Em nome do pai, do filho e dos parentes políticos. Metade dos deputados estaduais da Assembleia Legislativa do Piauí terá familiar disputando o pleito eleitoral deste ano. Esposa, pais, filhos, irmãos e sobrinhos dos parlamentares brigarão por cargos nos executivos e legislativos municipais de doze cidades, em um fenômeno classificado pela ciência como “herança política”, marca registrada na história do Piauí desde o período do Brasil Império.
Ao todo, seis pais de deputados estaduais disputarão o pleito este ano. Em Piripiri, o candidato é o pai do deputado Marden Menezes (PP), Luiz Menezes. Ele concorrerá ao sexto mandato. Também disputarão o pleito: em Porto Alegre do Piauí, o pai de Gustavo Neiva (PP), Avelino Neiva; em Miguel Alves, o pai de Oliveira Neto (PT), Oliveira Júnior. Já em Picos, Gil Paraibano, pai de Aldo Gil (PP), também disputa a reeleição. Em Campo Maior, o ex-deputado Dógim Félix (PP) verá o pai, Joãozinho Félix, na disputa pela reeleição no comando da cidade.
O cientista político Germano Lúcio explica os motivos que levam ao alto índice de candidaturas familiares.
“Esse fenômeno é conhecido como herança política. Ele é muito comum no Brasil e não é uma coisa só do Piauí, está muito presente de norte a sul do país. A gente estuda na ciência política, pelo viés do estudo das elites políticas, com a ascensão e aquisição de espaços de poder por parte de membros dessas famílias que vão repassando a herança, transformando um espaço público de acesso democrático eleitoral como se fosse um patrimônio passivo da própria família”, afirma o professor.
Dentre os casos que se destacam, chama a atenção a situação da deputada Janaína Marques (MDB), secretária de Desenvolvimento Econômico. O marido da parlamentar, Alderico Tavares, disputará a prefeitura de um reduto histórico da deputada, a cidade de Joca Marques. A irmã de Janaína, Fernanda Marques, concorrerá à reeleição em Luzilândia.
Para a ciência política, as candidaturas familiares facilitam a vida dos parentes, não tanto pelo nome da família, mas pelo poder político advindo dos cargos ocupados, já que, quem detém desse poder poderá sair na frente na corrida eleitoral.
Fenômeno não é específico do Piauí
O fenômeno de herdeiros dominando o cenário político não é exclusivo do Piauí. Um levantamento feito pela Agência Brasil mostra que, nos 200 anos de Senado Federal, a corte teve predominância de parlamentares homens e herdeiros políticos. Desde a redemocratização até a última eleição, cerca de dois em cada três senadores eleitos vieram de famílias políticas. Além disso, nove de cada dez eleitos são homens. Apenas quatro mulheres negras foram eleitas para o Senado entre 1986 e 2022.
Dos 407 mandatos disputados nesse período, 274 deles, o equivalente a 67% dos cargos, foram ocupados por pessoas com vínculos familiares com políticos já eleitos. Com isso, os senadores acabam herdando o capital político da família e se elegem apoiados pelo sobrenome.
Germano Lúcio destaca que o apoio a parentes não inviabiliza o surgimento de novos candidatos.
“Isso não impede que outras pessoas que não tenham família política tenham acesso, é uma maneira de uma família manter os espaços. A eleição municipal deste ano é a pavimentação da eleição estadual de 2026, se você tem um deputado com parentes acessando cargos no executivo municipal ele está fazendo sua base para 2026, não significa dizer que são apenas parentes. Isso não é uma coisa de hoje, é histórico e existe em todas as regiões do Brasil”, concluiu.
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