Em 2023, a vida e a rotina dos alunos do Colégio Técnico de Teresina (CTT), da Universidade Federal do Piauí (UFPI), tiveram uma reviravolta que talvez nem eles mesmos esperavam. Durante a realização de um projeto de pesquisa, que abordava a dificuldade da escrita dos estudantes, um questionamento foi levantado: como aprender a escrever bem se esses alunos não têm acesso a livros?
Essa inquietação foi suficiente para que os estudantes começassem um projeto que traria grandes conquistas e marcaria a história do CTT, que possui sete décadas de existência. Uma das autoras dessa ideia foi a estudante Clara Santana (19), aluna do 3º Ano do Ensino Médio, concomitante com Técnico em Agropecuária. À época, ela cursava o 1º Ano e fazia parte do grupo de pesquisa coordenado pela professora de Língua Portuguesa do CTT, Elizabeth Gonçalves.
“Estávamos discutindo porque os alunos têm tanta dificuldade de escrever, mas, no começo da pesquisa, percebemos que não tinha como falar de escrita se não falar de leitura. Até temos uma biblioteca, mas não tínhamos local para ler livros, pois os livros ficam atrás dos bibliotecários e não podemos entrar, e na biblioteca setorial da UFPI não há livros didáticos. Começamos a discutir e a sonhar com a ideia de uma sala de leitura, conversamos com a direção do CTT e eles nos cederam esse espaço”, comenta a aluna.
O espaço, antes utilizado como depósito, começava a ganhar forma. Prateleiras foram colocadas no local, mas de nada adiantava se não tivesse o principal: os livros. Enchê-las era um desafio, e foi isso que os alunos fizeram. Promoveram a Gincana Cultural Solidária do CTT em que uma das provas era arrecadar livros para o acervo, em que conseguiram juntar 1.700 exemplares. Alguns professores do Colégio e da Biblioteca Central da UFPI também aderiram à iniciativa e doaram livros para a futura sala de leitura.
A primeira edição teve tanto sucesso que, em 2024, os estudantes realizaram a segunda edição, arrecadando mais 1.500. Com mais de 3.300 exemplares, os alunos comemoram a realização de um sonho. Uma conquista dos estudantes, destaca a professora Elizabeth Gonçalves, que fala orgulhosa da iniciativa dos alunos.
Para atrair os alunos à sala de leitura, são desenvolvidas algumas estratégias, como a parceria feita com os professores de Português e Matemática, na qual os alunos registram os livros lidos em um determinado período e ganham pontos por isso, ou a ação chamada de “Leitores do mês”.
A sala de leitura também é usada para realizar outras atividades, como oficinas de crônicas e contos, seminários, bate-papos e rodas de conversa. Todas essas ações são feitas pelos alunos do 1º, 2º e 3º Ano do CTT e divulgadas nas redes sociais, através do perfil “Vire a Página”. Esses estudantes também elaboram redações, sendo lapidados para participarem de concursos, como o do Jovens Escritores, promovido pelo Sistema O Dia.
“Queremos colocar esses alunos em circuitos brasileiros que abordam a leitura e a escrita. Tivemos conhecimento dos Jovens Escritores porque pesquisamos sobre concursos dessa modalidade. Inclusive, o tema da prova mensal de Português foi a temática cobrada no concurso dos Jovens Escritores. Trouxemos os textos, pesquisamos e enviamos os trabalhos daqueles alunos que quiseram participar do concurso”, explica a professora Elizabeth Gonçalves.
No concurso Jovens Escritores de 2024, quase 75% dos alunos do CTT inscreveram seus trabalhos. Foram mais de 100 redações de alunos do 1º Ano, 30 redações do 2º Ano e mais 40 redações do 3º Ano. A prática da leitura e da escrita rendeu frutos. A aluna Maria Eduarda conquistou o 1º lugar no concurso Jovens Escritores, em 2023, e, este ano, ela alcançou o 2º lugar.
Um feito que a professora Elizabeth Gonçalves espera ser vivido por outros estudantes do CTT. “Os alunos ainda têm o complexo de que, por serem de escola pública, não vão ganhar concursos de redação, mas isso não é verdade, pois também estudamos e aprendemos sobre qualquer assunto. Já colocamos [o concurso Jovens Escritores] como conteúdo escolar, não pelo prêmio, mas pela discussão que o tema traz”, conclui a docente.
Para a estudante, a sala de leitura tem uma simbologia que vai além de um espaço para ler livros.
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