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"O cenário é de pessimismo pela má condução do prefeito e governador"

O DIA conversou com o presidente do Centro das Indústrias do Estado do Piauí (CIEP), Andrade Júnior. Na ocasião, ele avaliou os reflexos da pandemia no estado, falou das perspectivas de retomada e criticou o governo estadual e a Prefeitura de Teresina pela forma como vão conduzindo o diálogo com o setor produtivo. Andrade Júnior também defendeu que o setor já deveria ter voltado às atividades, elencou medidas que os empresários estão dispostos a tomarem para contribuir com a saúde dos trabalhadores das indústrias e avaliou o cenário econômico para o pós-pandemia. O empresário também citou as medidas que as próprias empresas tomaram em meio à crise.


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Quais os reflexos práticos da pandemia no setor industrial do Piauí? Há um balanço neste sentido? Já dá pra fazer essa avaliação?

Para o Piauí, especificamente, faltam estatísticas. Mas eu posso te falar que no âmbito da Confederação Nacional da Indústria, existe o chamado ICEI, índice de confiança do empresário industrial, e esse ICEI quando é medido de 50 para cima, mostra que o empresário está otimista. E de 50 para baixo, ele está pessimista. E o ICEI em janeiro estava em 63.4, o empresariado industrial estava muito animado com as perspectivas para o país para este ano, quando foi medido agora no início de maio, baixou e foi para 34.7. Imagine então o pessimismo demonstrado e levado pelo quê? Levado pela forma como está sendo conduzido a pandemia. Nós temos um problema, mas se o governo federal tivesse encabeçado o combate à doença, a gente não estava passando por tantos desencontros, e tanto o governo do Estado e a Prefeitura não tem um plano de retorno das atividades, eles ficam adiando, reimprimindo decreto, por enquanto vale até o dia 7, no dia 6 pode prorrogar até o dia 20, então não tem plano de volta. Nós apresentamos um plano de volta da indústria, mas o governo nega e manda respostas carimbadas e similares para todas as entidades que sugerem algo. E outro ponto importante é que no Brasil, em janeiro, as indústrias estavam com 70% em atividade quando comparado com sua capacidade operacional, hoje, estão com 49%. Mais da metade da indústria está parada. Então se você for para o Piauí, mesmo sem números oficiais, é possível observar que Teresina está com toda a indústria proibida de trabalhar. E o forte das atividades está em Teresina. Então o que é que está liberado: apenas a de alimentos. Então no Piauí é cerca de 80% paralisada. E com isso a maioria das indústrias do Piauí são pequenas, tem 30, 40 trabalhadores, algumas com 100, mas elas para poder honrar com seus compromissos ela precisa ter a renda do mês, o faturado dentro mês. E o que está acontecendo é que estamos com 60 dias de paralisação, que está levando ao desemprego. Estamos demitindo muito, a construção civil, que aqui no Piauí representa quase a metade da indústria no estado, ela tá demitindo muita gente. Assim como a indústria de transformação. Começamos a usar os benefícios do governo, a suspensão, não a diminuição de carga horária, porque se não estava trabalhando de jeito nenhum não tinha sentido, e o cenário que a gente vê é de pessimismo pela má condução tanto do prefeito quanto do governador.


Presidente do Centro das Indústrias do Estado do Piauí (CIEP), Andrade Júnior - Foto: Elias Fontinele/O Dia

O setor produtivo considera que já é possível retomar esses serviços? Como retomar sem deixar de lado os cuidados com a saúde?

Nesse nosso projeto de retorno das atividades, que nós consideramos que já poderia ter voltado, a paralisação foi importante durante duas semanas para dar aquele choque de realidade na população, todo mundo se proteger, usar máscaras, se higienizar, mas agora está sendo total despautério a continuidade disso, como consequência de manter essa paralisação das atividades produtivas no estado, é um grande erro equivoco e o tempo vai mostrar, só o tempo vai demonstrar o tamanho do equívoco. Então já dava pra ter voltado, sabemos a gravidade do problema, não estamos dizendo que o prefeito leva em conta a questão do bem e do mal, de que o empresário só pensa no lucro, isso não é verdade. Nosso projeto previa a gente retornar apenas um turno de trabalho, e com apenas metade do nosso contingente, e com adoção de todas as medidas de segurança, EPIs, distanciamento no chão da fábrica, as indústrias sendo obrigadas a garantir todo o material de higienização, inclusive, a gente liberando toda a fiscalização estadual e municipal para entrar nas fábricas a hora que quiserem, toda a atividade produtiva está preparada para voltar e produzir, porque entendemos que os efeitos dessa crise podem ser muito maiores se continuar todo mundo parado, um número maior que mortes, de fome, de insegurança. Não gosto de falar muito de saúde mas a gente tem que começar a ter uma convivência segura, para que se possa te r a chamada imunidade de rebanho. A gente só vai conseguir sair dessa pandemia se em torno de 60% da população já tiver sido contaminada. Se não há relações sociais, se todo mundo tá preso em suas casas, quando soltar aí vai haver um pico de novo? Nós queremos a volta gradativa, por atividade, responsável e segura. Essa é a nossa defesa.


