Com uma impopularidade histórica e um esvaziamento do apoio congressual, o mandato de Michel Temer apresenta os primeiros sinais de um desfecho prematuro.
A quase seis meses da passagem da faixa presidencial, o Palácio do Planalto desistiu de propostas antes prioritárias, não consegue evitar que medidas provisórias caduquem, passou a ser menos frequentado por aliados e corre o risco de perder funcionários comissionados.
A possibilidade do governo acabar antes do fim era o principal receio de auxiliares presidenciais que defendiam que o presidente mantivesse o discurso de candidato à reeleição até julho, postergando o processo de abandono de seu mandato por políticos e empresários.
Em conversas reservadas, relatadas à reportagem, o presidente foi convencido de que dificilmente conseguirá emplacar até o final do ano propostas que já não estejam no Congresso e reconhece a dificuldade de fazer o seu sucessor na eleição deste ano.
O principal receio dele, segundo parlamentares governistas, é de que o próximo presidente revogue as duas medidas que ele considera os principais legados de seu mandato: o teto de gastos e a reforma trabalhista.
Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil
Em um governo sem capital político, o projeto de simplificação tributária, por exemplo, deve ficar apenas para a próxima gestão. Prometida há mais de um ano, a iniciativa segue em fase de formulação e não tem expectativa de envio ao Poder Legislativo.
O caminho deve ser o mesmo da reforma previdenciária, que, após não ter respaldo mínimo para ser aprovada, foi deixada de lado diante da intervenção federal no Rio de Janeiro. A sua retomada após a eleição presidencial é considerada pouco provável inclusive por partidos governistas.
Em discurso, o presidente reconheceu que a regulamentação do código de mineração, assinada na terça (12), foi uma espécie de "fecho" das reformas de seu mandato."Eu quero dizer que é um quase um fecho, digamos assim, das grandes reformas que fizemos", disse.
A mudança nas regras do setor de saneamento básico também não saiu da fase de análise. Na segunda quinzena de julho, o Congresso Nacional entrará em recesso parlamentar e, com o processo eleitoral, não deve ter quórum para votações até o final de outubro.
Com uma impopularidade de 82%, segundo o Datafolha, o presidente tem enfrentado dificuldades até mesmo em não deixar que medidas provisórias percam a validade. Nos últimos meses, não foram votados, por exemplo, ajuste na reforma trabalhista, privatização das distribuidoras elétricas e aumento na tributação de fundos exclusivos.
A romaria de deputados governistas ao gabinete presidencial, rotineira durante os dois primeiros anos de mandato, não é mais frequente. Em junho, o máximo que o presidente recebeu, durante um mesmo dia em audiências privadas, foi oito integrantes da base aliada. No final do ano passado, ele chegava a receber até 15 governistas em um mesmo dia.
Com a perspectiva de troca de governo, funcionários em cargos de confiança começaram a buscar emprego na iniciativa privada. Segundo a reportagem apurou, além de auxiliares palacianos, jornalistas e publicitários que trabalham em pastas ministeriais têm entrado em contato com assessorias de imprensa atrás de vaga de trabalho.
Na quarta-feira (13) ainda, o presidente da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), Benjamin Steinbruch, e o presidente licenciado do Sebrae (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), Guilherme Afif Domingos, deixaram o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o chamado "Conselhão".
Com o retrato de enfraquecimento, um assessor presidencial resume que, a partir de agora, só restou ao presidente levar a máquina pública "no piloto automático" para entregá-la em janeiro ao seu sucessor.