O Centro de Teresina reúne, em um só lugar, um complexo histórico e cultural que guarda a memória e a modernidade de uma cidade. Localizado na Praça Pedro II, esse espaço é composto pelo Teatro 4 de Setembro, pelo Club dos Diários e pela Central de Artesanato Mestre Dezinho. Agora, com a desapropriação do Cine Rex, em breve o prédio também será integrado a esse grande complexo, que está passando por um processo de revitalização.
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Em decreto publicado no dia 2 de agosto, o governador do Piauí, Rafael Fonteles (PT), declarou que o Cine Rex será desapropriado, devido sua utilidade pública. A responsabilidade técnica do imóvel será da Secretaria de Educação (Seduc), enquanto a Secretaria de Cultura do Estado (Secult) irá fiscalizar. Com a revitalização e reforma do primeiro cinema de rua da Capital, o Complexo da Praça Pedro II estará completo para ser visitado por turistas e teresinenses. As duas secretarias planejam a instalação de uma escola audiovisual.
“A proposta também é trazer o cinema público de volta para os teresinenses, popularizando o acesso de toda a população. O Cine Rex vai voltar à identidade original, que é ser um cinema de rua, trazendo os principais títulos do cinema e, assim, completar o que sempre estávamos tentando fazer, colocando a Praça Pedro II totalmente em uso, pois, além do Teatro 4 de Setembro, juntamente com o Clube dos Diários, que têm eventos todos os dias, ainda temos o Centro de Artesanato Mestre Dezinho, que tem movimentos diariamente”, comenta Ismael Júnior, coordenador de Patrimônio Histórico do Piauí da Secult.
O projeto de reforma e restauração do Cine Rex será iniciado ainda este ano, e, para isso, será feito um levantamento das necessidades do local, como a definição de salas e outros espaços que serão utilizados pela Escola de Audiovisual. Ainda em 2024, a Secult irá realizar ações que visam movimentar o centro de Teresina, especialmente as praças. O projeto terá início exatamente pela Praça Pedro II, já que se trata do maior complexo cultural da cidade, e a proposta é atrair tanto turistas como a própria população local para ocupar esses espaços.
“A Secult tem um projeto que deve ser feito ainda este ano, que é de movimento nas praças, e vai começar pela Praça Pedro II, pelo fato das casas de cultura estarem localizadas neste local. E, com o Cine Rex, teremos um complexo completo, seja por esses prédios já existentes, seja integrando com a Avenida Antonino Freire, uma das menores avenidas do mundo, e com a Igreja de São Benedito. Vamos nos inspirar no Centro Histórico de São Luís e colocar nesses locais feirinhas, com palcos para apresentações, e movimentar a praça aos finais de semana”, explicou Ismael Júnior sobre o projeto.
O coordenador de Patrimônio Histórico do Piauí da Secult reforça que a educação patrimonial precisa voltar suas atenções para o Centro da capital de Teresina e, para que isso aconteça, é necessário que a população esteja presente. Entretanto, só será possível se o poder público agir, oferecendo à sociedade possibilidades para que as pessoas visitem esses espaços.
“Uma das formas de tornar esse complexo mais visitado é por meio do transporte público, fazendo com que as pessoas cheguem ao centro de Teresina. O transporte está ausente, mas existem pontos importantes que permitiriam que as pessoas viessem, seja pelo metrô, ou descendo nas praças, como a Rio Branco e a Saraiva. Temos um patrimônio de prédios históricos do centro de Teresina, com terminais de ônibus próximos, só precisamos de mais investimento para melhorar a locomoção urbana e trazer a população de volta para cá”, complementou Ismael Júnior.
Restauração, um processo difícil
O icônico Cine Rex chama atenção por quem passa pela Praça Pedro II, Centro de Teresina. Com sua arquitetura Art Déco, estilo que teve grande influência no Brasil entre as décadas de 1930 a 1950, o prédio se destaca pela estrutura geométrica de linhas simples, sóbrias, proporcionais, mas que dão volume à edificação. Um estilo que representa glamour, progresso social e tecnológico.
Inaugurado em 25 de fevereiro de 1939, o Cine Rex possui mais de oito décadas de história. O local conta com duas salas de exibição e capacidade para 1.250 pessoas, sendo a principal, no térreo, com 800 lugares, e o segundo pavimento, com 450 lugares. Na fachada do Rex, os vitrais azuis dão cor ao monumento. O mármore italiano do hall destaca o bar feito em madeira mogno. Tanto imponência em meio a uma Teresina que ainda estava se desenvolvendo. E para marcar a inauguração do Cine Rex, foi exibido o filme "A Grande Valsa", consagrando o local como a primeira sala de projeção da cidade.
Somada às referências arquitetônicas, além de sua importância cultural para a cidade, foi dado início ao processo de tombamento do Cine Rex em meados de 1995, a pedido do próprio dono, David Cortellazzi. Devido ao seu valor histórico e ao patrimônio histórico e paisagístico, o prédio foi oficialmente tombado pela Fundação Cultural do Piauí (Fundac), atual Secretaria do Estado da Cultura (Secult), em 1997, e também pelo município. Em meados dos anos de 2005, tentou-se uma revitalização do Cine Rex, sendo transformado em Club Rex, onde funcionou uma boate. Mas o projeto durou pouco e, anos depois, fechou.
“O processo de tombamento do Cine Rex começou pela fachada, entretanto, todo bem protegido na esfera estadual tem um raio de proteção de 50 metros, fazendo com que toda a edificação seja protegida. Assim, qualquer alteração que precise ser feita necessita de análise, por conta da estrutura do que está lá dentro”, cita Ismael Júnior, coordenador de Patrimônio Histórico do Piauí da Secult.
Atualmente, o prédio está bastante deteriorado internamente e precisará passar por uma ampla reforma. Parte da cobertura desmoronou, o gesso do hall da entrada também está destruído, assim como as paredes, que acumulam mofo. Com a revitalização do Cine Rex, a proposta é restaurar esses elementos arquitetônicos e deixar a edificação o mais próximo de quando foi construída. “Não temos hoje grande parte dos elementos usados na época e, em algumas situações, não temos nem como puxar o traço, de tão deteriorado que está. Nesses casos, precisaremos fazer uma reforma realmente", ressalta Ismael Júnior.