Um levantamento realizado pelo Ministério de Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), por meio do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE) revelou que, no Piauí, 112 menores infratores estão em unidades socioeducativas para ressocialização. Destes, 83% são negros ou pardos e 17% são brancos. Quase a totalidade são de meninos (109, sendo apenas três meninas).
Os adolescentes estão distribuídos em 12 unidades socioeducacionais pelo Estado, o que representa 2,6% das unidades do país. No Brasil, a coleta de dados de 2023 mostrou que as unidades contam com 11.556 adolescentes no sistema socioeducativo. No número nacional, é verificado que a presença de negros e pardos é maior em relação aos brancos.
Para a professora Raquel Costa, Doutora em História Social e Coordenadora do Neabi, o Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Afro-Brasileiros e Indígenas, o número é um reflexo do racismo estrutural, que perdura desde escravidão, passando pela libertação dos escravos e até a sociedade atual.
“Já existem estudos que nos mostram que os jovens negros são alvo do policiamento ostensivo e das formas mais violentas de ação policial. Por isso os dados mostram a maioria de jovens cumprindo medidas socioeducativas. Mas também se a gente for pensar na população carcerária, os jovens representam 54,8% desse público e da população carcerária como um todo, a população negra é a maioria”, relatou Raquel Costa.
Algo que, na avaliação da professora e pesquisadora, é uma construção histórica. “A pessoa negra é perseguida, ela é esse alvo de policiamento, de vigilância, de suspeita. Isso aconteceu desde antes da libertação da população negra no Brasil. Os homens e mulheres, escravizados e escravizadas, também eram alvo do aparato policial no século XIX. E, após a emancipação os jovens, os homens e mulheres negras continuam sendo alvo desse aparato policial, mas também de todo esse racismo estrutural que está aí representado nas instituições” complementa.
O contexto desfavorável aos negros e pardos requer, segundo a Doutora em História Social, o reconhecimento do racismo como um problema de todos. “Tudo isso é consequência do racismo que existe na sociedade brasileira e que montou essa sociedade e que inclusive é fundamental para o funcionamento dessa sociedade”.
“Então, é necessário inicialmente várias políticas públicas, entre elas pensando aqui a questão da educação, uma educação antirracista, um letramento racial, mas que também leve a ações antirracista e ao reconhecimento de um privilégio da branquitude”, finalizou.
Sobre a pesquisa
Após seis anos, o MDHC, retomou o processo de coleta, análise e publicização dos dados nacionais relativos à Política Nacional de Atendimento Socioeducativo no país. O Levantamento Nacional de dados do SINASE 2023 traz dados referentes ao primeiro semestre do ano deste ano com informações de adolescentes e jovens em cumprimento de medidas socioeducativas de restrição e privação de liberdade em todas as unidades federativas.
No Brasil, a Política Nacional de Atendimento Socioeducativo para adolescentes foi inserida no Sistema de Justiça Juvenil e tem bases firmadas na Constituição Federal (Brasil, 1988) e no Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA (Brasil, 1990). As diretrizes estão também na Doutrina da Proteção Integral e na mudança paradigmática no tocante à atenção e aos direitos de crianças e adolescentes.
Foi especialmente a partir do artigo 227 da Constituição Federal que crianças e adolescentes passaram a ser reconhecidos como sujeitos de direitos, em situação peculiar de desenvolvimento e com prioridade absoluta.