O ex-deputado federal, ex-BBB e ativista dos direitos LGBTQIA, Jean Wyllys, fez sua primeira visita ao Piauí para lançar seu mais recente livro, intitulado "O que não se pode dizer - Experiências do Exílio", escrito em colaboração com a filósofa Marcia Tiburi. O evento aconteceu na quinta-feira (31), durante a abertura da II Feira do Livro da Diversidade, no Theatro 4 de Setembro.
O livro é uma compilação de cartas trocadas entre os dois autores, que foram obrigados a deixar o Brasil após as eleições de 2018, diante da ascensão de um governo de tendências fascistas e o crescimento alarmante dos discursos de ódio.
Em coletiva exclusiva, Jean Wyllys conta que o exílio era a única alternativa para preservar sua vida e lembra ainda o que aconteceu com a vereadora Marielle Franco, assassinada a tiros em 2018, vítima da rede de ódio do ex-governo.
Wyllys destacou ainda as dificuldades enfrentadas antes mesmo do exílio, incluindo ameaças e difamação. “Nós ficamos isolados antes mesmo da pandemia da covid-19. Vivíamos sobre ameaças de pessoas que nos difamaram e nos insultavam em todos os espaços. A Márcia Tiburi, por exemplo, chegou a ser desconvidada de uma série de eventos literários, porque havia ameaças de bomba, assassinatos e massacres nesses eventos”, comenta o escritor.
O livro também fala sobre o exílio contemporâneo e reflete as novas tecnologias e complexidades da sociedade atual. Além disso, para Jean Wyllys, as páginas da obra são documentos históricos que garantem que esses momentos vividos não sejam apagados ou caiam no esquecimento.
“É um livro aberto para falar sobre o que é o exílio hoje, na contemporaneidade. É para contar um pouco de nossas histórias e fazer um documento do que aconteceu no Brasil nos últimos anos. Nós precisamos deixar documentos, porque, senão, a história vai nos apagar, como apagou tantas outras pessoas. Esse livro é um documento contra o apagamento”, ressalta Jean Wyllys.
A narrativa da obra desafia a censura e busca dizer o que muitos consideram inexprimível, seguindo a máxima de Theodor Adorno de que "filosofia é dizer o que não se pode dizer". A própria capa do livro, com suas amarras simbólicas, destaca a importância de enfrentar silenciamentos e censura em todas as suas formas.
Assim, "O que não se pode dizer - Experiências do Exílio" é um testemunho de Wyllys e Tiburi em um momento sombrio da história brasileira, uma contribuição à memória coletiva e um convite para que todos reflitam sobre os desafios o poder da palavra em um mundo cada vez mais polarizado politicamente.