A suntuosidade e a imponência capturam o olhar. Para os teresinenses, é um ponto de referência espacial. Para a religião, um espaço sagrado de oração e acolhimento. E para a História, é a materialização do substantivo “apropriação”. A Igreja São Benedito completa em 2024, 150 anos. Sua pedra fundamental foi lançada em 13 de junho de 1874 e sua sagração se deu 12 anos depois, em 3 de junho de 1886.
Considerado um dos principais templos religiosos de Teresina, a São Benedito demorou mais de uma década para ser erguida porque os recursos usados na sua construção vinham da parcela mais desfavorecida na sociedade: a população negra. “Era uma igreja dos negros que se tornou um templo da alta sociedade”, é o que afirma o historiado Solimar Oliveira Lima.
A Igreja São Benedito é resultado do crescimento populacional e geográfico da capital piauiense. Esse crescimento de Teresina se deu a partir do chamado quadrilátero central formado pela Igreja Nossa Senhora do Amparo, pela Prefeitura, o Mercado Central e a Praça da Bandeira. Estas quatro construções representam, respectivamente, as partes constituintes da sociedade: a religião, o governo, a economia e o povo (materializado pela praça como local de encontro).
Teresina teve três movimentos de expansão territorial e populacional a partir das últimas décadas do século XIX: em direção à zona Sul, com a construção da Praça Saraiva até a altura da Avenida José dos Santos e Silva; em direção à zona Norte, onde ficava a Santa Casa de Misericórdia e onde se construiu o Cemitério São José; e em direção ao Rio Poti na zona Leste, que ficava mais afastada do Centro e que encontrou na construção da Igreja São Benedito um ponto de referência.
“Essa região ficava afastada do casco central inicial da cidade. Para se chegar lá, era preciso passar por um reduto tradicional de população negra, que era chamado de Rua dos Negros e fica ali próximo à Praça João Luís Ferreira. Onde hoje é o Centro, tudo era periferia. A São Benedito, então, vai ser erigida em um espaço fora desse centro, depois dessa área de concentração de população negra. E em torno dela vai se dar esse processo de expansão na primeira metade do século XX, se construindo essa direção para o Rio Poti e a zona Leste”, explica o historiador Solimar Oliveira.
O curioso, segundo ele, é que essa área no entorno da São Benedito passou a ser extremamente habitada a partir da construção da igreja. Mas quem ocupou este espaço não foi quem ergueu o templo, e sim a elite teresinense. Isso resultou na expulsão da população negra do local, inclusive da Rua dos Negros, para dar lugar à construção de casarões.
“Exemplos disso são os casarões na Avenida Frei Serafim. Não precisa nem ir muito longe. Temos ali o Palácio Episcopal bem ao lado da São Benedito que atesta isso. Então a movimentação de recursos para construção da igreja foi feita com a participação da população negra, escravos forros e libertos. A população negra participou ativamente desse processo, mas antes mesmo da inauguração dela já há um movimento pelos segmentos mais abastados, que começam a se apropriar do espaço e dar outra funcionalidade a ele”, explica Solimar Oliveira.
A construção da Igreja São Benedito foi finalizada mais de uma década depois do início de sua construção pelo missionário capuchinho, Frei Serafim de Catânia. Ele pertencia à ordem dos franciscanos e veio para Teresina em 10 de maio de 1873. Seu nome batiza a principal avenida de Teresina e que tem como ponto inicial justamente a Igreja São Benedito.
Sinos doados pelo Papa, portas tombadas e outras curiosidades sobre a Igreja São Benedito
A Igreja São Benedito foi construída em alvenaria, telhado de cana industrial cerâmico, possui forro abobadado e piso em lajota cerâmica. Suas torres se elevam a mais de 40 metros de altura e sua entrada é guardada pela estátua em tamanho natural de seu santo padroeiro.
Alguns fatores contribuíram para a demora na sua construção. A São Benedito foi erguida em um processo de mutirão. O material de construção empregado na sua edificação foi, a princípio, doado pela comunidade. Mas em 1875, o Piauí foi assolado por uma epidemia de varíola que provocou muitas mortes. Isso resultou na diminuição da mão de obra e da doação de materiais para a construção. A Igreja São Benedito foi inaugurada sem estar finalizada. Em 1886, Frei Serafim de Catânia decidiu sagrá-la. A data escolhida foi 3 de junho, quando se comemora a ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo no calendário religioso.
Ao longo dos anos, a São Benedito passou por muitas reformas. A igreja em si não é tombada, mas suas portas, sim. Entalhadas à mão pelo artífice piauiense Sebastião Mendes de Souza, as sete portas do templo haviam sido retiradas e levadas para o Palácio Episcopal, mas foram recolocadas na igreja em 1940.
A porta principal da São Benedito é feita de jacarandá e cedro com motivos de folhas e flores em alto relevo. As torres sineiras da igreja, entre as quais fica a estátua em tamanho real de São Benedito, foram doadas pelo Papa Pio XII. Elas são construídas em zinco.
São Benedito, santo que dá nome à igreja, nasceu na Sicília por volta de 1526, era filho de escravos e fazia parte de um convento franciscano de Palermo. Ele foi canonizado em 1807.