O governo nega e manda respostas carimbadas e similares para todas as entidades que sugerem algo - Andrade Júnior


O senhor citou certa dificuldade de diálogo com os poderes públicos municipal e estadual. Até que ponto isso tem atrapalhado para que essa retomada gradativa ocorra?

O que acontece? Eles escutam e não levam nada adiante. É só pra dizer que escutou, mas nenhuma ideia do setor produtivo é levada para frente. A gente leva ao prefeito e ao governador, eles acham e continuam na ideia de ficarmos isolados e indefinitivamente, que o pior é essa palavra indefinitivamente. Eles não tem um plano, um projeto. O decreto do prefeito as atividades estão paralisadas até ulterior deliberação, então não tem data. E o governo do Estado passou para o dia 7, minha preocupação é chegar dia 6 e não acredito mais no que eles dizem. Eles estão usando o discurso de colocar a sociedade contra quem quer produzir. Quero dizer que nós estamos pensando sim e é lícito nosso discurso de defender sua empresa, não ilegal, nem imoral, defender a subsistência de sua empresa porque empresas de 20, 30 anos estão em perigo de ir a falência. E temos que defender também os empregos que geramos, que vão levar a comida para mesa de muita gente neste estado, então representamos 52 mil trabalhadores, é muita gente.


É o maior absurdo. O que o prefeito quer é que a gente banque uma estatística pra ele - Andrade Júnior


Sobre o decreto que obriga empresas a testarem profissionais, ele foi bastante questionado pelo setor produtivo, inclusive vocês acionaram a Justiça por entender que isso é responsabilidade do poder público. Como o senhor observa essa questão?

 Nós do Centro de Empresas Industriais do Piauí fomos o primeiro a entrar e esperamos o resultado para em estes dias. Entendemos que é outro equívoco  e desespero do prefeito, em que ele perdeu a razão, obrigar que nós apliquemos, imagina que estamos com 60 dias sem faturar, e ainda sermos obrigados a assumir esse custo de R$ 250 funcionário. Se eles dissessem, setor produtivo, vamos contribuir  para uma vacina, aí tudo bem, mas este teste pode ser feito hoje e dá negativo, e amanhã ser positivo, então é inócuo. Pode conversar com vários médicos. Esse é um absurdo. O que tem de ser observado são os sintomas, o trabalhador chegou e passa pelo termômetro infravermelho para ter sua temperatura medida, ele não está com tosse, nem com resfriado, para que fazer esse teste? Não tem sentido. É o maior absurdo. O que o prefeito quer é que a gente banque uma estatística pra ele. Aí ele vai dizer tantas pessoas estão contaminadas. Porque na verdade se o teste mostra três resultados: negativo, positivo ou se você já teve e está imune, então a pessoa pode dá negativo e o falso negativo e o falso positivo, porque não é preciso. A gente acha que tem muito mais eficácia controlar os sintomas, o funcionário entra e tem lá um enfermeiro, um técnico, que faça um teste. Se ele estiver com algum sintoma, que seja encaminhado. Isso sim tem lógica.


Foto: Elias Fontinele/O Dia

Muitos setores da sociedade discutem o pós-pandemia. Ou seja, como a sociedade vai se reconstruir economicamente e socialmente após superar essa pandemia. E no setor industrial, como vocês imaginam essa questão?

A gente está preocupado com este retorno, porque num primeiro momento as perspectivas de humor da sociedade e da população vai estar retraído, imagine se não for item essencial, alimentação, enfim, qualquer produto fora do essencial a gente imagina que vai ter um tempo para que o humor das pessoas voltem a consumir e comprar. Os efeitos não são bons, e quando a gente voltar, eu acredito que teremos vários meses para alcançar o mesmo nível de consumo.  Então vai ser muito danoso esses primeiros meses pós-pandemia. Vamos ter que estar com o espírito preparado para isso. Na área da construção do imóvel, por exemplo, com certeza todo mundo está adiando seus planos, temos pesquisas que mostram que mensalmente o desejo de compra dos imóveis está sendo adiado, e isso tem ido para outros setores que também que não são essenciais do ponto de vista da emergência. Com certeza esse consumo vai ser adiado também, isso é preocupante.

Qual o prognostico é possível fazer em caso da retomada dos serviços para as próximas semanas? Quando será essa recuperação?

A retomada será quando os dois governos decretarem. Estamos a mercê do desejo deles, já conversamos, mostramos, explicamos e agora esperamos, tem os comitês que os auxiliam, e a gente acredita que  a volta do comercio normal será apenas em seis meses, imaginamos que em meados de outubro é que a volte ter o cenário que estava em janeiro.