Em seu primeiro pronunciamento após a confirmação do impeachment pelo Senado Federal, por 61 votos favoráveis e 20 contrários, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) afirmou que a Constituição Federal foi rasgada nesta quarta-feira por políticos que querem "escapar do braço da Justiça", e que sobem ao poder aliados aos "derrotados de 2014", numa clara referência aos peemedebistas investigados na Operação Lava Jato e aos tucanos, que perderam o pleito de 2014.
Cercada de aliados, Dilma Rousseff fez primeiro discurso após ser destituída ainda na tarde desta quarta-feira (Foto: Roberto Stuckert Filho)
"Não ascendem ao Governo pelo voto direto, como eu e Lula fizemos, em 2002, 2006, 2010 e 2014. Apropriam-se do poder por meio de um golpe de Estado. É o segundo golpe de Estado que enfrento na vida. O primeiro, o golpe militar, apoiado na truculência das armas, da repressão e da tortura, me atingiu quando eu era uma jovem militante. O segundo, o golpe parlamentar, desfechado hoje por meio de uma farsa jurídica, me depôs do cargo para o qual fui eleita pelo povo", afirmou Dilma.
A ex-presidente afirmou que a votação do impeachment realizada nesta quarta-feira, 31 de agosto, foi uma "inequívoca eleição indireta, em que 61 senadores substituíram a vontade expressa de 54,5 milhões de votos. É uma fraude contra a qual ainda vamos recorrer em todas as instâncias possíveis", afirmou.
Dilma Rousseff também disse lamentar que a recente investida contra a corrupção no país, observada nos últimos anos, tenha propiciado mecanismos para que justamente os corruptos tomassem o poder.
"Causa espanto que a maior ação contra a corrupção da nossa história, propiciada por ações desenvolvidas e leis aprovadas e sancionadas a partir de 2003, e aprofundadas em meu governo, leve justamente ao poder um grupo de corruptos investigados", acrescentou a ex-presidente.
Dilma também disse que os personagens políticos que trabalharam pela sua destituição vão agora "colocar as instituições do Estado a serviço do mais radical liberalismo econômico e do retrocesso social". E ainda criticou a imprensa que, segundo ela, deu apoio ao processo de impedimento. "O projeto nacional progressista, inclusivo e democrático que represento está sendo interrompido por uma poderosa força conservadora e reacionária, com o apoio de uma imprensa facciosa", complementou.
Ao final do seu discurso, os apoiadores de Dilma Rousseff entoaram gritos de "Fora, Temer!" no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência da República, onde a petista permaneceu durante toda a tramitação do processo de impeachment no Congresso Nacional, e que agora passará a ser ocupado pelo presidente Michel Temer e sua família.
"É uma guerreira, que a vida inteira lutou pela democracia, na Ditadura e agora", afirmou o ex-ministro José Eduardo Cardozo, que atuou como advogado de Dilma no processo de impeachment.