeducação racial que reúne um conjunto de práticas com o intuito de desconstruir formas de pensar e agir naturalizadas e normalizadas socialmente, em relação a pessoas negras e pessoas brancas. Nesse contexto, o letramento racial surge como uma proposta de mostrar para a sociedade uma outra história da população negra, ressignificando o que foi aprendendo sobre essa população.
“É preciso entender que não somos apenas números, como os índices negativos do país ou o enorme número de pessoas negras dentro dos presídios. Somos também pessoas com nível de intelectualidade, que estamos em todas a áreas, seja na política, na ciência, na saúde, na tecnologia, na cultura, que estamos em cargos de direção. Dizendo que o movimento racial vê racismo em tudo, mas, o que nós vemos, é o racismo que está presente em todo lugar”, enfatiza Halda Regina, presidente do Instituto da Mulher Negra do Piauí - Ayabás.
A representante do movimento negro pontua que algumas atitudes e ações consideradas “brincadeiras”, na verdade, podem ser ofensivas para a população negra. “Quando a pessoa diz que um negro lhe causa medo, é preciso entender o que essa pessoa aprendeu na escola. O letramento racial tem que ser falado nas escolas, para que se tenha outro tipo de abordagem. É preciso falar para a sociedade que somos humanos, pois ainda somos vistos como algo, menos como pessoas que merecem respeito e tratamento digno”, enfatiza Halda.
A dor que o racismo causa
A presidente do Instituto da Mulher Negra do Piauí - Ayabás, Halda Regina, lembra que o racismo fere, não apenas a dignidade da pessoa, mas afeta, também, o psicológico desse indivíduo. Esse adoecimento mental pode se estender ao longo de toda vida da pessoa, gerando traumas incuráveis.
“Muitas crianças sofrem preconceito na escola e isso precisa ser mudado. Sofremos e adoecemos não somente quando acontece com a gente, mas quando presenciamos outra pessoa passando por isso. O racismo mexe com nosso emocional. Quando eu era coordenadora da Mulher, muitas pessoas não se dirigiam a mim, mas a outras pessoas que tinham a pele mais clara, por eu ser negra. Você acaba questionando sua capacidade e seu intelecto, pois absorvemos essas coisas e muitas acabam acreditando que realmente não são capazes”, cita.
Expressões racistas que devem ser evitadas
- “Cor do pecado”: utilizada como elogio, se associa ao imaginário da mulher negra sensualizada. A ideia de pecado também é ainda mais negativa em uma sociedade pautada na religião, como a brasileira.
- “Denegrir”: sinônimo de difamar, possui na raiz o significado de “tornar negro”, como algo maldoso e ofensivo, “manchando” uma reputação antes “limpa”.
- “A coisa tá preta”: a fala racista se reflete na associação entre “preto” e uma situação desconfortável, desagradável, difícil, perigosa.
- “Serviço de preto”: a palavra preto aparece como algo ruim, representando uma tarefa malfeita, realizada de forma errada, em uma associação racista ao trabalho que seria realizado pelo negro.
- “mercado negro, magia negra, lista negra e ovelha negra”: a palavra ‘negro’ representa algo pejorativo, prejudicial, ilegal.
- “Inveja branca”: expressão que associa o negro ao comportamento negativo. Inveja é algo ruim, mas se ela for branca é suavizada.
- “Criado-mudo”: o nome do móvel que geralmente é colocado na cabeceira da cama vem de um dos papéis desempenhados pelos escravos dentro da casa dos senhores brancos. como o empregado não poderia fazer barulho, era considerado mudo.
- “Feito nas coxas”: a origem da expressão popular "feito nas coxas" deu-se na época da escravidão brasileira, onde as telhas eram feitas de argila, moldadas nas coxas de escravos.
- “Preto de alma branca”: tentativa de elogiar uma pessoa preta fazendo referência à dignidade dela como algo pertencente apenas às pessoas brancas.
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