No mundo repleto de crenças e práticas espirituais, um dos temas mais intrigantes é o fenômeno das possessões e exorcismos. As narrativas sobre pessoas supostamente possuídas por entidades malignas e os rituais realizados para libertá-las têm capturado a imaginação das pessoas por gerações. Nesta matéria, vamos explorar esse lado misterioso e conversar com o Pe. Nilton, uma figura conhecida em Teresina e região, por ter uma bagagem virtuosa sobre o assunto.
Possessões, em muitas culturas e religiões, são consideradas como a influência ou controle de uma entidade espiritual, frequentemente malévola, sobre o corpo e a mente de um indivíduo. Embora a ciência moderna não possa confirmar a existência dessas entidades, as histórias e relatos ao longo da história demonstram uma crença profundamente arraigada no fenômeno.
O exorcismo é o processo pelo qual um indivíduo que acredita estar possuído é submetido a um ritual religioso para expulsar a entidade maligna. Esses rituais variam de acordo com a religião e a cultura, mas muitas vezes envolvem orações, símbolos sagrados e gestos ritualísticos.
Muitas dessas pessoas que estão em processo de possessão apresentam, em sua grande maioria, comportamento adverso ao que é habitual. São gritos horripilantes, mudança na cor dos olhos, movimentações estranhas do corpo e, por incrível que possa parecer, levitação de corpos e/ou objetos. São fatos incomuns para a realidade humana, onde nem a ciência consegue explicar o que de fato acontece com o afetado por essas entidades.
Em entrevista exclusiva ao O Dia, o Pe. Nilton Pereira, administrador eclesiástico da Paróquia São Cristóvão, em Teresina, compartilhou suas experiências sobre o assunto. O sacerdote é conhecido por possuir uma vasta experiência em conduzir exorcismos. Ele afirma que não é o padre exorcista da arquidiocese, pois é necessário uma autorização da própria igreja católica para que o sacerdote seja denominado como “exorcista oficial” daquela região, mas que aprendeu com o tempo como realizar os rituais que prometem trazer a paz ao atribulados por alguma entidade.
“Se perguntarem para mim: ‘você estudou o que sobre exorcismo?’ Eu vou dizer que nada. O que eu sei sobre exorcismo, tanto aqui em Teresina como na Espanha, foi algo que eu aprendi por Deus e ninguém me ensinou sobre essa condução. Muitas pessoas foram libertadas dessas entidades. É uma coisa muito séria. A responsabilidade para um padre fazer um exorcismo é muito grande”, disse.
Segundo Nilton Pereira, cerca de 98% dos casos são tratados como casos psicológicos, e em apenas 2% desses são realmente casos de possessões demoníacas. Pereira relata que todos os sacerdotes são aptos a realizarem exorcismos, mas que nem todos os colegas eclesiásticos realizam tal ato por não se sentirem seguros de si para darem continuidade no ritual.
“Primeiro você tem que ter o jejum e a confissão, pois ela é muito importante à medida que todos os pecados perdoados na confissão, Satanás não revela. Se por acaso você se confessou e não revelou só um, ele vai lá e revela na sua cara. Ou você fala com autoridade ou ele tem autoridade sobre você”, disse.
Sinais característicos de possessão
Em 20 anos de vida sacerdotal, o pároco contou que já conseguiu exorcizar cerca de dez casos de possessão. Segundo Pereira, alguns indícios podem afirmar, ou não, se uma pessoa está possuída por uma entidade, seja ela maligna ou benigna.
Entretanto, o sacerdote informou que nem todos os casos podem ser tratados como atos que irão demandar de rituais para expulsar demônios. Primeiramente, ele ressalta a necessidade da pessoa atribulada procurar ajuda médica e, esgotando-se os recursos para reverter a situação, o representante religioso poderá realizar o ritual de exorcismo.
“A primeira coisa que eu busco saber é um diagnóstico psiquiátrico, pois danos psicológicos e possessões se confundem muito. A possessão existe porque um dos objetivos da existência da igreja é o combate do mal. Se falamos que o diabo não existe estamos dizendo que a igreja também não existe”, afirmou o padre.
Confira alguns dos principais sinais de possessão:
1- Mudanças repentinas de comportamento e personalidade;
2- Desprezo e aversão a objetos religiosos;
3- Mutilação do próprio corpo;
4- Mudança nas cor dos olhos e no formato da íris;
5- Mudanças de temperatura corporal e etc.
Caminhos do exorcismo
Água benta - De acordo com a religião católica, a água benta é utilizada como importante meio divino para santificar e livrar os fiéis das investidas do demônio. É possível conseguir o material com o próprio padre da igreja, principalmente durante as celebrações e ritos católicos, onde há momentos de aspersão da água benta nos religiosos.
Crucifixo - O objeto é tido como um símbolo de veneração, que foi iniciado pelos cristão durante o período após a crucificação de Jesus Cristo. Além disso, o objeto é mais que um símbolo para o cristianismo, ele é a representação do próprio Jesus no local onde foi morto para poder salvar todos os seres humanos.
Sal grosso - Consciente da incorruptibilidade que o sal pode dar para a conservação dos alimentos, a liturgia cristã usa-o como elemento ritual de purificação e, de forma simbólica, para indicar a pureza moral, a sabedoria espiritual, que um batizado em Cristo deve conservar.
Cor roxa - Na igreja católica a cor roxa simboliza a preparação, penitência ou conversão. A cor é utilizada principalmente em atos fúnebres e onde há o pesar por momento mais reclusos na igreja.
Óleo bento exorcizado - Utilizado com fé, o óleo permite enfraquecer o poder dos demônios com seus ataques e os fantasmas que suscitam. O objeto também permite que o ser humano recupere a saúde da alma e do corpo. Por fim, o óleo permite libertar o corpo do malefício.
