O volume de chuvas registrado em Teresina nos últimos dias tem causado uma série de transtornos
aos moradores da Capital. Preocupa também o fato de os rios que banham a cidade estarem subindo de nível. O Rio Poti, por exemplo, subiu seis metros nos últimos
dois dias, ultrapassando a cota de atenção para risco de inundação. Com a cheia,
muitas famílias moradoras de áreas de risco precisaram deixar suas casas, deixando
para trás móveis e outros objetos de valor.
Segundo a Defesa Civil Municipal de Teresina, 33 famílias foram removidas de áreas de risco nas zonas Sul e Sudeste na noite desta segunda-feira (07). Destas, 15 famílias moram na localidade Terra Prometida, região do bairro Cristo Rei, e outras 18 na curva São Paulo, que já possui um histórico de alagamentos. Ao todo, a capital piauiense possui 56 áreas. A grande maioria delas está localizada próximo aos rios, bueiros vivos, galerias e lagoas.
“A cota do rio estava em 2,30 m e subiu para 9,35 m. Foi um aumento que a gente não esperava. Sabíamos que ia chover, mas não esperávamos esse aumento. Nós corremos para retirar as famílias dessas áreas de risco e, graças a Deus, não houve nenhum acidente, apenas a perda de móveis e outros utensílios. Porque a prioridade é salvar primeiro as vidas”, destaca Marcos Rolf, gerente da Defesa Civil Municipal.
Marcos Rolf, gerente de Defesa Civil de Teresina - Foto: Maria Clara Estrêla/O Dia
Por ser represado pelo rio Parnaíba, o rio Poti é uma das preocupações da Defesa Civil Municipal. Com o alto volume de chuvas, o nível pode ser subir em poucas horas, inundando comunidades ribeirinhas. Por isso, a Defesa Civil Municipal alerta para que as famílias que moram às margens do Poti deixem os seus imóveis caso as chuvas se intensifiquem nas próximas horas.
“Ficamos com as equipes preparadas, inclusive com barcos para retirar essas famílias. A nossa preocupação é em divulgar para que as famílias saiam desses locais porque muitas vezes não dá tempo, porque quando o rio sobe é muito rápido. Ontem saímos da cota de atenção e rapidamente fomos para a cota de alerta. Quando o rio é represado, ele volta e causa a inundação”, explica.
A Defesa Civil Municipal orienta às famílias que vivem em áreas de riscos que diante das situações emergenciais, estas devem acionar o órgão por meio do número 153.
O nível do Rio Poti subiu nos últimos dias em Teresina - Foto: Maria Clara Estrêla/O Dia
Rio Poti sobe e invade casas na Curva São Paulo
Se a chuva é sinônimo de fartura para alguns, para outros, é sinônimo de medo. Os moradores da Curva São Paulo, na zona Sudeste de Teresina, convivem há anos com a apreensão quando o período chuvoso chega e traz consigo a cheia do Rio Poti. Ainda está viva na lembrança de quem vive no local a cheia de 2009, quando o rio subiu tanto que chegou a encobrir casas. Em 2022, o medo é que esse episódio se repita.
Com a chuva dos últimos dias em Teresina, o nível do Poti subiu consideravelmente a ponto da Defesa Civil remover famílias que se encontram em áreas de risco. Na Curva São Paulo, 18 delas tiveram que sair de suas casas na noite passada (08). Um dos que permaneceu na esperança de que o Poti recue um pouco foi o comerciante Gilmar Paiva. Dono de um quiosque às margens do rio, ele conta que já teve prejuízos em cheias anteriores, mas que tem procurado se antecipar nos cuidados este ano para evitar perdas.
Foto: Maria Clara Estrêla/O Dia
“Eu moro e trabalho aqui, então tenho muita coisa: tenho cama, tenho geladeira, tenho ponto de apoio de palha, minhas cadeiras, os brinquedos do meu ponto, minhas plantas, os freezers. Se a gente não se adiantar ao que vai acontecer, é prejuízo na certa. Mas é um fenômeno da natureza que a gente não pode ir contra. A Defesa Civil até alertou que a gente tinha que sair, preparamos as coisas, mas observando, vimo que a água está estabilizando”, relatou Gilmar.
E não é só a água que causa transtorno e medo aos moradores quando o Rio Poti sobe na Curva São Paulo. A cheia traz para superfície animais que até então ficavam submersos como as cobras, por exemplo. O músico José Adalberto Rodrigues conta que só no dia de ontem, os moradores mataram cinco cobras que apareceram com a subida da água.
“Essa parte que está coberta é toda seca e hoje parece um rio. A água tomou de conta e trouxe tudo quanto foi de coisa lá do fundo. Faz medo até andar pela beirada, porque a gente não vê o que tem debaixo d’água”, relata José Adalberto.
Foto: Maria Clara Estrêla/O Dia
Água invadiu casas e tornou ruas intrafegáveis na Vila Beira Rio
Ao lado da Curva São Paulo, pelo menos 70 famílias que vivem às margens do Rio Poti amargam prejuízos e transtornos. A água do rio subiu e tomou de conta de residências, deixou ruas intrafegáveis pela lama e ameaça a estrutura de barro de algumas construções. A situação vem se repetindo ano após anos, como conta o presidente da Associação de Moradores, Flávio Matias Leão.
Foto: Maria Clara Estrêla/O Dia
“Tem uns seis anos que todo ano é do mesmo jeito. Quando não alaga, a gente fica agradecido, mas ficamos o tempo todo com medo. Na minha casa já entrou água do rio duas vezes, não perdi nada porque tivemos ajuda da Defesa Civil para tirar tudo antes. Mas aqui tem casa condenada, que se a água demorar mais a abaixar, acaba com a estrutura todinha”, relata Flávio.
Ele pede mais atenção do poder público para a Vila Beira Rio e diz que a construção de casa mais bem estruturadas, pavimentação e obras de escoamento e saneamento já ajudariam bastante a amenizar o problema da cheia do Poti e a evitar que ele se repita ano a ano.