Um levantamento da rede MapBiomas constatou que nos últimos 38 anos o Piauí perdeu 2,3 milhões de hectares de suas florestas naturais. Os dados apontam que o estado teve desmatado 9% de todo o seu território florestal, em 1985, 83% do território piauiense era coberto por florestas naturais, já em 2022, ano do estudo, esse número caiu para 74%. O principal fator de devastação foi a apropriação da agropecuária e o bioma mais destruído neste período foi o cerrado que perdeu em todo o país 27% da sua composição original.
A Secretaria do Meio Ambiente e recursos hídricos do Piauí foi procurada pela reportagem do Sistema O Dia, porém não respondeu oficialmente até a publicação da matéria.
A destruição da floresta natural corresponderia a mais de dois milhões de gramados com o mesmo tamanho do Albertão. Segundo o estudo publicado, o Piauí foi o terceiro estado do Nordeste que mais devastou suas florestas naturais. Em primeiro lugar vem o vizinho Maranhão que reduziu 7,08 milhões de hectares de floresta, em segundo vem a Bahia que devastou 4,65 milhões de hectares. Os estados da região que menos tiveram redução das florestas naturais foram Sergipe, Alagoas e Paraíba.
Para a coordenadora científica do MapBiomas, Julia Shimbo, a redução das florestas no país representa um risco direto à vida da população.
No âmbito nacional a área ocupada por florestas naturais passou de 581,6 milhões de hectares para 494,1 milhões de hectares, uma redução de 15% nos últimos 38 anos. Os últimos cinco anos, porém, responderam por 11% dos 87,6 milhões de hectares de florestas naturais suprimidas nestes 38 anos. Desse total, mais de 75 milhões de hectares estavam em propriedades privadas.
O mapeamento de florestas naturais abrange tipos diversos de cobertura arbórea: formações florestais, savanas, florestas alagáveis, mangue e restinga. Juntos, esses ecossistemas ocupam 58% do território nacional. Quando todos eles são considerados, Amazônia (78%) e Caatinga (54%) são os biomas com maior proporção de florestas naturais em 2022. Os biomas que mais perderam florestas naturais entre 1985 e 2022, por sua vez, foram Amazônia (13%) e Cerrado (27%).
Florestas naturais convertidas para o Agronegócio
Segundo a pesquisa divulgada a quase totalidade (95%) da conversão de florestas naturais no Brasil foi para a agropecuária, ou seja, após o desmatamento a área foi convertida para uso agropecuário – seja pastagens ou cultivo agrícola. Nas duas primeiras décadas da série, o órgão observou um aumento da perda de florestas, seguido de um período de redução da área desmatada a partir de 2006. No entanto, nos últimos cinco anos houve um aumento da perda de florestas, chegando a quase 10 milhões de hectares.
Dois terços do total suprimido entre 1985 e 2022 (58 milhões de hectares) correspondem a formações florestais, que tiveram uma redução de 14% em 38 anos, ou aproximadamente 1,6 milhão de hectares por ano. Formações florestais são áreas de vegetação com predomínio de espécies arbóreas e dossel contínuo como as florestas que tipicamente predominam na Amazônia e Mata Atlântica.
Transformação atinge cerrado e caatinga no Piauí
De acordo com os dados o desmatamento do Cerrado nos estados da Bahia e do Piauí aumentou 88% em janeiro de 2023 em relação ao mesmo período em 2022, segundo dados do SAD Cerrado (Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado). No Piauí, o bioma teve 9,5 mil hectares desmatados, um aumento de 120% em relação ao mesmo período do ano passado, quando 4,3 mil hectares foram derrubados. Já na Bahia, o aumento foi de 64%, totalizando 9,3 mil hectares desmatados contra 5,6 mil hectares no ano anterior.
O crescimento nos estados vem na contramão da tendência observada no resto do bioma. No total, o Cerrado teve 46,5 mil ha desmatados em janeiro de 2023, uma redução de 16% sobre os 55,3 mil ha desmatados no mesmo mês em 2022. E uma redução de 24% em relação a janeiro de 2021, quando 60,9 mil ha foram derrubados.
Para a pesquisadora da equipe do Cerrado no MapBiomas, Barbara Costa, o ritmo acelerado de desmatamento é alarmante.
“Em biomas como no Cerrado e na Caatinga, que já perderam parte significativa de sua vegetação nativa, o ritmo do desmatamento das savanas é alarmante, principalmente na região do Matopiba, que ainda apresenta grandes remanescentes deste ecossistema, mas que estão sendo convertidos para a expansão da agropecuária”, finalizou.