Ritual do exorcismo - De acordo com o Pe. Nilton o rito ficou por anos esquecido pela igreja católica. O livro contém diversas orações e um passo a passo ao sacerdote para que o auxiliem no processo de exorcismo de demônios.
São Miguel Arcanjo - O santo é tido como designado pela corte celeste a fazer a expulsão de demônios. Conforme o catolicismo, São Miguel Arcanjo é o anjo designado por Deus para administrar os ares e o santo que auxilia nos momentos de exorcismo.
Contaminação espiritual
Na entrevista ao O Dia, o sacerdote Nilton Pereira destacou que há diversos casos de pessoas que estavam sendo contaminadas de forma espiritual por entidades malignas, e não propriamente dito possuídas por espíritos. Conforme as informações, há pessoas que mesmo com comportamentos tidos como benéficos no mundo, podem também serem suscetíveis a algum tipo de contaminação.
“Hoje você pode se contaminar espiritualmente em qualquer lugar. Até para lutar contra o demônio tem que ter cuidado, pois ele virou deus em algumas religiões. Mas pessoas que falam de forma comum, pessoas que são puritanas e de repente é só palavrão”, disse.
Para ele, há diversas formas de sermos afetados e, assim, sermos conduzidos a realizar coisas inexplicáveis para a ciência. Mudanças repentinas do humor, xingamentos excessivos e agressão gratuita também são uns dos exemplos que podem ser configurados como contaminação espiritual.
A contaminação espiritual seria, segundo ele, o estado corrompido da verdade que temos sobre Deus e seus mistérios e, dessa forma, nos desviarmos de nossos princípios e valores pessoais. Ele citou, ainda, atitudes como se desvincular da igreja, procurar religiões ocultas e não pregar o chamado Evangelho, que podem ser atitudes que ajudem na contaminação espiritual.
Sofrimento e traumas: uma conexão para o demônio
Padre Nilton citou que já foi procurado por diversas vezes para que pudesse ajudar os fiéis na busca de Deus e na paz interior. Para ele, um dos casos mais emblemáticos ocorreu durante um atendimento em sua própria sala.
“Certa vez eu estava atendendo aqui na igreja, como atendo todos os dias, uma menina mansa e humilde, e em dado momento eu trouxe o crucifixo para perto de mim, involuntariamente, a menina pulou para trás da cadeira. Foi um estado de processo de possessão mais horrível, demorado e assustador que eu consegui exorcizar”, ressaltou.
Ele não entrou em detalhes de como foi o processo litúrgico, mas que a maioria dos atendimentos que presta para a comunidade são de pessoas que estão passando por momentos de tribulações, sofrimentos e demais traumas cotidianos.
“Não estamos mais usando nossa fé em sua integridade. Jesus diz que todo batizado pode expulsar demônios, mas por que não fazemos isso? Não estamos mais tendo fé na íntegra, e outras pessoas banalizam o diabo”, relatou.
O que fazer em caso de possessões
O sacerdote frisou que é necessário cautela ao abordar sobre supostos casos de possessão. Ele ressaltou que a igreja católica possui elementos que auxiliam na rápida ação do sacerdote para trazer a paz de volta à pessoa que está passando pela dificuldade.
“A igreja nos dá elementos. A primeira coisa é que o demônio não toca no padre. Tem que usar o sacramentário, não suportam água benta, odeiam crucifixo, se desesperam com o óleo bento e dois nomes que você chamar eles enlouquecem, que são Nossa Senhora e São Miguel Arcanjo”, pontuou.
Por fim, o padre afirmou que para ser dado como encerrado o ritual de exorcismo, é necessário que a vítima perturbada ‘beije’ a cruz e diga: “eu professo que Jesus Cristo é o Senhor”. Ele concluiu fazendo um apelo para que, caso você identifique uma pessoa em estado de possessão, chame o padre imediatamente e evite o toque físico.
“Eu oriento a família que não conte a ninguém, não fale isso para ninguém, não exponha seus filhos e não abra sua casa, pois é perigoso. Se tiver uma possessão não toque na pessoa. Deixe o padre ou o pastor vir para fazer o exorcismo”, explicou.
O fenômeno das possessões e exorcismos continua a ser uma área de intensa crença e debate. Enquanto a ciência busca explicações racionais, muitos ainda encontram conforto e significado nas práticas espirituais e religiosas que envolvem esses conceitos. Independentemente das crenças individuais, o tema permanece como um reflexo da complexa interação entre o mundo material e o espiritual.
Enquanto o mistério em torno desses fenômenos persistir, também permanecerá a busca por compreensão e esclarecimento.
Padre afirma que Teresina é a cidade mais “carregada” do Brasil
Segundo o padre Nilton Pereira, há algo de estranho com Teresina, como uma energia que deixa a cidade mais "carregada". Essa energia, de acordo com ele, poderia ter alguma influência também sobre as altas taxas de suicídio na capital. Contudo, vale ressaltar, que para a OMS, praticamente 100% dos casos de suicídio há uma relação com doenças mentais, especialmente aquelas não diagnosticadas ou tratadas de maneira incorreta.
"Tem algo muito estranho com Teresina. Eu sempre disse que aqui nessa cidade tem uma energia que não é boa. É a mesma sensação que eu tive quando eu estava em Madri (Espanha). Você já reparou que aqui sempre acontece algo de muito grave? Suicídio, por exemplo. Não é normal para uma cidade ter altas taxas de suicídio", afirmou o padre.
Com passagens em Teresina e na Espanha, o pároco afirmou que nunca foi ensinado a conduzir tais rituais, mas frisou que é necessário cautela ao abordar sobre supostos casos de possessão.