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Como diminuir o calor em casa? Arquiteta dá dicas para projetar ambientes mais agradáveis

Passar calor é algo que ninguém quer, ainda mais se for dentro de casa e o endereço for em Teresina. A capital piauiense é conhecida por ter altas temperaturas durante a maior parte do ano e se tem algo no qual quem vive aqui é perito é em dar um jeitinho de amenizar o desconforto que o calor causa.

Em geral, nos períodos mais quentes do ano aumenta o consumo de energia em Teresina por conta do intenso uso de condicionadores de ar e ventiladores para aplacar o calor. Mas as soluções para tornar o ambiente interno mais agradável vão além de ventilação artificial. Algumas adaptações na arquitetura da casa ou do apartamento são também grandes aliadas na hora de melhorar a sensação de bem-estar.

O conforto térmico do ambiente está diretamente ligado à forma como ele foi projetado para receber radiação solar e vento. É o que explica a professora Ana Lúcia Silveira, do Departamento de Construção Civil e Arquitetura da UFPI.

“O conforto térmico é a sensação de bem-estar que se tem dentro de um ambiente e isso varia de pessoa para pessoa. Ele depende de vários fatores como a temperatura, a umidade relativa do ar, o metabolismo de cada um. Mas também está relacionado com a arquitetura do ambiente em que se vive. O material que utilizamos numa edificação, as cores, a posição daquela construção. Tudo isso vai impactar diretamente no conforto térmico”.

Ana Lúcia SilveiraArquiteta e professora da UFPI
Divulgação
Conforto térmico está ligado à forma como uma construção foi projetada

Por isso é importante conhecer o clima da região em que se vive antes de construir ou projetar qualquer edificação. E em localidades como Teresina, por exemplo, onde há uma grande concentração de calor por boa parte do ano, esses aspectos devem ser ainda mais analisados. A primeira dica que a arquiteta dá é observar o nascer e o pôr do sol para evitar construir a fachada principal da edificação para o Oeste. Com isso, se evita que a casa ou apartamento pegue sol durante a tarde, período mais quente do dia.

“Evite fachadas orientadas para o Oeste, porque senão a edificação vai pegar todo o sol da tarde. Aqui em Teresina nós ainda vemos isso de edifícios com grandes fachadas voltadas para o Oeste. Se não houver uma proteção contra a radiação intensa, não vai ter outra possibilidade para este ambiente que não o ar-condicionado. E aí o que poderia ser economia acaba se tornando carestia: manter um ar-condicionado ligado é mais gasto”, explica Ana Lúcia.

Outra dica que ela dá é para o material utilizado nessas fachadas. Evitar usar vidro é outro ponto importante. Por mais que seja um material que confere beleza e luminosidade ao ambiente, o vidro contribui para o aquecimento interno do ambiente se for empregado em espaços voltados para o sol ou que tomam sol durante a maior parte do dia. É como se o espaço virasse uma espécie de estufa.

“Vivemos em uma cidade onde a radiação solar é muito alta. Precisamos de sombreamento e ventilação no período da tarde e seu ambiente não vai ter isso se forem usadas fachadas de vidro. Ele tem muitas vantagens porque facilita a iluminação que faz ligação interior-exterior, mas o grande problema é quando está exposto ao sol. Temos que pensar em formas de sombrear esse vidro com brises metálicos ou cortinas”.

Ana Lúcia SilveiraArquiteta e professora da UFPI
Jailson Soares/O Dia
Uma das dicas é evitar levantar edificações com a fachada principal voltada para o Oeste

Atenção para a escolha das cores na hora de decorar o ambiente

Quando crianças, na escola, aprendemos sobre as cores quentes e cores frias e as sensações que elas nos passam visualmente. Estas sensações são mais que simplesmente visuais. Há determinados tons que de fato aquecem ou esfriam o ambiente e isso está ligado, também, com a luminosidade que o espaço recebe.

Em locais de clima quente e abafado como Teresina, investir em cores claras na hora de decorar um espaço pode ser uma boa solução para tornar o ambiente mais agradável com um microclima mais ameno. É que as cores claras ajudam a refletir a radiação solar e evitam que o ambiente interno se aqueça. Ao contrário delas, as cores escuras têm maior capacidade de absorver a luz, o que torna a sensação térmica (calor) mais desagradável.

Cores como o preto, o vermelho, o laranja e o amarelo estão ligadas à sensação de calor. A dica é evitar usá-las em ambientes com intenso recebimento de radiação solar. Já cores como o branco, o cinza claro, o azul claro e o creme ajudam a refletir mais a luz solar, o que contribui para a diminuição da sensação de calor dentro de casa.

A cor é tão importante na hora de dar mais frescor em ambientes internos quanto o material empregado na edificação. Às vezes, o tipo de telha ou de tijolos pode não ser o mais indicado para aplacar o calor, mas se estiver revestido com uma cor adequada, a sensação de quentura diminui.

“Se a fachada for na cor branca, por exemplo, não importa nem se foi feita em tijolo maciço ou tijolo vazado. Cores claras ajudam bastante na hora de diminuir o calor de um ambiente e isso se percebe inclusive nas telhas e não só nas paredes. Temos as telhas de cerâmica que são muito comuns em Teresina e que nem sempre precisam ser na cor vermelha. Ela pode ser na cor creme ou na cor branca, que também facilitam a reflexão do sol e a redução do calor”.

Ana Lúcia SilveiraArquiteta e professora da UFPI
Reprodução/TV Brasil
A escolha das cores na hora de projetar uma edificação também influencia no conforto térmico

Vale a máxima de que casa é menos quente que apartamento?

Ana Lúcia diz que isso é muito relativo. Um edifício alto em Teresina, por exemplo, tem as vantagens da ventilação natural nos apartamentos mais elevados já que não há construções vizinhas para bloquear a passagem do vento. Mas se ele tiver a fachada principal (quartos e dala) orientada para o Oeste, pode se tornar mais quente que uma casa que está mais próxima do chão e que tem a fachada na sombra pela maior parte do dia.

Tudo está relacionado ao entorno. “Imagina uma casa sem vegetação ao redor. Ela vai ser quente mesmo que seu projeto obedeça a todas as diretrizes de conforto térmico. Do mesmo jeito há condomínios de prédios baixos em que um prédio pode fazer sombra de vento para o outro e isso acaba prejudicando a ventilação. Existem também condomínios de casa em que uma construção é de frente para a outra com uma rua no meio. Tem casas que vão ficar na sombra a maior parte do dia e casas que vão pegar sol a maior parte do dia”, discorre Ana Lúcia.

Ela finaliza afirmando que para Teresina a grande questão para o conforto térmico está também na arborização. A cidade, conforme ela explica, precisa de mais vegetação porque são as árvores que contribuem para o aumento da umidade e para o sombreamento urbano. “Edificações em área arborizadas estão dentro de um microclima mais agradável com ventilação adequada e incidência de luz na medida certa. É isso que precisamos pensar também: na arquitetura exterior e não só no ambiente que queremos tornar mais frio”, finaliza.